Os 90 anos da greve de 1917

Por Gilberto Maringoni

Passou praticamente despercebida, no final de julho, a data que marca os 90 anos de uma das mobilizações sociais de maior envergadura da história do Brasil. Em 16 de julho de 1917, chegava ao fim, vitoriosa, em São Paulo, a maior greve operária até então realizada. O que existia antes eram manifestações localizadas de uma ou outra categoria, especialmente no Rio de Janeiro.


Iniciada a partir das mobilizações das tecelãs, em 10 de junho daquele ano, no cotonifício Crespi, no bairro da Moóca, a luta ganhou a adesão de outras categorias industriais, espalhou-se por diversas cidades do estado e teve repercussões em outras capitais do país. O cotonifício Crespi, na rua Taquari, deveria ser um museu dos trabalhadores. Hoje é mais uma unidade do supermercado Extra e por pouco não foi demolido. Quando a greve aconteceu, o Brasil era uma economia exportadora de produtos agrícolas para os países desenvolvidos e dependente do mercado externo. O centro da pauta de exportações era o café.


A deflagração da Primeira Guerra Mundial, na Europa (1914-1918), derrubou as exportações de café. As compras de matéria prima pelos países europeus despencaram. A economia entrou em crise.


Os anos de 1913 a 1915 foram de intensa agitação nos meios operários, em protestos contra o desemprego e a carestia. A situação piorou nos primeiros meses de 1917.


São Paulo, com 600 mil habitantes e quase 100 mil trabalhadores, era um barril de pólvora.


Uma série de paralisações e protestos localizados mostra que a insatisfação toma corpo. A greve se inicia no cotonifício Crespi. A mão de obra feminina, assim como a infantil, mais barata que a masculina, era incentivada por empresários. A seção das mulheres do cotonifício torna-se uma das mais mobilizadas.


Os operários se revoltam contra o prolongamento do serviço noturno e exigem 20% de aumento salarial. Ao longo de junho de 1917, o movimento se alastra por diversas empresas da capital, nos bairros do Brás e do Cambuci. As outras exigências são: jornada de oito horas, semana de cinco dias e meio e fim ao trabalho infantil.


Os anarquistas logo tomam a frente das mobilizações. O assassinato de um sapateiro espanhol, José Martinez, em 10 de julho, radicaliza ainda mais a tensão. Seu funeral atrai milhares de pessoas, na avenida Rangel Pestana.


Logo a paralisação se estende por 35 empresas, recebendo a adesão de mais de 20 mil operários. Com a paralisação dos condutores e dos funcionários da Light, os bondes deixam de circular. Nos três dias seguintes ao enterro, a greve é total. Há conflitos violentos com a polícia em diversos pontos da cidade.


A força do movimento leva ao recuo dos patrões. As leis regulamentando o serviço das mulheres e das crianças, até então desprezadas, passaram a ser cumpridas. Houve ligeira melhoria de salários e a jornada de 8 horas foi sendo concedida.


A greve acabou com uma grande vitória os trabalhadores.
A mobilização repercutiu em paralisações em Sorocaba, Santos e Campinas, chegando até o Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia Pernambuco e Rio Grande do Sul. No entanto, estas não encontraram o mesmo êxito obtido em São Paulo.


Hoje, quando os governos e diversos estados querem criminalizar os movimentos sociais e que o governo federal prepara uma nova lei de greve, é preciso lembrar bem o exemplo de nossos camaradas de 90 anos atrás.


Gilberto Maringoni é jornalista e membro do Diretótio Nacional do PSol

http://www.socialismo.org.br/portal/historia/149-artigo/802-os-90-anos-da-greve-de-1917

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