Senadores mexicanos denunciam que governo infiltrou agentes nos protestos contra violência

Vanessa Martina Silva | São Paulo - Opera Mundi

Mobilização contra o desaparecimento dos 43 estudantes de Ayotzinapa deixou mais de 30 pessoas detidas, após confronto entre polícia e manifestantes na Cidade do México

Senadores do PRD (Partido da Revolução Democrática) e do PT (Partido do Trabalho) e o presidente do Morena (Movimento de Regeneração Nacional) denunciaram que o governo federal está por trás dos atos violentos verificados durante as manifestações, consideradas históricas, do último dia 20 de novembro, quando também foi comemorado o 104º aniversário da Revolução Mexicana.

De acordo com a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSPDF), 31 pessoas foram presas e 18 policiais ficaram feridos após a jornada de protestos da última quinta-feira. Ao fim do movimento na Cidade do México, houve confronto entre a polícia e um grupo de encapuzados, que lançaram bombas molotov contra o Palácio Nacional. Os incidentes mais graves ocorreram próximo ao Aeroporto Internacional do México, onde um grupo de jovens encapuzados, que supostamente portavam bombas molotov, pedras, foguetes e fogos de artifícios. tentou impedir a passagem que dá acesso ao terminal.

Os partidários do PRD Dolores Padierna e Alejandro Encinas afirmaram que o Executivo retorna ao ambiente vivenciado em outubro de 1968 “com falcões [grupos paramilitares treinados nos Estados Unidos] plantados nos protestos”. Os manifestantes, em número cada dia maior, protestam contra as evidências de corrupção e a falta de respostas do governo para solucionar o caso dos 43 jovens desaparecidos em Iguala.

Encinas ressaltou que os provocadores infiltrados nas marchas “estão plenamente identificados pelos sistemas de inteligência e a polícia do país permite que eles atuem”. De acordo com ele, os provocadores que andam com máscaras ou encapuzados não foram detidos, mas sim os estudantes que, de forma pacífica, protestavam.

Os políticos também manifestaram preocupação diante da ameaça do governo de usar a força pública contra os manifestantes, em vez de resolver as demandas dos familiares dos estudantes.

Isso porque ao voltar da viagem que fez à China e à Austrália, o presidente Enrique Peña Nieto afirmou que usará a força, se necessário, para conter atos violentos presentes nas manifestações. “Se o que demandamos é Justiça e que os responsáveis por esses atos paguem, que a lei seja aplicada em todos os seus termos, não pode ser através de atos de vandalismo”.

Para o líder do PT no Senado, Manuel Bartlett, o mandatário adota uma postura “fascista” e ameaça “com o uso da força pública” apesar de milhares de cidadãos terem marchado de forma pacífica.

O presidente do Morena, Martí Batres, acusou o governo de suprimir a voz de milhões de pessoas utilizando a provocação. “Se edita a história dos falcões, mas já não são luvas brancas, e sim capuzes”.

O coordenador do PRD na Câmara de Deputados, Miguel Alonso Raya, ressaltou que o uso da força pública contra quem se opõe ao projeto de nação não vai resolver os problemas da administração, que já começa a dar sinais de ingovernabilidade.

Histórico

Em 2 de outubro de 1968, o Exército e forças de segurança mexicanos mataram à queima-roupa um número desconhecido de estudantes na Praça Tlatelolco, quando foi realizada a mais importante mobilização da segunda metade do século 20 no México. Os protestos estudantis, brutalmente reprimidos, são considerados uma ruptura no sistema político no país.

A praça onde estavam os jovens foi cercada pelo Exército e franco-atiradores dispararam contra a multidão. Mais de 500 pessoas foram presas e o número de mortos é desconhecido, apesar de o governo reconhecer oficialmente 39 mortos civis e dois militares. 46 anos depois, ninguém foi punido.

O documentário "Tlatelolco: Las claves de la masacre" reúne todo o material cinematográfico conhecido sobre os acontecimentos de 2 de outubro de 1968 e identifica os chefes militares que provocaram a matança.

Veja o vídeo (em espanhol):

 

http://www.patrialatina.com.br/editorias.php?idprog=54ac2d9e6b288f513abf0c1e0633d672&cod=14665

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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