Furacão Desespero

Conforme dados da United Nations, a cada minuto, 23 crianças morrem por fome, desnutrição ou doenças graves. Conte um minuto. Mais um.

Como as crianças não morrem em nossa frente, não percebemos a dimensão do problema. Por outro lado, não fica bem curtir a autoflagelação. É mais tranqüilo não imaginar, pensar ou avaliar a loucura do mundo. Em todo caso, são 33.000 crianças por dia. 1 milhão por mês. 12 milhões por ano.

Quem é o carrasco deste holocausto? Como é possível tanta morte sem um alarde? Existe explicação para esta barbárie?

Em primeiro lugar, os modelos de convivência humana, individual e coletivo, representam grandes fracassos. A cada instante, o mundo produz mais pobres. Não consegue aumentar o número de pessoas incluídas.

Em segundo lugar, a humanidade só se torna sensível perante às grandes catástrofes mostradas e reviradas pela mídia, revelando a misericórdia racial. O furacão Katrina, mesmo avassalador, não se compara com o furacão Desespero que mata sem piedade as crianças inocentes. Este furacão passa despercebido.

Em terceiro lugar, as mortes ocorrem no universo dos excluídos, bem longe dos shoppings, das festas, das mansões. Pelas circunstâncias, parte da humanidade deseja o extermínio dos excluídos. Trata-se de um assassinato bom, claro desde que seja possível compreender a loucura humana.

Em quarto lugar, está em curso o fantástico processo de seleção das espécies. Apenas as mais fortes sobrevivem. A humanidade é uma grande banalidade. Os direitos privilegiam ricos e incluídos.

Fica difícil estabelecer qualquer paralelo de comiseração. Os principais governos do mundo não conseguem reagir. O senhor dos senhores nem leva em consideração este insignificante problema. Ao contrário, gasta bilhões e bilhões na promoção da guerra, do extermínio, da produção indecente e ilógica de armas de destruição em massa.

Os principais movimentos religiosos e sociais entregaram os pontos. Aceitam que tudo é uma grande utopia. Rezam seus pecados e miserabilidades. Sobra hipocrisia.

As Nações Unidas nem são capazes de expressar vergonha, tamanha incompetência. Mostram os números. Identificam as realidades. E gastam horas e horas em conversas infrutíferas e mirabolantes.

Não há problema. Tudo isto faz parte da vida.

Fica a dúvida se somos melhores ou piores que os ratos. Tudo indica que são superiores aos humanos, senhores da degradação ambiental e social.

O apocalipse parece real. Sartre estava com a razão: o inferno é o próprio homem. O céu, com certeza, deve ser muito pequeno.

Enquanto isso, o pretenso mundo civilizado gasta muito mais na produção de armas que na educação, saúde, ou bem-estar dos humanos. A diretriz é muito transparente e determinante.

Se alguém pode fazer alguma coisa, seja bem-vindo.

Orquiza, José Roberto escritor e-mail [email protected]

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