Na agradável ilha baiana de Comandatuba, em reunião do Oitavo Fórum Empresarial, o presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer (PMDB-SP), foi questionado pela indignada presidente de uma conhecida rede de magazines a respeito da forma inaceitável como se cuida do dinheiro público, em óbvia referência não apenas ao uso e abuso de passagens aéreas por parlamentares, parentes e adjacentes, mas a todo o recente desfile de desmandos perpetrados nas duas casas legislativas federais.
Os equívocos são 10, 12, 15 casos entre quase seiscentos parlamentares, não podem ser levados como regra, respondeu ele. Modesto na adjetivação e avaliação da quantidade de equivocados que tropeçam nas regras do bom manejo de verbas e recursos públicos, Temer se esqueceu de informar ao distinto público que ele também beneficiara parentes e terceiros com a cota de bilhetes que lhe cabe.
E prosseguiu, assegurando que estamos trabalhando, o crédito de passagens acabou de ser reduzido. Modestamente, faltou acrescentar, e esclarecer que as regras de uso dos bilhetes aéreos foram, na verdade, flexibilizadas, estendido o seu uso a praticamente qualquer pessoa, à escolha do detentor da cota.
Eis o logro nesta história retorcida de sofismas e conceitos adequados sempre e somente à conveniência de suas excelências: a cota de passagens é para o parlamentar, e não do parlamentar .
Mas tem sido tida e havida até como uma espécie de poupança, como o saldo não utilizado da cota do senador Jefferson Peres, no valor de R$ 118.651,20, que o Senado pagou à sua viúva, por decisão do então presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), da qual acabou se declarando arrependido, assumindo que cometera um erro. Pelo qual pagará, é claro, o sempre gentil contribuinte brasileiro.
Os congressistas federais dão expediente em Brasília, com moradia subsidiada pelos cofres públicos, mas, diferentemente dos demais mortais, funcionários de empresas privadas ou estatais, e dos militares, mantêm residência também em suas cidades de origem.
Segundo o site Contas Abertas, foram gastos R$ 84 milhões com os passeios aéreos de nossos deputados e senadores, só em 2008, dinheiro que daria para construir um bom hospital.
Quando um militar ou funcionário de empresa é transferido para outra cidade, muda-se junto toda a família. Nenhum militar servindo em outro município é agraciado com facilidades para visitas ao seu Estado de origem.
Alguém, lançando mão da maior boa vontade possível, acredita nessa história de que os deputados e os senadores voltam semanalmente aos seus Estados para manter contato com as bases?
Morassem com a família em Brasília, a cidade com melhor índice de qualidade de vida entre as capitais brasileiras, nossos parlamentares poderiam trabalhar, como o fazem seus eleitores e a maioria dos mortais, de segunda a sexta-feira, dispensando-se esse inútil e caríssimo tráfego aéreo parlamentar.
Luiz Leitão
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