Colômbia. O que nos deixa a guerrilha das FARC-EP

Hernando Vanegas Toloza, Allende la Paz, Postales de Estocolmo.Resumen Latinoamericano/ 5 de Agosto 2016.- Já firmado o Cessar-Bilateral de Fogos e quase às portas do Acordo Final na Mesa de Havana, chega o momento de analisar o papel jogado pelas FARC-EP na vida do país e a herança deixada para as futuras gerações. Assinalaremos apenas alguns dos pontos que consideramos relevantes.

Ainda que já se tenha feito este exercício em alguns escritos no passado [Ver ao final do artigo], esse exercício foi feito em plena confrontação armada.

Hoje estamos quase no início de uma nova época quando se dará a firma de um Acordo que contém elementos inéditos para os povos, especialmente o povo colombiano, e lhe confere características especiais à existência de uma organização guerrilheira que se enfrentou não só a um pé de força descomunal -500.000 unidades-, como também teve que enfrentar ao próprio império estadunidense com todo seu poderio, contê-lo e obrigar suas forças conjuntas -assessores gringos e oficiais nativos- a aceitar sua incapacidade para vencer uma guerrilha infinitamente menor em número e recursos, e obrigar seus comandantes supremos a se sentarem numa Mesa de Negociação para buscar conjuntamente uma saída política civilizada ao conflito interno desatado pela oligarquia colombiana com a assessoria estadunidense.

As FARC nos deixa o ensinamento de aceitar o desafio, por descomunal que pareça, de lutar pelo povo entregando até a própria vida. Muitos guerrilheiros se sacrificaram pelo cumprimento de suas tarefas. Talvez nunca saberemos quantos guerrilheiros caíram na confrontação armada ou fora dela, estes últimos assassinados inermes. O comandante Jacobo Arenas disse que "em algum momento publicaremos seus nomes".

Dentre os caídos em combate tenho obrigatoriamente que mencionar a meu irmão carnal, Cristian Pérez, cantautor que morreu nas montanhas do estado do Cauca. Cristian estava imbuído do ideário fariano e por esse ideário e por seu amor ao povo entregou sua vida. Como ele são todos os guerrilheiros das FARC, daí a enorme fortaleza demonstrada durante 52 anos de dura e mortal luta armada para mudar as causas que originaram o Conflito Interno colombiano.

Outra herança que nos deixam as FARC-EP é seu amor à Paz. É quase inverossímil que homens endurecidos no combate professassem tão profundo convencimento de que cada ação os aproximava da Paz e da solução política do Conflito Interno, como com efeito está sucedendo nos atuais momentos. A entrega da vida do Comandante em Chefe Alfonso Cano é exemplo vivo disso.

Igualmente, é necessário mencionar que só organizações dotadas de um ideário como o das FARC são capazes de suportar os embates de uns inimigos impiedosos e curtidos na arte de matar para impor aos povos suas políticas e sua visão do mundo, no qual só seus mesquinhos interesses primam.

Desde 1964 as FARC lançaram seu primeiro chamamento pela Paz. Posteriormente, em todos os seus documentos podemos ler uma máxima: "O futuro da Colômbia não pode ser a guerra civil". Hoje as FARC podem dizer a seus combatentes sacrificados e ao povo colombiano: "Estamos cumprindo!"

Não é por culpa das FARC se a Colômbia é encaminhada à Guerra Civil. Serão outros os responsáveis assim como foi a outra parte a responsável pela guerra desde há mais de 60 anos. Felizmente -para o bem do povo colombiano- as FARC conseguiram concretizar sua política de Paz.

Hoje digo SIM à Paz e me comprometo a acompanhar as FARC em seu trânsito para a legalidade e para a atividade política legal. O povo colombiano merece esta oportunidade.

Tradução: Joaquim Lisboa Neto

 

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