* Murilo Badaró Presidente da Academia Mineira de Letras
A denominada República Sindicalista, que povoou os sonhos de poder de Leonel Brizola, parece estar definitivamente instalada no governo Lula, com adornos e badulaques jamais imaginados pelo caudilho riograndense. Era o devaneio do caudilho gaúcho. As notícias de que o PT favoreceu a entrada de sindicalistas nos principais postos do governo, ladeado pelos seus assemelhados PC do B, PDT, PSB, PPS, em proporção menor que a sua, mostra bem a força que tal esquema adquiriu.
Cerca de 45 por cento dos cargos de alto comando dentro do governo estão nas mãos de sindicalistas. Poder-se-á falar na volta do peleguismo, aquela doença nascida no Governo Vargas e que se espalhou endemicamente pelo Brasil, agora apresentando sinais de revigoramento. Nascido no Brasil durante o Estado Novo, regime que perpassou os anos de 1930 a 1945, o peleguismo era parte da política nacionalista de Vargas para manter sob pressão empresas e grupamentos pouco sensíveis às reivindicações dos trabalhadores.
Foi criada a figura do pelego, dirigente de sindicato cuja missão era apresentar ao governo medidas em favor dos operários, devidamente sensibilizados para entrarem em clima de greve caso não fossem atendidas. Surgiu daí o termo peleguismo, hoje revigorado no Governo Lula, ele mesmo um sindicalista preparado pelo General Golbery para facilitar a desmobilização do governo militar e seu retorno à democracia gradual e segura, como apreciava dizer o Presidente Geisel. No advento do PT cresceram as centrais sindicais.
Irmãs xifópagas de inúmeras ONGs, que exercem no governo brasileiro estranha e poderosa influência espacialmente para obtenção de polpudas verbas federais, o esqueleto do sindicalismo brasileiro ganhou musculatura e carnes novas, especialmente após o veto do presidente da República ao artigo de lei que determinava a fiscalização do Tribunal de Contas sobre os recursos compulsoriamente arrecadados pelas centrais. De agora em diante, vão deitar e rolar sobre as verbas generosas tiradas de trabalhadores, que recebem pouco mais de um salário, refratárias a qualquer espécie de controle por parte do governo. É bem verdade que os sindicalistas estão mais fortes que nunca.
Conseguiram impedir no curso do atual governo a votação das reformas da Previdência e a Trabalhista, dois setores cuja modernização é imprescindível à prosperidade do país. Causam espécie o volume dos gastos apresentados pelos dirigentes das entidades sindicais e os salários com que são contemplados no governo, não conforme ao grau de preparo dos favorecidos. Em meio a esta generalização com ares de domínio dos pelegos, é provável existirem sindicalistas dotados de preparo técnico para o exercício de funções de governo.
Isto não desfigura o peleguismo dominante no regime Lula, tudo feito com as bênçãos, os afagos e os sorrisos de aprovação do primeiro mandatário do país. O Brasil está andado para trás. Os bons sindicatos ajudam a conquista dos direitos profissionais e civis. Esta é a postura ideal, agora manchada pela excessiva afinidade entre partidos políticos e movimentos sindicais, criando embaraço ao livre movimento de ambos. Pelegos em palácios não fazem bem à saúde do movimento sindical, que necessita da mais completa autonomia para fazer prevalecer os direitos da grande maioria. Em regime democrático os sindicatos não podem estar submetidos ao jugo de políticos ou de seus respectivos partidos. A existência desse conúbio não faz bem a ambos.
Ao contrário, faz muito mal à democracia. No Brasil, o regime está necessitando de remédios fortes para sua consolidação definitiva, para evitar padeça de crises depressivas ou se enfraqueça a ponto de sua fragilidade tornar-se atração às vocações de caudilhos. Sindicato livre e autônomo é uma bandeira em favor do trabalhador. Sem pelegos ou profissionais da agitação.
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