Engenho e arte na literatura em língua portuguesa

José Eduardo Agualusa é o mais cotado para receber o Prêmio Camões de 2021, cuja comissão julgadora se reunirá no próximo 20 de outubro no Rio de Janeiro para a decisão. Nascido em Angola, migrou para Portugal onde desenvolve sua literatura peculiar e já reconhecida por possuir destaque especialmente ao centrar nos personagens.

Adilson Roberto Gonçalves

Ele iniciou estudos agronômicos, mas não deu continuidade. O moçambicano Mia Couto também tem uma vivência na área científica, com formação e atuação na biologia. Minha tese é saber se inspirações mais técnicas ou científicas para a literatura tornam-na melhor. Seriam, portanto, escrevivências projetadas ou simuladas que trariam um verniz menos rebuscado e mais dinâmico aos escritos. Pressuposto a se confirmar, tomando por base um dos poucos engenheiros que conseguiram mesclar o conhecimento acadêmico com o reconhecimento na literatura que foi Euclydes da Cunha.

Favoritíssimo

O livro de Agualusa “A sociedade dos sonhadores involuntários” atinge apenas a posição 1286 no ranking da Amazon de obras de ficção literária. A título de comparação, Mia Couto, outro africano premiado pelo Camões em 2013 figura na lista dos “100 mais” com seu “Terra sonâmbula”. Confirmada a premiação, a tendência é disparar o interesse pelo autor angolano, especialmente no Brasil que ainda pouco conhece da produção africana em português.

Agualusa é favoritíssimo ao prêmio, segundo fonte segura, mas com a possibilidade da surpresa, como sói acontecer em tais certames. Há um rodízio não declarado de países, especialmente entre Brasil e Portugal, intercalando-se autores africanos, que seria o caso neste 2021. Os dois últimos brasileiros a receberem a honraria foram Raduan Nassar, em 2016, e Chico Buarque de Hollanda, em 2019. Ambos com a devida polêmica, pois escritores da liberdade que são não se coadunam com os governos golpistas e autoritários vigentes no país nesses anos.

Adilson Roberto Gonçalves, pesquisador da Unesp, membro da Academia de Letras de Lorena, Academia Campineira de Letras e Artes e Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Campinas.

 

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