José Sócrates conseguiu o insólito: levar o Partido Socialista numa senda incóngrua, a um espaço político à direita do PSD. O seu Partido Socialista é sinónimo com políticas de laboratório seguidas por políticos profissionais, que focam na linha de fundo das contas de estado, onde o valor líquido vale mais do que o valor humano.
Se custar demais, fecha-se. De facto, se o José Sócrates vestisse uma saia, colocasse uma peruca nem seria muito necessário usar maquilhagem, até parecia a Manuela Ferreira Leite, a sua dupla social-democrática.
E os cidadãos? A verdade nua e crua é que para políticos profissionais como José Sócrates, que poucos ou nenhuns dias de Trabalho fizeram na sua vida, estes nem passam de cifras numa folha de papel. Para esta laia na sociedade portuguesa, uma espécie de nata azeda ou escumalha que sobe para o topo da chávena, apodrecendo o resto do café por baixo, que viveu sempre numa redoma de cristal, o que interessa o cidadão, senão considerá-lo como alguma espécie de inconveniente que tem de ser enganado (cortejado) de quatro em quatro anos? Diga-se-lhes que não vão aumentar os impostos. Semanas depois, afinal vão aumentar e por aí fora.
Agora veio ao rubro em Portugal que um terço das leis aprovadas na Assembleia Nacional não foram implementadas porque este Governo (?) não conseguiu regulamentá-las a tempo. Pergunta-se, então o quê é que andam lá a fazer?
E com que direito deixam leis na gaveta, depois de terem sido debatidas, simplesmente porque ninguém se tinha preocupado se havia ou não a legislação em vigor? Com que direito este Governo (?) nem sequer responde a questões por requerimento, em que deputados de partidos da oposição podem interpelá-lo sobre assuntos de interesse?
O que anda este Governo (?) a fazer, se durante os últimos dois anos, das 48 leis sem regulamentação, 14 ainda não a têm? E o que anda a fazer um Governo que deixa passar o facto que o Orçamento do Estado de 2006 só tem 26 por cento dos artigos inteiramente regulamentados com os normativos complementares em vigor?
É uma situação absolutamente inaceitável. Ser deputado não é ser membro de um clube de meninos bem, uma espécie de Clube de Cavalheiros. É tanto um dever como uma responsabilidade, perante o público. E se os deputados do PSD e CDS/PP provaram recentemente que não a têm, então agora junta-se-lhes os do PS, que parece a cada dia menos partido que facção e tudo menos Socialista.
Fica cada vez mais evidente que os únicos representantes que têm alguma noção daquilo que devem fazer, que arregaçam as mangas e trabalham, são os da CDU e do Bloco de Esquerda.
Por quanto mais tempo irá o eleitorado português teimar em ser masoquista?
Timothy BANCROFT-HINCHEY
PRAVDA.Ru
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