Quo vadis, Portugal?

Quando o Primeiro-Ministro Mário Soares anunciou no início da década dos anos 1980, que os portugueses tinham de “apertar o cinto” se queriam entrar na então chamada Comunidade Económica Europeia, a população em geral encarou este sacrifício como um investimento no futuro.

Depois de quase vinte anos como membro do “clube da elite” muitos foram os sucessos mas muitos também são os desafios, que poderão servir de exemplo para os novos países membros e para os membros futuros da União Europeia.

Quem olha para as cifras leva um balde cheio de pessimismo por cima da cabeça. Se Portugal estava bem implantado em 15º lugar da Europa dos 15, meses depois da adesão dos novos dez membros, já conseguiu deslizar-se para 17º lugar em termos de salário (uma média de 1. 125 € por mês) e também em termos de poder de compra, igual à Malta e atrás de Grécia e Chipre.

Quanto ao desemprego, Portugal ocupa o 15º lugar dos 25, com uma taxa de 6,2% mas entre a população mais jovem, da faixa etária dos 15 aos 24 anos, a taxa é o dobro (13,6%), colocando o país em 18º lugar.

Em relação aos outros países da EU, os portugueses estão entre os mais sacrificados, trabalhando uma média de 40,1 horas por semana, representando o 9º lugar, enquanto os preços nos supermercados estão entre os mais altos.

Em fim, trabalhar mais, receber menos, ter menor poder de compra e ver o país a descer anualmente na tabela classificativa da “primeira liga”, da qual Portugal só não fica despromovido se houver um constante aumento de “clubes” menores.

No entanto, Portugal tem inegáveis qualidades, que proporcionaram a sua independência como estado. Por qualquer razão Portugal é um estado independente e Escócia não, nem Catalunha.

Comparando o Portugal de 1986 (altura da adesão à CEE) com o Portugal de hoje, a enorme divisão entre cidade e campo desapareceu com a substancial melhoria das redes de auto-estradas e de transportes públicos. Quando há 20 anos levava quase um dia de viagem tortuosa para chegar a alguns lugares do interior, hoje em dia se faz em poucas horas.

Chegado lá, há duas décadas se recebia uma verdadeira lição de história, pois em alguns casos o estilo de vida era igual e inalterado há centenas de anos. Hoje em dia, não. Poucas são as aldeias que não têm electricidade (e a subsequente invasão de electrodomésticos, facilitando a vida das pessoas e trazendo aquele grande comunicador, a televisão), poucas são as aldeias que não têm redes telefónicas, de saneamento ou de abastecimento de água.

Com este nivelamento de estilos de vida e com a melhoria dos meios de transportação, veio a possibilidade de deslocação. As pessoas do interior podiam vir para as cidades trabalhar e as pessoas nas cidades podiam visitar seus familiares na “província” com mais frequência, estabelecendo laços comerciais mais facilmente e criando as condições para um desenvolvimento das áreas mais desfavorecidas.

No entanto, com tanta melhoria, o que falhou? A resposta é muito simples: ausência de capacidade de liderança política, o que quer dizer também incompetência e falta de planeamento. Perguntar a um português o que quer dizer “ordenamento do território” provoca normalmente um encolher dos ombros.

Quer dizer “planeamento do espaço nacional”. Para fazer planos, é preciso organização e para organização é preciso comunicação e é precisamente aqui onde Portugal tem falhado rotunda e completamente.

Para fazer um plano nacional, é preciso envolver todos os sectores – privado e público, governo e municípios, associações de residentes e classe empresarial. Para organizar, é preciso formular uma estrutura que abrange mais do que os próximos quatro anos (a vida dum parlamento). Para comunicar, é preciso ter uma atitude democrática.

Infelizmente, colectivamente, a classe governativa de Portugal não tem nenhum destes atributos. A meta é vencer as próximas eleições, colocar os amigos e familiares em lugares de destaque e tentar aproveitar ao máximo da posição, mantendo em aberto sempre um lugar profissional com um salário bem acima da média para tempos de travessia do deserto político.

Por isso e com esse cenário em vigor, não faz sentido comunicar com aqueles que estão fora do mesmo círculo político. Sem comunicação, não há organização e sem organização, não há plano.

Talvez por aí Portugal possa servir de exemplo para os novos estados membros a Leste, exemplo a não seguir.

Timothy BANCROFT-HINCHEY

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