O que é que Alagoas tem?

8:06

por Fernando Soares Campos

Quando cheguei ao Rio de Janeiro no final dos anos 1960, logo me enturmei. Alguns dos meus amigos eram, como eu, marinheiros vindos da Escola de Aprendizes Marinheiros da Bahia; com outros, eu tinha laços sanguíneos, parentes que moravam no Estado da Guanabara há muitos anos, desde que o Rio era o Distrito Federal, a capital do Brasil. Já contava também com alguns amigos cariocas da gema. 

Certa ocasião, um carioca amigo meu me perguntou: "O que é que Alagoas tem?" 

Estávamos falando do nosso turismo doméstico. Ele queria saber do potencial turístico do nosso Estado. Eu não hesitei, passei a batucar na mesa do bar, onde já havíamos entornado umas duas dezenas de chope, e respondi cantarolando trecho de uma música de Dorival Caymmi:

 

Tem torço de seda, tem!

Tem brincos de ouro, tem!

Corrente de ouro, tem!

Tem pano da costa, tem!

Tem bata rendada, tem!

Pulseira de ouro, tem!

Tem saia engomada, tem!

Sandália enfeitada, tem... 

Foi aí que ele me interrompeu e, revelando estranheza, falou: "Peralá! Quem tem tudo isso aí, como na música do Caymmi, é a baiana".

Em resposta, perguntei: "Você acha que somente as baianas utilizam essas coisas? As alagoanas também fazem uso de tudo isso". E, ufano, acrescentei: "Temos praias que são únicas! Em lugar algum, tem praias iguais às de lá!" Falava e fazia cara de saudosista, dando a entender que, quando aqui eu morava (há três anos, estou de volta), todos os dias frequentava as praias de Maceió e dos litorais norte e sul do Estado. Na verdade, nasci e me criei no Sertão, em Santana do Ipanema. Eventualmente ia a Maceió e, nessas eventuais ocasiões, somente umas duas vezes tomei banho de mar.

Ele, que até ali só tinha olhos para Copacabana, Ipanema e Leblon (naquela época, as praias da Barra da Tijuca ainda eram praticamente desertas), disse que já tinha ouvido falar que as praias alagoanas eram "paradisíacas".

Concordei e dei continuidade à nossa discussão que, àquela altura, sob o efeito dos chopes, já beirava um bate-boca entre bairristas obcecados pelos seus lugares de origem. 

No final da farra, ele batucava na mesa e cantava Cidade Maravilhosa, e eu emendei com um sucesso nacional de Luiz Wanderley:

Eu vou cantar o coco do gogó da ema

Responda este coco do gogó da ema

Eu vou dançar o coco no gogó da ema

Que o coco é mais gostoso no gogó da ema

 

Na Terra das Alagoas tem coquista de primeira

Que até no meio da feira canta o seu rojão

De ganzá na mão naquela ribeira

Arapiraca, Palmeira, Colégio e Lajedo

Gostei de Penedo e Santana do Ipanema

Mas o coco é mais gostoso no gogó da ema

 

Em outra ocasião, a bordo do submarino em que estive embarcado por cerca de três anos, rolou um papo sobre literatura. Era muito comum se desenrolar esse tipo de debate entre sargentos, cabos e marinheiros, enquanto realizávamos algumas tarefas na praça de máquinas. As unidades de Marinha sempre foram aquilo que poderíamos chamar de "ambiente cosmopolita", visto que ali se encontravam pessoas de toda parte do Brasil; inclusive, muitos descendentes diretos de imigrantes estrangeiros, gente das colônias das regiões Sul e Sudeste.

 

Numa dessas conversas em que cada um buscava destacar seu Estado como o mais culto, erudito e instruído, os do Sul faziam menção a Érico Veríssimo, Mário Quintana, Moacyr Scliar, entre outros. Os nordestinos lembravam os seus clássicos conterrâneos, alguns famosos em âmbito nacional e até mesmo internacional: José de Alencar, Jorge Amado, Manuel Bandeira, Nelson Rodrigues... Quase gritando e com o indicador apontando para o alto, lembrei Graciliano Ramos. Então, o foco mudou para cinema. Logo notei que, exceto eu, todos os outros haviam assistido ao filme Vidas Secas (1963), mas somente eu havia lido o romance que deu origem ao filme. Ainda citei Breno Accioly, o ilustre contista santanense, mas nenhum deles o conhecia. E eu, até ali, só havia lido um único conto dele: João Urso.

 

10ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas

 

De 11 a 20 de agosto acontecerá a 10ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas, em Maceió, sob os auspícios da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e Edufal, contando ainda com o apoio do Governo do Estado de Alagoas e da  Fundepes.

 

Imaginemos se vivos estivessem os alagoanos que ocuparam cadeiras na ABL. Assistiríamos suas palestras e pegaríamos autógrafos em suas obras. São apenas cinco, mas vejamos só o time: Aurélio Buarque de Holanda, Pontes de Miranda, Guimarães Passos, Goulart de Andrade e Lêdo Ivo. Poderia ter sido tantos outros, como, por exemplo, Graciliano Ramos, hoje consagrado como um dos mais importantes escritores em língua portuguesa, ou Jorge de Lima, poeta e romancista, que, além de escritor, era médico, como o contista Breno Accioly. Isso fazendo referência apenas à velha guarda literária do nosso Estado.  Atualmente, muitos outros alagoanos poderiam se tornar membros da ABL, caso os critérios para suas admissões ainda fossem baseados nas habilidades e competência do escritor no trato com estas “pretinhas” do teclado.

 

Mas o que é mesmo que Alagoas tem?

 

Tem praias deslumbrantes, tem!

Tem coco na roda de samba, tem!

Tem sururu de capote, tem!

Tem siri mole ao coco, tem!

Tem umbuzada sertaneja, tem!

Tem poetas repentistas, tem!

Tem mergulho em Galés de Maragogi, tem!

Tem Cânions do São Francisco, tem!

Tem Piscinas naturais no mar de Pajuçara, tem!

Tem a imponente Catedral Metropolitana, tem!

Tem um povo hospitaleiro, tem!

 

E tem muito mais...

 

Para se hospedar em Maceió, recomendo o estrelado

Hotel Holiday In Express, na praia de Ponta Verde.

Fernando Soares Campos

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