Homem mais forte do Irã elogia Lula por não se curvar ante a arrogância dos Estados Unidos

Após ter um encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Teerã, o líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, elogiou a atitude do Brasil por ter adotado posições independentes contra o que chamou de "políticas arrogantes" dos Estados Unidos.

Segundo a agência de notícias estatal iraniana IRNA, o aiatolá disse que o Irã "acolhe" a ampliação da cooperação mútua com o Brasil no nível internacional. O presidente brasileiro e o líder iraniano se encontraram em uma reunião que teve participação do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad.

Khamenei agradeceu a presença de Lula no Irã, mas não fez qualquer comentário sobre as negociações relativas ao programa nuclear iraniano. Lula foi à Teerã apresentar uma proposta do Brasil e da Turquia para evitar que o Irã sofra sanções do Conselho de Segurança da ONU, devido ao impasse provocado pelo seu controverso programa nuclear.

"O Brasil adotou posturas independentes ao negociar com as políticas arrogantes dos Estados Unidos nos últimos anos. A República Islâmica do Irã acolhe completamente a ampliação da cooperação mútua com o Brasil em níveis mutuais e internacionais”, disse o aiatolá após o encontro que teve com o presidente do Brasil.

Ao enfatizar que os Estados independentes devem cooperar entre si para mudar as "injustas equações" globais, o líder iraniano afirmou: "Nós acreditamos que os países que foram marginalizados ao longo dos últimos 200 anos devido às políticas ilógicas de potências agressivas podem ter um papel fundamental no desenvolvimento global”.

Segundo a agência estatal de notícias do Irã, o aiatolá destacou que o Brasil fez "grande progresso" nos últimos anos e que o país é o "maior e mais influente" da América Latina, e pediu a expansão das relações entre Brasil e Irã e uma reforma da ONU.

Ao comentar a "postura do Irã diante dos assuntos internacionais", Khamenei disse que "o Brasil acredita que é direito legítimo da nação iraniana e do seu governo de defender sua independência e desenvolvimento pleno".

O Conselho de Segurança da ONU pretende adotar novas sanções contra o Irã, já que alguns integrantes do Conselho, como os Estados Unidos, desconfiam das intenções do governo de Teerã quanto ao seu programa nuclear, o que é negado pelo governo iraniano, que insiste em sustentar que o programa tem fins pacíficos, e que o país não pretende desenvolver armas nucleares.

O Brasil e a Turquia elaboraram um plano que foi levado por Lula a Ahmadinejad. Entretanto, a caminho de Teerã, Lula fez escala em Moscou, e ouviu do presidente Dmitri Medvedev que a proposta do Brasil e da Turquia seria a última chance para se evitar sanções da ONU ao Irã e, na sua opinião, as probabilidades de se efetivar um acordo sobre o tema seriam de 30%.

A proposta turca e brasileira continua sendo o plano da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que prevê o enriquecimento do urânio iraniano em outro país em níveis que possibilitariam sua utilização para uso civil, não militar.

Durante o primeiro encontro que tiveram em Teerã, Ahmadinejad e Lula não falaram sobre a questão nuclear iraniana. Ahmadinejad, segundo o site da Presidência da República do Irã na Internet, "agradeceu ao presidente brasileiro seu apoio aos direitos da nação iraniana e suas posições para reformar a ordem mundial".

"A realidade é que alguns países que controlam os centros políticos, econômicos e midiáticos do mundo não querem que os outros países progridam. Juntos podemos mudar essas condições e proporcionar as transformações necessárias. Esta visita marca o início de uma cooperação entre duas grandes nações", disse o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad.

Por sua vez, o presidente Lula declarou que o "Brasil considera suas relações com o Irã estratégicas, já que os dois países podem atuar assim com mais força".

O conteúdo das conversas entre o presidente Lula com o aiatolá e com o presidente iraniano não foi informado aos jornalistas presentes à cobertura da visita do chefe do governo brasileiro a Teerã.

A Televisão estatal iraniana informou que o aiatolá Ali Khamenei denunciou os Estados Unidos pelo "barulho" feito a respeito da visita do presidente brasileiro ao Irã. "As potências dominantes, em particular os Estados Unidos, estão descontentes com o desenvolvimento das relações entre os países indepententes e influentes", disse o líder supremo do Irá, segundo a TV estatal.

O presidente brasileiro foi ao Irã com uma delegação de 300 pessoas, e as possibilidades de êxito da mediação de Lula quanto ao controverso programa nuclear do Irã são consideradas frágeis pelos Estados Unidos e Rússia.

Até o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, que estava associado à mediação brasileira, desistiu de viajar a Teerã alegando falta de propostas iranianas para uma solução do impasse sobre o programa nuclear.

O enriquecimento de urânio por parte do Irã está no centro do conflito com a comunidade internacional, que teme que Teerã esteja tentando obter a bomba atômica, o que é negado pelo governo do país.

As grandes potências propuseram ao Irã que enviasse 70%de seu urânio levemente enriquecido para transformá-lo em combustível altamente enriquecido que o país precisa para seu reator de pesquisas científicas.

Invocando um problema de "confiança", o Irã rejeitou a proposta e disse que prefere uma troca simultânea ou por etapas em pequenas quantidades, feita em seu território, o que foi rejeitado pelas grandes potências.

Frente a essa negativa, o Irã lançou em fevereiro a produção de urânio enriquecido a 20%, o que acelerou a mobilização ocidental para adotar novas sanções por parte do Conselho de Segurança da ONU.

O Irã afirmou que houve um acordo sobre a quantidade e o momento da troca de urânio, e se mostrou disposto a discutir o lugar onde a transação ocorreria, mas com garantias concretas. Assegurou também que receberá o combustível necessário para seu reator de pesquisa.

ANTONIO CARLOS LACERDA

PRAVDA Ru BRASIL

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey