Não podemos deixar que chegue o dia de triunfo de Mal Absoluto. Não tenho fórmulas para resolver a situação, mas sou consciente de que não sou uma ilha, e que a morte de cada ser humano me diminui. Preciso parar minha cidade. Não apenas por uma hora, um dia, mas pelo tempo que for necessário. E recomeçar tudo de novo. E, se não der certo, tentar não apenas mais uma vez, mas setenta vezes. Chega de culpar a polícia, os assaltantes, as diferenças sociais, as condições econômicas, as milícias, os traficantes, os políticos. Somos culpados.
Com autor destas palavras , o famoso escritor brasileiro, Paulo Coelho, estão de acordo os manifestantes que se reuniram ontem (9) na Praça da Cinelândia, no centro do Rio. O ato público foi organizado pelo movimento "Rio de Paz", envolveu cerca de 300 pessoas e serviu de protesto contra a violência. O evento ocorreu dois dias após a morte do garoto João Hélio Fernandes Vieites durante um assalto, no subúrbio do Rio, na quarta-feira (7). A criança ficou presa no cinto de segurança do carro da mãe e foi arrastada por quatro bairros.
A iniciativa, batizada de Luto pelo Rio, seria toda realizada em silêncio, não fosse a passagem do Bloco Cordão do Bola Preta, que vinha sambando da Praça Tiradentes. Em sinal de solidariedade, os foliões pediram licença para se juntar aos manifestantes, que já estavam terminando a cerimônia, que começou às 20h25. As pessoas vestiam roupa preta e levavam velas acesas nas mãos. Os dois grupos fizeram um minuto de silêncio. Faixas e cartazes com dizeres Olho por Olho e a cidade acabará cega, A Cidade do Rio está manchada de sangue e Clamamos por Justiça se destacavam em meio à multidão.
A polícia já prendeu quatro suspeitos de participação no crime. Diego da Silva, Carlos Roberto, Thiago de Abreu Matos e um menor prestaram depoimento na 30ª DP (Marechal Hermes).O quinto suspeito, Carlos Eduardo Toledo Lima, que teria dirigido o carro que arrastou o menino, ainda está foragido. O clima era de muita tristeza entre os moradores do condomínio onde mora a família do menino João Hélio, que completaria 7 anos no dia 18 de março. Segundo o porteiro, a família de João não voltou para casa após a tragédia. Eles dormiram fora, provavelmente, na casa de parentes.
No condomínio de classe média com 60 casas, e que fica em Cascadura, no subúrbio do Rio, o movimento de carros era pequeno nesta manhã. Os motoristas, todos de óculos escuros, passavam com seus vidros suspensos. Poucos se arriscavam a comentar o caso. Eles repetiam apenas: Não tem o que comentar. É uma barbaridade.
Com G-1
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