A gente costuma julgar nossos inimigos como se fossem umas antas, geralmente os tratamos por indigentes intelectuais. Entretanto, esses a quem assim classificamos são, em geral, apenas tentáculos do verdadeiro inimigo: aquele com quem nunca nos relacionamos diretamente ou mesmo indiretamente; alguns a gente conhece de "ouvi falar"; outros, nem isso. Portanto, invariavelmente centramos nosso fogo-fátuo (ou seria flato?) nos "tabelinhas", os pernas-de-pau que se sentem craques da pelota, os que recebem a bola cheia e repassam murcha.
por Fernando Soares Campos
O nosso verdadeiro inimigo é intelectualmente bem dotado, é culto, refinado, mas usa sua potencializada inteligência sob a influência de sentimentos mesquinhos, aplica sua cultura acadêmica e o refinamento de suas ideias na elaboração de planos para a implementação do mal, a fim de atender aos seus mais obscuros instintos. São, em alguns casos, líderes natos, mas se tronam artificiais pela demagogia, pela vaidade, pelo cinismo, pelo egocentrismo. Sofismam e procuram fazê-lo de forma criativa, suas argumentações são intrincadas de raciocínios capciosos, porém muito bem engendrados, em razão de suas mentes calculistas. Catequéticos, fazem escola, formam discípulos - canonizadores que endeusam o mentor, dão continuidade à sua obra; mas, apesar dos esforços, raros são os que alcançam o status de mestre.
Os sofistas do baixo escalão não são propriamente sofistas, são animais híbridos, "antagaios", cruzamento de anta com papagaio; não falam, palreiam, e o fazem "convictos" de que estão sendo autênticos. Quando citam seus mentores, o fazem apenas com o intuito de promoverem a si próprios, tentando exibir "erudição", mas fazendo interpretações enviesadas; pois, às vezes, esses "hermeneutas", mesmo diante de argumentações inconsistentes do mestre, acabam dando parecer ainda mais esdrúxulo.
As redações dos órgãos midiáticos de cunho empresarial estão aí mesmo para confirmar o que estou dizendo. Os jornalistas e colunistas da chamada grande imprensa leem as ordens do dia... quer dizer... os editoriais formulados pelos seus patrões, interpretam-nos a suas maneiras e, em muitos casos, reproduzem as ideias e intenções do chefe de forma ainda mais grave do que aquilo que foi determinado nas prescrições absurdas que lhes foram ditadas.
Assim, os "focas" oriundos das faculdades de Comunicação (e até mesmo as velhas raposas empíricas) tentam ser originais, querem aparentar independência. Muitas vezes dão palpites aos seus chefes, a fim de marcarem presença, distinguirem-se do todo, mas fazem isso fundamentados nas ideias originais da chefia, apenas reforçam suas fidelidades ao maquiavelismo da empresa. Nunca são autênticos. (Apesar de que, a meu ver, nesses casos, revelamos autenticidade apenas quando nos expressarmos de forma parafrástica, mas tentando oferecer uma nova visão do tema abordado, ou seja, criando paráfrases "autênticas", metáfrases que digam a mesma coisa do original, porém com objetividade e, se possível, com inteligibilidade, a mais abrangente possível.
O general Golbery do Couto e Silva, eminência parda dos governos da ditadura civil-militar que se instalou no Brasil em 1964, dizia que "o problema não é o general, mas, sim, o inspetor de quarteirão". Acho que, com isso, ele queria dizer que os "excessos" cometidos pelo regime deveriam ser imputados aos subordinados que não interpretavam corretamente as vozes de comando dos seus superiores. É uma forma de alguém se eximir de culpa, tirar o asterisco da reta, chamar os outros de analfabetos funcionais, "herança maldita dos velhos tempos" num país em que o povo ia pra frente... do pelotão de fuzilamento.
Mas as tropas de choque são formadas com buchas de canhão, fanáticos e inocentes úteis, todos instruídos e comandados por patrioteiros ou mercenários.
