Campanha internacional pelo reconhecimento da beligerância na Colômbia Carta aberta do Comandante Raúl Reyes, Chefe da Comissão Internacional das FARC Fuerzas Armadas Revolucionárias de Colómbia
Carta aberta
Recebam, senhores representantes dos governos do mundo, uma saudação bolivariana das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia Exército do Povo.
Nesta ocasião nos dirigimos aos senhores, Presidentes, Primeiros-Ministros e Chefes de Estado, com a finalidade de convidá-los a contribuir com a construção da Paz com Justiça Social para a Colômbia através do reconhecimento do status de beligerância que nossa organização guerrilheira, as FARC-EP, foi conquistando através destes mais de quarenta anos de resistência e luta pelos direitos do povo colombiano.
Acreditamos, como revolucionários que somos, na possibilidade de encontrar uma saída política para esta guerra que dessangra a Colômbia. De nossa parte, tenham certeza disso, a mais absoluta disposição para o diálogo e o entendimento. Nossos questionamentos revolucionários nos indicam que só com a participação de todos os colombianos e todas as colombianas poderemos transformar nossa pátria dolorida em uma onde floresçam a convivência pacífica e a liberdade.
Nossa vocação de paz continua incólume, pois somos uma organização político-militar levantada em armas contra o despotismo dos que pensam que governar se reduz ao ignóbil ato de reprimir selvagemente as expressões de inconformidade que surgem, inevitavelmente, a partir da fome e da miséria impostas às maiorias populares. Somos povo em armas; somos o exército desse povo que, inspirado no exemplo do Libertador Simón Bolívar, se levantou contra a violenta classe dominante de nosso país em busca de melhoras profundas para a vida dos colombianos.
Mas nossa vontade de paz para a Colômbia tem topado, uma e outra vez, com o obstáculo de uma cúpula guerreirista enquistada no poder. Essa cúpula, apoiada financeira e militarmente pelos Estados Unidos, está encabeçada no dia de hoje pelo atual presidente Álvaro Uribe Vélez, que chegou, inclusive, ao extremo de legalizar os paramilitares impiedosos assassinos de milhares de colombianos para conservar o poder e os benefícios econômicos que este traz (incluindo, naturalmente, o negócio do narcotráfico). O chamado escândalo da narco-para-política está na ordem do dia em nosso país a tal grau que se pode ouvir um dos maiores assassinos de colombianos indefesos, o chefe paramilitar Salvatore Mancuso, reclamar privilégios por ter cometido suas atrocidades em defesa do Estado. E quem pode negar isso: o paramilitarismo e o narcotráfico estão nas entranhas do Establishment e são a essência mesma do atual governo.
Ministros, militares de alta patente, ativos e da reserva-, legisladores, empresários, pecuaristas, embaixadores, todos com as mãos manchadas de sangue inocente; todos cerrando fileiras em torno do enriquecimento pessoal e do poder, único horizonte de sua atividade política.
É necessário, hoje mais do que nunca, que os governos do mundo, com base nos princípios do respeito à autodeterminação e soberania nacional, assumam o assunto. Nós, homens e mulheres que fazemos parte das FARC-EP, aportamos diariamente todos os nossos esforços para conseguir a solução política deste conflito, da mesma forma que todos os colombianos que lutam sem descanso de todas as trincheiras da vida diária, pela paz com justiça social.
A participação da Comunidade Internacional na busca de uma paz verdadeira para a Colômbia uma paz apoiada, necessariamente, na justiça social deve ser, acreditamos, cada vez mais decidida e firme. Não podemos permitir que triunfe o unilateralismo do atual governo norte-americano. Não podemos permitir que em seu delírio imperial, George W. Bush e os senhores da guerra arrastem o mundo para uma crise mais profunda do que todas as que conhecemos na história da humanidade. Não podemos permitir, muito menos, que George W. Bush continue enviando apoio militar e financeiro ao governo de Uribe e aos paramilitares em nosso país. É necessário tomar medidas multilaterais para evitar que se repitam episódios vergonhosos para a humanidade: novos holocaustos cometidos contra os povos do mundo em nome da democracia ocidental.
Não há democracia onde há miséria, nem há paz onde há opressão. É agora que deve ser ouvida a voz dos povos; e a voz do povo colombiano é clara e firme: queremos paz com justiça social; não queremos mais guerra fratricida, não queremos que o imperialismo norte-americano decida o que só compete aos colombianos e colombianas decidir.
E graças ao apoio dos Estados Unidos é que hoje pode se manter em pé a política repressiva de Uribe chamada de Segurança Democrática. Sob o pretexto de que a democracia se encontra sob a ameaça do terrorismo na Colômbia, Uribe e seus achegados escondem a verdadeira dimensão do conflito. Talvez valesse a pena inverter a máxima dos propagandistas do regime uribista e assim teríamos uma explicação mais próxima para explicar os temores que levaram os que governam a se tornarem cada vez mais repressivos e sanguinários: é o terrorismo o que atualmente está ameaçado pela democracia. Do lado da democracia verdadeira estamos a insurreição armada, o movimento revolucionário e democrático que cresce e se fortalece sob resguardo da clandestinidade, assim como o movimento popular de massas; do lado do terrorismo estão os narco-paramilitares no poder, exercendo o Terrorismo de Estado e cobrando uma cota de sangue cada vez mais alto a nosso povo.
Por isso, senhores representantes dos governos do mundo, é que acreditamos que mais cedo ou mais tarde as coisas voltarão a ser chamadas por seu nome, e o insultante e absurdo adjetivo de terroristas com que hoje a Casa Branca e o governo de Uribe procuram nos manchar, será revertido, com toda justiça, contra os que hoje se amparam nisso para negar de maneira néscia e absurda a existência do conflito social e armado em nosso país. Nós somos uma organização político-militar levantada em armas contra a violência oficial e em busca de transformações sociais profundas que permitam o crescimento econômico, político e social de nosso povo, rumo à Nova Colômbia, à Pátria Grande e o Socialismo.
Esse caráter de força revolucionária que se perfila como opção de poder, quer dizer, de força beligerante, foi-nos reconhecido em mais de uma ocasião e pela via dos fatos por diferentes governos nacionais com os quais estabelecemos diálogos (os mais recentes durante o período de Andrés Pastrana, 1998-2002), assim como pelos governos dos países que desempenharam o papel de garantes ou facilitadores em tais processos. Em todo momento demonstramos cumprir de sobra com os requerimentos para que nos seja outorgado o status de Beligerância.
Somos um Exército Revolucionário com uma hierarquia de comandos estável e visível, com um projeto político revolucionário; erigimo-nos como opção de poder político e, sobretudo, temos propostas claras para empreender um processo de reconciliação entre os colombianos e reconstruir nossa pátria a partir da vontade popular.
Estamos seguros de que sua colaboração com a paz para a Colômbia será um gesto de dimensões históricas para a paz mundial.
Agradecemos de antemão sua atenção e esperamos ter exposto com clareza nossas idéias.
Recebam uma respeitosa saudação.
Atenciosamente,
Raúl Reyes
Chefe da Comissão Internacional
Montanhas da Colômbia, Setembro de 2007
Atenção: deixe sua assinatura de pessoa física ou entidade se está de acordo com os termos da Carta Aberta e quer contribuir para a Paz com Justiça Social para o povo colombiano.
Foto: Cmte. Raúl Reyes e Andrés Pastrana, ex-presidente da Colômbia
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