Brasil: em busca de uma liderança inconteste

Segundo(1) minha opinião muitos eleitores mantêm uma visão errônea com respeito a determinados governantes que ocuparam cargos no poder executivo e desempenharam-se de modo a satisfazer plenamente os anseios da aludida parcela de seus governados. Passam, assim, a serem tidos como mandatários perfeitos capazes de repetir com absoluta perfeição o tão admirado desempenho.(2)  

Iraci del Nero da Costa *

 

Nestas breves notas, sem colocar em dúvida as salutares intenções dos referidos governantes, procuro elencar algumas das principais causas de tal visão desacertada.

Penso haver dois elementos os quais, conjuntamente, embasam tal engano de grande número de integrantes da população, em geral, e do eleitorado, em particular. Consideremos, sem esquecer que atuam de maneira associada, cada um deles por sua vez.

O primeiro componente a ser contemplado é dado pelo próprio político em questão. Destarte, o eleitorado o tomaria de forma inteiramente abstrata, sem qualquer vínculo com as condições e com a realidade circundante. A capacidade de governar centraliza-se exclusivamente no governante abstraindo-se todo o restante; é ele tomado por sua vontade, por seus desejos e por sua capacidade absoluta de torná-los reais.(3) As circunstâncias não importam, pois prevalece única e exclusivamente a subjetividade superior e inabalável do mandante. Garante-se, assim, que a retomada do poder reproduzirá e ampliará indefinidamente, sem qualquer mazela ou limitação, suas conquistas passadas.

Correlatamente, e aqui vai o segundo componente a ser considerado, despreza-se tanto os condicionantes políticos como o contexto econômico nacional e, sobretudo internacional,(4) que imperavam quando da gestão na qual se deu a exuberante atuação que passou a ser vista como integralmente exemplar. O mando irrestrito admitido acima imporia, sem qualquer restrição, o comportamento político e econômico interno; já a capacidade de estabelecer alianças e influenciar vontades garantiria as ações dos agentes internacionais responsáveis pelas demais nações de sorte a serem alcançados os objetivos políticos externos almejados pelo mandatário brasileiro.(5) 

Como avançado, a resultante do desempenho conjugado dos dois pressupostos ora explicitados seria a obtenção de uma sucessão de mandatos satisfatórios em todas suas dimensões garantindo, assim, o êxito continuado do líder político admitido como ideal e insuperável ao qual estaria aberto o caminho para fazer seus sucessores ou para retomar o poder mesmo depois de encontrar-se dele desalojado. 

Embora com personalidades muito distintas, tanto Getúlio Vargas como Luiz Inácio da Silva, segundo imagino, poderiam ocupar tais papeis.

 

NOTAS

1 Para Nina, amiga inesquecível que já se foi.

2. Agradeço ao Prof. Julio Manuel Pires a leitura crítica deste texto.

3. A respeito de tais qualidades consideremos a inconteste capacidade criativa própria de Getúlio Vargas.

4. O início deste século propiciou ao Brasil um quadro econômico internacional altamente rentável: à elevação dos preços das commodities aliaram-se os altos ganhos proporcionados pela ampla expansão das compras efetuadas pela China.

5. Lembremos aqui o amplo apoio internacional emprestado a Luiz Inácio da Silva tanto por políticos como por intelectuais.

 

* Professor Universitário aposentado.

Foto: Por João Felipe C.S - Image:Brazil topo en.jpg, CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=1255597

 

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey