À espera das Zalps

SÃO PAULO - Dados da Secretaria de Portos (SEP) mostram que, nos últimos dez anos, a movimentação de cargas nos portos nacionais cresceu 80% em tonelagem e as previsões são de um crescimento de 5,7% ao ano, o que faz supor uma movimentação de mais de 2,5 bilhões de toneladas anuais até 2030. Com o arrendamento de áreas e terminais em Santos e nos portos do Pará, a estimativa da SEP é que haja um aumento de capacidade de 48 milhões de toneladas por ano, com investimento avaliados em R$ 3 bilhões.

Milton Lourenço (*)

Como se sabe, o processo de arrendamento se arrasta nas malhas da burocracia e, efetivamente, ainda não foi deflagrado em razão da falta de harmonia entre governo, iniciativa privada, Ministério Público e Tribunal de Contas da União (TCU). Seja como for, o que se espera é que o crescimento do sistema portuário seja acompanhado pela expansão da malha de acessos terrestres, o que significa melhorias não só na infraestrutura viária como na ferroviária e na hidroviária.

            O governo parece atento à questão. Tanto que vem destinando R$ 5 bilhões por ano para financiar armazéns privados a juros de 3,5% ao ano com o objetivo de melhorar a capacidade de armazenamento da safra agrícola, evitando que mais caminhões sejam colocados nas estradas ao mesmo tempo com destino aos portos.

            Para desafogar os portos do Sul e Sudeste - especialmente de Santos, o mais sobrecarregado -, o governo promete a conclusão das obras da BR-163 que irá facilitar o escoamento de 3 a 5 milhões de toneladas pelo chamado Arco Norte, um novo canal logístico que pretende levar a produção de grãos do Centro-Oeste aos portos da região Norte.

            Para tanto, esse Arco inclui a Ferrovia Norte-Sul e a uma série de portos fluviais ao longo do que poderia ser a hidrovia Araguaia-Tocantins. O destino seria o porto de Santarém, que está localizado na margem direita do rio Tapajós, de onde os navios carregados podem seguir pelo rio Amazonas até o Oceano Atlântico com destino à Europa e Ásia, principais consumidores dos grãos brasileiros. É de lembrar que a viagem até Santarém por terra representa uma economia de 800 quilômetros de estrada em relação a Santos e mais de mil quilômetros em comparação com Paranaguá.

            Para o Porto de Santos, a SEP prevê uma movimentação de 200 milhões de toneladas em 2024, o que exigirá não só a ampliação da infraestrutura física e a dragagem permanente do canal de navegação como a implantação de Zonas de Apoio Logístico Portuário (Zalps), que deverão funcionar paralelamente aos pátios reguladores de tráfego já credenciados pelo Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp). Segundo a SEP, o projeto Zalp deverá estar implantado até o final de 2016.

            Se tudo der certo, o Porto de Santos ainda continuará como o principal porto agrícola do País, mas haverá mais espaço para que seja mais bem qualificado, atraindo cargas de maior valor agregado e menor volume. O problema é que o País ainda aplica pouco na melhoria de sua infraestrutura de transporte: apenas 2,1% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto a China gasta 7,3% a ritmo bem superior, o que explica o sucesso de seu comércio exterior.

 

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(*) Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail: [email protected]. Site: www.fiorde.com.br.

 

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