Camaradas Ex-guerrilheiros e Ex-militantes das FARC-EP:

Camaradas Ex-guerrilheiros e Ex-militantes das FARC-EP:

Calorosa e fraterna saudação, acompanhada de um forte abraço solidário e os sinceros desejos de que se encontrem bem.

Me dirijo a vocês num momento bastante difícil e complexo da implementação dos Acordos de Havana, momento que requer de cada um de nós e do conjunto do partido uma análise objetiva e tranquila.

Não podemos dar espaço às vozes, anônimas ou não, que vaticinam o fim do processo de paz, elaborando teses apocalípticas, sem mostrar uma saída coerente, sem nos indicar um caminho certo a seguir.

Quando na X Conferência, todos, absolutamente todos, ratificamos com nosso voto o acordado em Havana, sabíamos que nos íamos a enfrentar forças de caráter fascista com muito poder e capacidade de manipulação, que fariam todo o possível por fazer fracassar o processo e impedir que a Colômbia e o mundo conhecessem a autêntica verdade do sucedido em Colômbia durante mais de 60 anos de confrontação interna.

Igualmente, na Décima Conferência, concluímos que este era o caminho mais acertado para dar continuidade aos sonhos dos marquetalianos, que iniciaram esta gesta há 55 anos. Que tudo ia depender de nós mesmos, de que soubéssemos apresentar estes Acordos ao povo colombiano e de que conseguiríamos que os fizessem seus e nos acompanhassem em sua defesa.

O sucedido nestes quase três anos desde sua firma nos dá a razão. Os inimigos da paz não cessaram em seus ataques ao processo e conseguiram, infelizmente, tornar-se governo nas últimas eleições. Isso lhes dá uma grande vantagem, que aproveitaram para insistir em "estraçalhar" os acordos.

Paralelamente, também há que dizer, a cada dia são mais e mais os colombianos que fazem seus os Acordos. Importantes setores da vida política, econômica e social do país se vinculam a sua defesa, entre eles os mais destacados dirigentes dos partidos tradicionais. É tanto assim que decidiram constituir um grande movimento que se faz chamar Defendamos A Paz [DLP], que cresce todos os dias, replicando capítulos do mesmo em vários estados, movimento ao qual pertencemos e que está permitindo coordenar a ação parlamentar, a ação solidária de denúncia e ações de massa, entre outras.

É neste contexto, de um forte pulso político, da luta entre os defensores e dos inimigos da paz, que se produz a trágica comédia da libertação e recaptura do camarada Santrich. Fato este de uma ignomínia sem limites, que buscava não somente exibir a ele como troféu de guerra como também nos humilhar a todos os farianos que, apesar das adversidades, seguimos consequentes na defesa do processo. Pretendem nos empurrar a adotar ações desesperadas, que uma vez materializadas lhes sejam mais que úteis para promover a estocada final ao processo.

No entanto, estão consignando o efeito contrário. Nos deram a oportunidade de demonstrar ante a Colômbia e ao mundo quais são as verdadeiras intenções daqueles que se encontram à frente do Governo e da Promotoria. O senhor Martínez aparentemente renuncia indignado ante uma decisão contrária a seus princípios, quando a verdade é que o faz ante a iminente obrigação de mostrar a cara ao país por seus cada vez mais visíveis vínculos com a corrupção. Até já se comenta que sua saída do país obedece a sua conversão em testemunha protegida contra a Odebrecht nos Estados Unidos.

A Colômbia e o mundo observam com interesse ao senador Álvaro Uribe Vélez, angustiado pelo desespero, pressionando a Duque para que decrete a comoção interna e acabe com a JEP, pois sente que se lhe vêm em cima passos de animal grande. A cada dia se acolhem a esta jurisdição mais militares e civis, com o pressuposto básico de contar toda a verdade sobre os fatos delituosos em que estiveram envolvidos. Simultaneamente avança o processo judicial contra ele na Corte Suprema, assim como o que pode fazê-lo perder sua investidura como congressista.

Ainda com o duro e indignante que tenha sido o sucedido com o camarada Santrich, há que valorizar a importância da onda de indignação despertada ao interior do país e em escala internacional. O que nos corresponde na hora é estimular e aproveitar ao máximo a crescente inconformidade com a arbitrariedade reinante, para encurralar de maneira definitiva aos inimigos da paz.

Nos encontramos num momento em que não podemos fraquejar. Nos corresponde, mais que nunca, fortalecer a unidade de nosso partido, como garantia da implementação do acordado. Não podemos vacilar, nem duvidar um instante, na importância do realizado até hoje. Se cometêssemos a imprudência de fazê-lo, unicamente conseguiríamos semear a desmoralização entre todos aqueles que nos estão acompanhando em defesa da paz. Hoje, mais que nunca, devemos estimar o valor da luta política e da atividade das massas.

Nos corresponde incentivar a iniciativa popular, as distintas expressões de luta e solidariedade, a denúncia com altivez, ativar todos os mecanismos possíveis que nos deem segurança coletiva e individual, nos vincular com as gentes e em linguagem simples lhes explicar a situação e o caminho a seguir: organização e luta de massas.

Paralelamente devemos bloquear a passagem às vozes que incitam a tomar caminhos aventureiros. Parece que alguns, por falta de vivê-lo, o ignoram, e que outros, por suas pressas, o esquecem, porém em nossa longa luta nos vimos envolvidos em situações muito mais difíceis, conseguindo sair adiante sempre com a força de nossa unidade.

Contamos com acompanhamentos nacionais e internacionais que nos indicam que devemos estar mais otimistas que nunca. Conseguimos tais acompanhamentos graças à seriedade de nosso compromisso e a nossa consequência ao respeitá-los. Não podemos lançá-los no lixo por decisões apressadas e irresponsáveis.

Pensemos por um momento em que, quando extraditaram a Simón Trinidad e a Sonia, por obra de montagens também, fora dos nossos foram muito pobres as mensagens de solidariedade e apoio. Hoje, frente ao caso Santrich, não somente se impediu a extradição pela sentença da sala de revisão da JEP como também se gerou uma campanha de denúncia e solidariedade frente a sua recaptura e tratos desumanos, não somente em Colômbia como também em muitos países do estrangeiro.

A luta será muito dura, porém não estamos sós nela. Enquanto não apareçam evidências irrefutáveis de alguma atividade ilícita, cedo ou tarde terão que colocá-lo em liberdade. Mais que nunca devemos confiar no que somos e representamos.

 

Um forte abraço, TIMO

Tradução > Joaquim Lisboa Neto

 

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey