O presidente Francês, François Hollande, debutou no exercício de sua política externa para o Oriente Médio adotando o mesmo discurso do imperialismo. Ao abrir em Paris nesta sexta-feira (6) a conferência do grupo de países "Amigos do Povo Sírio", disse que a Síria se tornou uma "ameaça para a segurança internacional".
A denominação do grupo é um escárnio contra os princípios da autodeterminação das nações e povos e o conceito da solidariedade internacional, pois comprometido com os planos intervencionistas do imperialismo, o grupo é na verdade um inimigo da Síria.
Hollande aproveitou a ocasião para fazer uma provocação à Rússia, que se nega a participar da reunião.
"Quero dirigir-me aos que não estão aqui. Não é mais questionável que a crise síria se tornou uma ameaça para a paz e a segurança internacional".
Segundo o "socialista" Hollande, para superar a crise, o presidente sírio Bashar Al-Assad "deve partir e um governo de transição deve ser constituído", disse o presidente eleito pelo Partido Socialista Francês. O mesmo que propõem insistentemente o chefe da Cassa Branca, Barack Obama, e sua secretária de Estado, Hillary Clinton.
"Aos que afirmam que o regime de Bashar Al-Assad, apesar de ser detestável, pode permitir evitar o caos, afirmo que terão o regime mais detestável e o caos. E o caos ameaçará seus interesses", completou.
O presidente francês propôs aos países reunidos em Paris que assumam cinco compromissos, incluindo sanções à Síria, e afirmou que a conferência deve "estimular" o Conselho de Segurança da ONU a atuar para pressionar Damasco.
A conferência de "Amigos do Povo Sírio" reúne países árabes, países ocidentais e organizações da oposição síria.
Pouco antes da reunião, o chanceler francês, Laurent Fabius, afirmou que a questão do "exílio" de Assad está na mesa, mas considerou que o presidente sírio não pode ser recebido em um grande país, como Rússia, França ou Estados Unidos. "É um assunto a ser tratado", disse.
Na quinta-feira (5), o chanceler russo Serguei Lavrov confirmou que Moscou foi solicitada para oferecer asilo ao presidente sírio, mas rejeitou a proposta, que chamou de piada.
As palavras do presidente francês nada têm a ver com as promessas de engajamento com a paz mundial, o direito internacional e o multilateralismo, proferidas durante a campanha eleitoral.
O eleitorado francês derrotou o direitista Nicolas Sarkozy, mas, pelo que se vê, o novo governo está muito distante das posições de esquerda e muito afinado com o pensamento hegemônico no mundo de hoje - intervencionista, punitivo e ameaçador.
Como se observa, os círculos dominantes das potências imperialistas enviam mensagens de guerra, não de paz, e já não escondem os seus propósitos de interferir nos assuntos internos de países soberanos.
Com total desfaçatez, essas potências se julgam no direito decidir quem deve governar um país, que tipo de governo deve ser instaurado e até sobre onde deverá ser o "exílio" dos líderes que pretendem derrubar pela força.
Para isso, não se detêm diante de crimes. Foi com essa lógica que os países imperialistas derrubaram e assassinaram os ex-presidentes do Iraque e da Líbia, Saddam Hussein e Muamar Kadafi. Arvorando-se em gendarmes do mundo, bombardearam a antiga Iugoslávia e defenestraram do poder o seu líder Slobodan Milosevic.
A social-democracia tem sido cúmplice desses crimes e quando está no poder, como faz agora o presidente francês, é pressurosa na tomada de medidas contra governos que pagam o preço de serem soberanos e por apoiarem a resistência palestina e libanesa. É por isso que, na região do Oriente Médio, além da Síria, o alvo dos ataques é o Irã.
Essas práticas ameaçam todos os governos anti-imperialistas no mundo, o que deve servir de alerta para as forças progressistas latino-americanas. Há poucas semanas, ocorreu um golpe de Estado no Paraguai, derrubando o presidente legitima e democraticamente eleito, Fernando Lugo.
Chama a atenção que nos desdobramentos da crise no Paraguai, que extrapolou para o Mercosul, as forças imperialistas auxiliadas pela mídia monopolista, quase não falam do presidente deposto. Voltam suas baterias contra o líder revolucionário bolivariano, o presidente da Venezuela Hugo Chávez, acusando-o de conspirar por um golpe militar no país guarani.
Cada vez mais se torna premente a mobilização dos povos e sua unidade na luta em defesa da paz, da soberania, da autodeterminação na organização dos seus sistemas políticos. Fazer valer o direito internacional é uma tarefa das forças revolucionárias e anti-imperialistas, não de governos enganosos que se elegem com um discurso e depois da posse defraudam a vontade popular.
José Reinaldo Carvalho, com informações das agências
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