Por Manoel Castanho
"O Brasil está começando a comportar-se como um país sério". A afirmação é de Michael Reid, editor da seção das Américas na revista The Economist. Ele escreveu um artigo, publicado hoje no jornal espanhol El País, com o título "Já é amanhã no Brasil" (ou, em tradução livre, o 'futuro já chegou no Brasil'). Enquanto elogia vários aspectos positivos da economia brasileira, não deixa de criticar também diversos pontos negativos.
Já no início o artigo menciona um discurso de Lula, no qual o presidente diz que sua fórmula política consistia em ser "conservador na economia" e "audaz na política social". Avalia que a fórmula de Lula deu certo, já que este "cavalga no lombo da popularidade" e o país "começa a ser levado a sério como nova potência econômica e política".
Quando a sigla BRIC foi cunhada, em 2003, muitos especialistas resmungaram, dizendo que "a letárgica economia brasileira não merecia estar neste clube". Ao analisar a situação atual, Reid afirma que a renda per capita brasileira é sete vezes superior à da Índia e que o Brasil, "diferentemente da China e Rússia, conta com uma democracia próspera, embora caótica".
Após comentar brevemente o cenário econômico brasileiro dos anos 60 a 90, Reid escreve que "para surpresa de alguns, Lula decidiu iniciar com os êxitos de FHC", citando a seguir a independência do Banco Central. "O governo atende seus objetivos orçamentários, reduzindo pouco a pouco a dívida pública".
Embora o Brasil se beneficie dos preços de algumas matérias-primas, o editor destaca a eliminação de barreiras tarifárias para a indústria como um impulso maior na economia. "Hoje a Embraer constrói um avião na China, a Vale se tornou a segunda maior mineradora do mundo e outras empresas brasileiras são líderes no setor agroindustrial".
Destaca ainda a possibilidade que o país tem de ser uma potência energética, não só pelas novas descobertas de petróleo, como também pela produção de etanol, que "diferentemente do subsidiado etanol de milho norte-americano, é eficiente em termos econômicos e ambientais". E comenta ainda que "o Brasil pode aumentar a produção de alimentos e etanol sem tocar na selva amazônica".
Ao falar dos benefícios econômicos e sociais, Reid fala do Bolsa-Família (que atende 11 milhões de famílias) e da obrigação de manter os filhos na escola para recebê-la. "Estas iniciativas, unidas a uma baixa inflação e rápido crescimento, reduziram os índices de pobreza" (passaram de 48% em 1990 a 33% em 2006). Cita também a melhora na distribuição de renda brasileira, "tristemente famosa por sua desigualdade", que fez com que oito milhões de famílias chegassem à classe média entre 2000 e 2005.
A seguir, o artigo enumera uma série de problemas: criminalidade, sistema judicial lento e ineficiente, legislação trabalhista que atrapalha a contratação formal, aumento desnecessário das contratações na burocracia federal, carga fiscal elevada, serviço público ruim, décadas de investimentos insuficientes em infra-estrutura e ensino básico de má qualidade. "O pior é que o sistema político dificulta a mobilização das maiorias para impulsar mudanças", escreve Reid. Menciona também que o PT "deitou por terra"
a promessa de fazer política de forma ética.
Apontou também contradições na política externa do Brasil ("transformou-se numa grande potência diplomática comercial, mas compartilha com Estados Unidos e União Européia o fracasso da Rodada de Doha"), principalmente durante o primeiro mandato de Lula, enquanto no segundo mandato o presidente se mostra mais pragmático. "Mas muitos democratas latino-americanos gostariam de ver o Brasil apoiar com mais decisão a atribulada democracia colombiana".
Por fim, Reid conclui dizendo que o progresso do Brasil durante os últimos 15 anos "se baseia em um paciente desenvolvimento de consensos democráticos e esta é a razão pela qual parece sustentável" e que o Brasil, apeasar dos defeitos, "está começando a comportar-se como um país sério".
(*) Jornalista do COFECON
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