Guerra lá fora e aqui dentro: algumas considerações

Adilson Roberto Gonçalves

Outra guerra, novas informações desencontradas. O famoso jogo de estratégia War já colocava toda a região da Ucrânia sob o nome Moscou, talvez considerando somente o aspecto histórico, sem se preocupar com as nuances locais posteriores. No mais, no jogo a força vem dos dados e exércitos de plástico, não de soldados de carne e osso e armamentos de chumbo e outros metais.

Aqui temos uma guerra cultural, antes impossível de ser pensada: existe uma destruição da cultura como agenda eleitoral do despresidente do país e seus asseclas. Sim, é uma conclusão precisa feita por vários ativistas culturais, pois assim é o modus operandi padrão de governos autoritários e nazifascistas. Porém, como explicar o número grande de artistas e envolvidos com a cultura que apoiam tal desgoverno brasileiro? Suicídio cultural é uma nova prática artística?

Triste e preocupante

É um triste e preocupante sinal dos tempos de ignorância quando são cancelados eventos relacionados à cultura russa, incluídas leituras e análises de Dostoiévski em seu bicentenário. Nem “Main Kampf”, de Hitler, símbolo do nazismo, foi banido e continua sendo estudado devido a sua importância histórica.

Na radiografia que se faz sobre as democracias doentes, há que se acrescentar que a contribuição brasileira para essa devastação vem de uma pantomima de mandatário, fiel escudeiro da estratégia de Steve Bannon, trazida pela prole do despresidente que foge da justiça para não expor os crimes praticados. Mas aguentemos os pouco mais de 300 dias que nos separam de uma nova e sóbria política governamental.

O imperialismo possui cores diferentes a depender da imprensa que o noticia. Pode-se contextualizar os motivos da guerra na Ucrânia, mas a morte de pessoas, especialmente civis, é algo indefensável. Esses dilemas deram um nó em parte da esquerda brasileira. No mais, não creio que Putin esteja tendo reveses ou surpresas quanto a embargos e outros impedimentos econômicos. Tudo parece seguir um plano cuidadoso. Assim, ficou estranho a Folha de S. Paulo chamar a China de “emergente” em recente editorial ao avaliar a situação econômica do conflito na Ásia. No mais, há que se justificar a posição de Xi Jinping: adversários e aliados em guerras não se revelam de imediato. Os EUA, no início da Segunda Guerra Mundial, ainda não tinham claro se as ações alemãs na Europa eram ilegítimas. Somente escolheram um lado depois de Pearl Harbor.

Apenas à guisa de amenizar a situação, se “sanções” não funcionam, chamemos as Dalilas para resolver a questão. A guerra é feminina apenas na gramática e masculina tóxica, literalmente, na realização.

Adilson Roberto Gonçalves, pesquisador da Unesp, membro da Academia de Letras de Lorena, Academia Campineira de Letras e Artes e Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Campinas.

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