O petróleo e o conflito colombiano

Militarização da Colômbia

O principal interesse de Washington, inter alia, nos Estados andinos são as fontes de energia que lá existem, e garantir os suprimentos de petróleo oriundos do Equador e da Colômbia, que é atualmente o terceiro maior exportador de petróleo para os Estados Unidos, entre os países da América Latina, abaixo apenas da Venezuela e do México. Cerca de onze das dezoito empresas, que extraem petróleo na Colômbia, são norte-americanas, cujos investimentos financiam a exploração de um terço do seu território, inclusive degradando o meio-ambiente. Novos investimentos são necessários para manter e aumentar as exportações de petróleo.

Trecho de um artigo escrito por Luiz Alberto Moniz Bandeira*

E a descoberta de novas reservas torna-se essencial para as exportações, o que implica a pesquisa e lavra do petróleo em outro terço do país, controlado ainda pelas Forças Armadas Revolucionarias da Colômbia (FARC) e pelo Exército de Libertação Nacional (ELN). Não foi por outra razão que o presidente Bill Clinton, em 2000, lançou o Plano Colômbia, prevendo investimentos de cerca de US$ 6 bilhões, dos quais os Estados Unidos participariam com US$ 1,3 bilhão para a compra de helicópteros e outros armamentos.

Os cinco oleodutos existentes na Colômbia, sobretudo o que transporta mais de 100.000 bpd do campo de Caño Limón, em Arauca, para o porto Coveñas, no Caribe, sofrem mais de uma centena de ataques e atos de sabotagem, por ano, perpetrados pelas das FARC e pelo ELN. Desde 1986, ocorreram mais de 900 incidentes causando perdas de mais de 2,5 milhões de barris de petróleo e, entre 1998 e 2008, as empresas estrangeiras e o governo da Colômbia tiveram prejuízos da ordem de US$ 1 bilhão em conseqüência dos ataques efetuados pelos guerrilheiros das FARC e do ELN. Esta, a razão pela qual entre 10% e 15% das tropas do Exército colombiano e dos assessores militares dos Estados Unidos estão mobilizados, ao longo dos cinco oleodutos e outras instalações, para proteger a infra-estrutura energética e as companhias estrangeiras de petróleo, entre as quais Occidental Petroleum Corp. (OXY), Royal Dutch/Shell e a BP-Amoco, que fazem doações ao Ministério das Finanças da Colômbia para a sua própria proteção.

O diário Los Angeles Times revelou que, em sete anos, desde o lançamento do Plano Colômbia, o Exército colombiano recebeu US$ 4,35 bilhões, para combater as guerrilhas, e os soldados e policiais cometeram crescente número de assassinatos, abusos de direitos humanos e, durante o período de cinco anos, que terminou em junho de 2006, o número de execuções extrajudiciais aumentou em mais de 50%, com relação ao período

anterior. http://www.espacoacademico.com.br/089/89bandeira.htm - _ftn39

Em 2009, a ajuda militar concedida pelos Estados Unidos à Colômbia, desde 2004, alcançará o montante de US$ 3,3 bilhões.

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A aplicação de tais recursos, votados pelo Congresso americano, visou a proteger os interesses econômicos dos Estados Unidos, na região, especialmente o oleoduto de Caño Limón, operado pela Occidental Petroleum e pela Royal Dutch/Shell, em Arauca, onde se concentra a maior parte dos assessores militares dos Estados Unidos e ocorrem as maiores violações de direitos

humanos. http://www.espacoacademico.com.br/089/89bandeira.htm - _ftn41


Embora a administração do presidente George W. Bush apresente o combate ao narcotráfico e ao terrorismo para justificar a concessão anual U$ 700 milhões à Colômbia, a maior parte como assistência militar, o principal objetivo é proteger os oleodutos, sobretudo o de Canon Limón, já explodido cerca de 79 vezes, a fim de assegurar os suprimentos futuros de petróleo aos Estados Unidos e inspirar confiança aos investidores estrangeiros.

