O Mundo precisa da ONU?

Segundo Annan, actualmente existe uma necessidade premente de regularizar as contradições e "reforçar o sistema de segurança colectivo" no mundo. Tal será possível através de uma reforma radical da ONU e da definição do papel desta organização no sec. XXI.

O problema reside no facto de no mundo não existir uma visão comum sobre o futuro desta organização. Assim, por exemplo, para a administração neo-conservadora de George Bush, a ONU é apenas um fardo. É preciso alimentá-la, mas ela de pouco serve quando é necessário actuar de forma rápida e decisiva, como foi nos casos da Jugoslávia, do Iraque, etc. Surge uma questão: para que necessita a única superpotência de se colocar sob as contingências jurídicas exigidas pelo regulamento da ONU se é capaz de resolver os objectivos que lhe são colocados por meio de blocos regionais do tipo da NATO ou criando coligações internacionais "ad hoc"?

No entanto, na era da globalização, que para além das significativas vantagens provoca ainda o pouco linear fenómeno da interdependência, uma tal presunção pode vir a ser injustificada. De acordo com o Financial Times, os EUA já têm hoje que pedir emprestados todos os dias úteis 5 mil milhões de dólares no mercado externo. A luta pela "elipse energética" está longe do seu termo mas a economia americana precisa de petróleo aqui e agora. Finalmente, os Estados Unidos poderão continuar a ser o líder mundial reconhecido apenas enquanto a comunidade internacional continuar a reconhecê-los.

Ao mesmo tempo, a intervenção no Iraque e o consequente escândalo de Abu Graib levaram à derrota dos EUA em termos morais, ou seja "na luta pelas mentes e corações". Nas montras de algumas lojas em Ancara - capital de um país membro da NATO- há inscrições a dizer "Proibida a entrada a americanos". Estas palavras são ilustradas com fotografias mostrando soldados americanos a maltratar detidos em Abu Graib.

Quando Washington critica a ONU por esta não ter conseguido resolver a questão iraquiana, não leva em conta o facto de as Nações Unidas terem desta maneira conservado a face, nomeadamente no mundo muçulmano. Os resultados das acções da administração norte-americana são completamente opostos, uma vez que em todo o mundo houve uma redução do potencial do "soft power" americano (poder suave, poder da autoridade, de convencer) Mas a América, permanecendo no pico do seu poderio, não se apercebe disso.

Os outros agentes da política internacional, nomeadamente a Rússia, devido à limitação das suas possibilidades na arena mundial, têm tendência para ter um comportamento mais cauteloso. É que, se para a América os mecanismos de contenção da ONU são um empecilho, para os outros países são uma garantia de segurança.

Arseni Oganessian observador RIA "Novosti"

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