COMENTÁRIO - PRESIDENTE GEORGIANO COMEÇA A PERDER

O "carismático" Presidente georgiano, Mikhail Saakachvili, que, tendo chegado, de forma vertiginosa, ao poder em Tbilissi e, mais tarde, substituído, sem o derramamento de sangue, o governo na Adjária, alcançou o cume da sua careira política e começou a descer, pelos vistos, ao "vale das desilusões".

Dito de forma simples, Saakachvili começa a perder. Na Geórgia tem vindo a crescer uma vaga de descontentamento em relação à sua política actual. O genro do antigo Presidente Chevarnadze, foi posto em liberdade sob caução, ou melhor, após pagamento do resgate como se tratasse de uma história da captura de reféns e não de um processo judicial normal. Segundo peritos independentes, na nova Geórgia, em vez do combate à corrupção, prossegue a partilha da propriedade... Sente-se ainda desapontada uma parte da comunicação social democrática que, na altura da "Revolução das Rosas", se solidarizou com os actuais líderes georgianos.

Curioso notar que antes da Revolução, eles repetiam ser indispensável "dizer toda a verdade". Agora tal apelo já não soa com muita frequência.

Simultaneamente, vai crescendo o "fardo" de promessas não cumpridas: o regime autónomo de Adjária não passa de uma "ficção" e a economia consegue manter-se à tona somente graças à assistência esporádica do estrangeiro. Até os "compromissos pessoais" assumidos por Saakachvili perante Chevarnadze e o antigo dirigente adjariano Abachidze têm sido violados, o que, por tradição, não agrada muito aos habitantes do Cáucaso.

Está a marcar passo o processo de reunificação do país, podendo até degenerar em operações militares. Devido ao infantilismo político, as novas autoridades da Geórgia pretendem resolver, da mesma maneira que na Adjária, ou seja, rápida e facilmente, o problema da Ossétia do Sul e da Abkházia. No entanto, trata-se de conflito diferentes. Os adjarianos nem sequer apostavam na independência, enquanto os ossétios e abkhazes prontificam-se a defendê-la com armas na mão. Não foi por acaso que em ambas as repúblicas secessionistas haviam sido estacionadas tropas russas de manutenção de paz.

Entretanto, as declarações belicosas feitas pelo ministro georgiano do Interior, Irakli Okruachvili, sobre "o Exército ossétio pouco sério e insignificante" também podem ser qualificadas como "infantilismo político". "Estas forças não representam obstáculo para as Forças Armadas da Geórgia", frisou. O ministro do Interior deve saber que, no Cáucaso, equipamentos militares e pessoas muito bem armadas podem vir a aparecer de qualquer lado e a qualquer momento.

E, por fim, o último erro crasso de Saakachvili consiste em que ele pretende, de forma propositada, estragar as relações com a Rússia. É pouco provável que a sua "frase ritual" sobre o pragmatismo de Putin possa compensar as acções concretas da parte georgiana, viradas contra as forças de paz russas e contra a Rússia em geral . Primeiro, a Geórgia "desviou" alguns camiões com equipamentos militares, tendo violado, desta forma, os acordos concluídos nos quadros da Comissão Mista para a Regularização do conflito georgiano-ossétio. Depois, impediu a passagem para a Ossétia do Sul de uma coluna automóvel com cargas humanitárias (medicamentos, alimentos para crianças e farinha).

E, mais tarde, acabou por colocar os equipamentos militares "roubados" já referidos junto do quartel-general da Região Militar Transcaucasiana em Tbilissi, onde estes, como era de esperar, não foram aceites. Segundo disse a propósito um dos oficiais russos, "os armamentos devem ser devolvidos aos seus proprietários (às forças de paz), aos quais foram roubados".

O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia está cansado de repetir que a Rússia "sempre se pronunciou pela integridade territorial da Geórgia, razão pela qual Moscovo se dispõe a ajudar os georgianos nesse aspecto". Todavia, isto tem que ser feito de forma pacífica, tomando em conta os interesses das partes envolvidas no conflito.

Petr Romanov observador político RIA "Novosti"

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