A batalha perdida pela mídia

O crescimento avassalador das ideias conservadoras no Brasil tem uma causa principal: o amplo e irrestrito domínio que o pensamento neoliberal estabeleceu no País através da monopolização da mídia.

As esquerdas perderam totalmente a grande batalha pelos corações e mentes dos brasileiros na medida em que, quando no governo, foram incapazes de criar um sistema alternativo de comunicação que fizesse o contraponto ao sistema ideológico de lavagem cerebral montado pela grande burguesia nacional, sempre associada aos interesses do imperialismo.

Uma prova de que a derrota das esquerdas nessa batalha ideológica foi enorme, é que até mesmo as expressões "burguesia" e "imperialismo" foram banidas dos meios de comunicação e parece que até mesmo os representantes da esquerda têm medo de utilizá-las.

As maiores chances de estabelecer um confronto ideológico contra o receituário neoliberal foram perdidas pelos governos de Lula e Dilma, principalmente do primeiro, quando, fortalecidos pelo alto desenvolvimento econômico e social que o Brasil experimentou a partir de 2002, preferiram escolher o caminho da composição com os grandes meios de comunicação, na esperança de que assim pudessem ser neutralizados.

As escandalosas verbas de publicidade que os governos do PT atribuíram a Rede Globo, com a expectativa de que com isso pudessem comprar uma certa imparcialidade da emissora, logo se mostrou equivocada. Ao primeiro sinal de crise, a Globo se alinhou ao lado da imprensa mais venal do País, representada pela Revista Veja, na campanha que levou a derrubada de um governo legitimamente eleito.

Hoje, os espaços para uma mídia independente se restringem às redes sociais e a alguns sites, como é o caso aqui do Sul21, em meio a um mar de jornais, revistas, emissoras de rádio e televisão, todos falando a mesma linguagem antipopular, tentando convencer os brasileiros das vantagens de sermos governados por figuras com Temer, Sartori e Marchezan.

As pessoas, que por opção própria se recusam a assistir a Rede Globo e a RBS, que não querem ler a Revista Veja ou o jornal de Zero Hora, são submetidas a outro tipo de pressão ideológica. Há pouco tempo uma vereadora de Porto Alegre reclamou que os postos públicos de saúde tinham em suas salas de espera telas de televisão com a programação da Globo ou de canais a ela filiados.

Como um novo "big brother", o cerco às pessoas é total. Bares, restaurantes, hospitais, academias de ginástica, em qualquer local onde pessoas esperam para serem atendidas ou praticam algum tipo de atividade em conjunto, lá estão as telas de televisão sempre com os mesmos programas.

Meu amigo, o Dr. Franklin Cunha, lembra que nos consultórios médicos e odontológicos, onde não seria de bom tom a existência de telas de televisão, já que seu público é, teoricamente, de um padrão cultural mais alto, a lavagem cerebral se faz através de revistas e jornais.

Analista do comportamento de seus ex-colegas, Franklin diz que jamais encontrou uma Carta Capital, por exemplo, nessas salas de espera. Quem quiser ler alguma coisa antes de ser atendido, precisa se contentar com Veja (presente em 9 de cada 10 consultórios), Isto É, Época e a imbatível, Caras (todos têm Caras) e uma que outra das revistas, ditas para mulheres.

Aliás, o sucesso dessas tais revistas femininas é mais uma prova de que a lavagem cerebral é um sucesso e depõe contra as ativistas dos movimentos em defesa da emancipação das mulheres.

Estou propondo ao Franklin criarmos um teste para conhecer o nível ideológico de nossos conhecidos. Quem citar como fonte de qualquer informação sobre política, o Jornal Nacional, a Revista Veja ou Zero Hora, só poderá conversar conosco sobre amenidades, como previsão do tempo ou no máximo algum assunto relacionado ao futebol.

Mulheres que tenham assinatura de Marie Claire, por exemplo, serão avaliadas apenas pelos seus atributos estéticos e nos recusaremos a discutir com elas qualquer assunto que tenha alguma relação com a política, mesmo correndo o risco de nos chamarem de machistas.

Pior seria nos chamar de alienados.

Marino Boeira é jornalista, formado  em História pela UFRGS

 

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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