O Globo, onde o inspetor de quarteirão é mais agressivo que o general
O colunista de O Globo Merval Pereira resolveu dar uma de jornalista investigativo. Depois de exaustiva pesquisa no Google, engendrou uma teoria denunciando que o cabeleireiro da presidenta Dilma, Celso Kamura, teria sido pago com recursos desviados da compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. A manchete principal de O Globo na última sexta-feira chama para o pretenso artigo-reportagem do Merval: "Esquema da Petrobras pagou despesas pessoais de Dilma"
Acontece que Dilma Rousseff é uma pessoa muito organizada, guarda todos os comprovantes de suas despesas pessoais, portanto ela tem tudo para desmentir o factoide e, de quebra, mover ação judicial contra o Globo e seu capacho acadêmico (Merval, autor de dois livros insignificantes para a literatura brasileira, ocupa vaga na Academia Brasileira de Letras, uma recompensa pelos seus imprestáveis serviços ao jornalismo de esgoto praticado pelas Organizações Globo).
"Mais uma vez, há uma tentativa de atingir a honra da Presidenta com o objetivo de manipular a opinião pública para facilitar a tramitação do processo de impeachment. Diante da acusação de golpe recorrem às armas da mentira e da calúnia", diz nota divulgada pela assessoria de Dilma.
Leia a íntegra da nota sobre a manchete de O Globo:
A respeito da manchete do jornal O Globo desta sexta-feira, 3 de junho - "Esquema da Petrobras pagou despesas pessoais de Dilma" - a Assessoria de Imprensa da Presidenta Dilma Rousseff esclarece:
São completamente descabidas e sem fundamento as informações divulgadas pelo jornalista Merval Pereira. Jamais, em tempo algum, qualquer despesa pessoal da Presidenta Dilma Rousseff foi paga por esquemas ilícitos ou provenientes de corrupção.
Mais uma vez, há uma tentativa de atingir a honra da Presidenta com o objetivo de manipular a opinião pública para facilitar a tramitação do processo de impeachment. Diante da acusação de golpe recorrem às armas da mentira e da calúnia.
Vamos aos fatos.
A contratação do cabeleireiro Celso Kamura foi feita em 2010, quando o profissional passou a prestar serviços, mediante contrato com a produtora, para a campanha de eleição da Presidenta Dilma Rousseff. Isto ocorreu quatro anos após a operação de aquisição pela Petrobras de 50% das ações da Refinaria de Pasadena.
Em 2014, Celso Kamura foi contratado novamente, e de forma oficial e registrada, para a prestação dos mesmos serviços durante a campanha da reeleição.
Entre 2011 e 2015, por ocasião de pronunciamentos oficiais da Presidenta Dilma Rousseff, o profissional prestou os mesmos serviços, sendo pago pela produtora responsável.
Nesse período, Celso Kamura foi contratado pela própria Presidenta para serviços particulares, sendo remunerado pessoalmente por ela. Estão em poder da Presidenta os comprovantes de pagamento devido aos deslocamentos (São Paulo ou Rio de Janeiro para Brasília) e aos serviços prestados por Celso Kamura.
TODAS AS DESPESAS PESSOAIS DA SENHORA PRESIDENTA DA REPÚBLICA TÊM ORIGEM COMPROVADA.
Espanta que o jornal O Globo dê divulgação a informações duvidosas e mentirosas. A Assessoria de Imprensa da Presidenta sequer foi procurada.
Para finalizar, a Presidenta Dilma Rousseff anuncia que tomará as providências devidas na Justiça para reparar todas as acusações difamatórias e caluniosas que foram contra ela proferidas.
ASSESSORIA DE IMPRENSA
PRESIDENTA DILMA ROUSSEFF
Está no Houaiss e em tantos outros dicionários: "merdalha: gente ordinária, reles; escória, ralé". E o Merval não passa de um elemento ordinário entre os que fazem jornalismo de esgoto. E a presidenta Dilma não aceita essa merdalha.
Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoon
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