Brasil: O que esperar de 2007

Milton Lourenço (*)

A balança comercial em 2006 acumulou um superávit da ordem de US$ 46 bilhões, resultado de vendas externas de US$ 137 bilhões contra compras no mercado internacional no valor de US$ 91 bilhões. O resultado foi apresentado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior como histórico — e, de fato, nunca o País alcançou essa marca —, mas, efetivamente, representou um crescimento de apenas 5% em relação a 2005, que registrou US$ 118 bilhões exportados contra US$ 73 bilhões importados, com um superávit de US$ 44,7 bilhões.

Por esses números, constata-se que as exportações tiveram um crescimento de 16,5% em relação a 2005, enquanto as importações evoluíram 25%. O governo prevê para 2007 exportações de US$ 152 bilhões, o que significaria um crescimento de 11% em relação a 2006.

Por aqui, já se vê que o governo aguarda uma redução no crescimento das exportações. Isso fica claro quando se percebe que o aumento nas exportações deu-se basicamente em função de quantidades embarcadas, não de aumento de preço. E que, neste ano, por força da pressão internacional, o mais provável é que muitos produtos de alto valor agregado venham a ter seus preços reduzidos com o objetivo de aumentar a sua competitividade.

Por isso, a tendência para 2007, desde que o câmbio não apresente grandes flutuações e permaneça em patamares semelhantes aos do ano passado, é que o crescimento das compras no mercado internacional se mantenha maior que o das exportações, como já se registrou em 2006.

Se, por um lado, isso permite supor que, em 2007, o superávit será inferior ao de 2006, por outro, não se pode deixar de ver aspectos positivos, pois as importações refletem-se diretamente no processo de modernização do parque industrial, ao mesmo tempo em que aumentam a competitividade do produto brasileiro exportado. Afinal, 70% de tudo o que o Brasil hoje compra no mercado externo se destinam à produção industrial e são voltados para o processamento e modernização da indústria.

Com estes resultados recordes, a corrente de comércio brasileira (exportação mais importação) atingiu um novo patamar de US$ 228 bilhões em 2006, valor 19,3% superior aos US$ 191 bilhões de 2005. Isso pode significar mais alguns empregos na indústria, mas nada que mereça rasgados elogios ou que possa servir para traçar um panorama mais animador.

A rigor, os números exibidos constituem um resultado bastante fraco, levando-se em conta as necessidades do País. O que é de doer é que, dentro da atual estrutura, nada melhor do que isso se poderia esperar porque, para crescer mais, o Brasil precisaria não só de dispor de maior capacidade energética e de uma infra-estrutura logística mais moderna como estar livre da excessiva carga tributária que o oprime, de uma taxa de juros extorsiva, considerada a maior do mundo, e de uma taxa de câmbio incompatível com quem quer exportar.

Para crescer a 8 ou 10% ao ano, como o fazem China, Índia e outros países emergentes, o Brasil precisaria voltar a ter uma política industrial que atraísse o capital nacional e internacional para investimentos na indústria que pudessem, efetivamente, reequipar as fábricas e aumentar a sua produtividade. Infelizmente, as máquinas que movimentam a produção industrial brasileira, a exemplo dos portos e aeroportos, estão sucateadas, com mais de duas décadas de uso, muitas vezes.

Para crescer, o Brasil precisaria também de maior capacidade de investimento por parte do Estado que, como se sabe, encontra-se estrangulado pelos gastos da máquina pública. Na média, os investimentos federais em infra-estrutura limitam-se a apenas 0,6% do Produto Interno Bruto (PIB), quando, segundo dados da Associação Brasileira da Infra-Estrutura e Indústrias de Base (Abdib), o País precisaria de 4,25% do PIB.

Em 2006, segundo a Abdib, a infra-estrutura deve ter recebido R$ 65,7 bilhões, 13% a mais que em 2005, mas somente 75% do que é preciso por ano. Os investimentos são desproporcionais: setores como transporte (38%) e saneamento (37%) recebem menos da metade do que é necessário, aponta estudo da Abdib.

Para piorar, esses investimentos, muitas vezes, não saem do papel por falta de planejamento ou de projetos exeqüíveis ou licenças ambientais. Isso quer dizer que, se a corrente de comércio continuar a crescer no atual ritmo, os portos correm o risco de entrar em colapso em pouco tempo.

(*) Milton Lourenço é diretor-presidente da Fiorde Logística Internacional, de São Paulo-SP (www.fiorde.com.br). E-mail: [email protected]

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey