Carta aberta de Timothy Bancroft-Hinchey ao Presidente Bush

Senhor Presidente, Mais uma vez o seu discurso absurdo me obriga a escrever-lhe. Mais uma vez, o Senhor Presidente dá provas de que ou é ignorante, obtuso e ingénuo, ou então finge sê-lo muitíssimo bem.

Senhor Presidente, Mais uma vez o senhor faz uma afirmação que nem está certa, nem pertinente, nem inteligente. Afirmar, como fez no seu discurso no Dia de Independência, que as forças armadas dos EUA desempenharam um papel tão significante em tantos conflitos, incluindo “a queda dum Império do Mal” (referindo à União Soviética, uma frase que foi cunhada durante a vice-presidência do seu pai), prova que o senhor é rotundamente inculto.

Visto que o seu conhecimento de história é tão pobre como o de geografia, permite-me que o elucide: não houve confronto militar entre as forças armadas dos EUA e a União Soviética. Não houve porque como todos sabem agora, os jogos de guerra nos computadores mostravam repetidamente que quem ganharia seria a União Soviética.

Como todos sabemos, as forças armadas dos EUA só entram em conflito com países indefesas, quando o inimigo é fraco demais para lutar. Como todos sabemos, as forças armadas dos EUA só atacam países que não têm armamento de destruição maciça, o qual a União Soviética tinha, não tanto como vocês, mas o suficiente.

Gostaria de pedir que explicasse exatamente o que quer dizer com “a queda dum Império de Mal”. A União Soviética nem era império, nem caiu. Transformou-se. Tornou-se na Federação Russa porque o seu trabalho foi feito, os seus objetivos conseguidos em pleno. A União Soviética, Senhor Presidente, transformou uma sociedade retrógrada, medieval, feudal e injusta numa em que todos os cidadãos têm o direito a uma educação sem igual e uma hipótese de seguir a carreira da sua escolha. A União Soviética, Senhor Presidente, deixou cada cidadão admiravelmente bem preparado para competir com qualquer pessoa para qualquer posto de trabalho em qualquer parte do mundo.

Gostaria também que explicasse o significado para si de “Império do Mal”, Senhor Presidente. Será que é um que envia aviões para chocar com edifícios? Sim, estou a referir ao 11 de setembro mas não aquele de Nova York. O Senhor Presidente lembrar-se-á que Presidente Salvador Allende foi morto por um avião que colidiu com o palácio presidencial em Santiago, Chile, num complô programado pela CIA.

Será que um Império do Mal é um que fixa como objectivos militares os jornalistas da mesma maneira como um tanque das suas forças armadas fez em Bagdade, atirando para o centro dum hotel? Será que um Império do Mal é um cujas tropas apontam as armas para as caras de rapazes de seis anos de idade e gritam “Levantem as mãos, filhos da p***. AGORA!!” Será que um Império do Mal é um que deita bombas sobre áreas de residência para civis?

Será que um Império do Mal é um que inventa mentiras acerca de países terem Armas de Destruição Maciça e depois lança um dos mais selváticos ataques na história, assassinando milhares de civis inocentes? Um Império do Mal usa ameaças e chantagem em vez de diplomacia e discussão nos bastidores do Conselho de Segurança da ONU?

Um Império do Mal respeita a liberdade de expressão e da imprensa? Será que um Império do mal bombardeia os escritórios da Al-Jazeera em Kabul e depois em Bagdade, assassinando um jornalista?

Enviar pessoas para as suas mortes não é nada de novo para si, Senhor Presidente, como sem dúvida os cidadãos de Texas irão lembrar. Porém, queira abster-se de exportar as suas políticas assassinas para fora do seu país. Finalmente, tenha cuidado com aquilo que diz, e verá que as pessoas começarão a cumprimentá-lo com sorrisos verdadeiros e não de ocasião.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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