E com o fechamento da Forward Operating Location (FOL), depois denominada Cooperative Security Location (CSL), i. e, a base militar instalada dos Estados Unidos em Manta, no Equador, previsto para 2009, devido à denúncia do contrato pelo presidente Rafael Correa, o U.S. Southern Command (USSOUTHCOM) passou a excogitar na sua transferência para a base aérea de Palanquero, em Puerto Salgar, 120 milhas ao norte de Bogotá. Esta base aérea, em Puerto Salgar, pode albergar mais de 2.000 homens, possui uma série de radares, além de cassinos, restaurantes, supermercados, hospital e teatro. E a pista do aeroporto, a mais longa da Colômbia, tem 3.500 metros de longitude, 600 metros maior que a de Manta, e permite a partida simultânea de até três aviões. Os Estados Unidos terão assim um ponto de apoio, no centro da Colômbia, ainda melhor que o de Manta, como Forward Operating Location.

Em 2004, com a Andean Counterdrug Initiative, o presidente George W. Bush expandiu o Plano Colômbia, como um dos aspectos da estratégia dos Estados Unidos para assegurar sua presença militar na América do Sul e, em particular, na

Amazônia. http://www.espacoacademico.com.br/089/89bandeira.htm - _ftn42

E o Congresso aprovou a duplicação do número de soldados estacionados na Colômbia, que subiu de 400 para 800, e o de contractors, mercenários (ex-militares) empregadospelas military companies, mediante asquais o Pentágono terceiriza as funções militares (outsourcing),

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aumentou de 400 para 600. Estes militares e mercenários americanos adestram e apóiam cerca de 17.000 soldados, que executaram o Plano Patriota, ampla ofensiva de contra-insurgência nas selvas no sul da Colômbia. Com razão, o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, em sua obra Desafios brasileiros na era dos gigantes, apontou "a crescente presença de assessores militares americanos e a venda de equipamentos sofisticados às Forças Armadas colombianas, pretensamente para apoiar os programas de erradicação das drogas, mas que podem ser, fácil e eventualmente, utilizados no combate às FARC e ao ELN", como um componente relativamente novo na questão de segurança da Amazônia.

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Com a assistência dos Estados Unidos, o Exército da Colômbia tornou-se o maior e o mais bem equipado, relativamente, da América do Sul. Com população de 44 milhões de habitantes, a Colômbia possui um contingente militar de cerca de 208.600 efetivos, enquanto o Brasil, com 8,5 milhões de quilômetros quadrados e mais de 190 milhões de habitantes, tem um contingente de somente 287.870, e a Argentina, com 40 milhões de habitantes e um território de 2,7 milhões de quilômetros quadrados, tem um efetivo de apenas 71.655. A Colômbia, com um PIB de $320.4 bilhões (2007 est.), de acordo com a paridade do poder de compra, destina 3,8% aos gastos militares, enquanto o Brasil, cujo PIB é de $1.838 trilhões (2007 est.), gasta apenas um 1,5%, a Argentina com um PIB de $523.7 bilhões (2007 est.), gasta apenas 1,1%. Em 2005, o Congresso estipulou para a região uma ajuda econômica de US$ 9,2 milhões e cerca de US$ 859,6 milhões para assistência militar.

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Luiz Alberto Moniz Bandeira

Cientista político, professor titular de história da política exterior do Brasil, na Universidade de Brasília (aposentado) e autor de mais de 20 obras, entre as quais Fórmula para o caos – A derrubada de Salvador Allende (1970-1973) e Formação do Império Americano (Da guerra contra a Espanha à guerra no Iraque), pela qual recebeu o Troféu Juca Pato, eleito pela União Brasileira de Escritores (UBE) Intelectual do Ano 2005

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Outra Colômbia é possível!!

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey