China acusa Dalai Lama de 'enganar a comunidade internacional' ao dizer que vai renunciar ao seu poder político

Por ANTONIO CARLOS LACERDA

Correspondente Internacional

PEQUIM/CHINA (PRAVDA.RU) - O governo chinês demonstrou ceticismo diante do anúncio do Dalai Lama de ceder seu poder político a representantes "livremente eleitos", assegurando que as palavras do líder tibetano são "um truque para enganar a comunidade internacional".

Líder espiritual dos budistas tibetanos, o Dalai Lama anunciou a intenção de ceder o poder político formal que ostenta como chefe das autoridades tibetanas no exílio a um representante "livremente eleito".

14719.jpegEm discurso no 52º aniversário da fracassada insurreição tibetana contra a China, o Dalai Lama, que vive exilado na Índia, assegurou que o desejo de "devolver a autoridade" não tem relação com uma vontade de "se esquivar de responsabilidades. É pelo bem, a longo prazo, dos tibetanos. Não porque me sinto desanimado", acrescentou.

Na cidade indiana de Dharamsala, onde vive exilado desde 1959, o Dalai Lama disse que na próxima sessão do Parlamento, segunda-feira, proporá "formalmente" uma emenda à Constituição para tornar possível seu desejo de "transferir a autoridade" a um líder eleito.

A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Jiang Yu, qualificou o Nobel da Paz de "exilado político sob o disfarce de um religioso", além de acusá-lo de estar "envolvido em atividades destinadas à divisão da China".

Jiang também ressaltou que o anúncio da aposentadoria política do Dalai Lama não é uma novidade, já que ele mencionou abertamente essa possibilidade nos últimos anos. Jiang também lançou críticas contra o Governo tibetano no exílio, ao qual qualificou de "organização política ilegal não reconhecida por nenhum país".

A porta-voz da chancelaria chinesa destacou que a China não mudará sua política no Tibete e que esta continuará a ser centrada no desenvolvimento e na estabilidade dessa região, que as tropas comunistas ocuparam em 1951, embora o regime se refira ao caso como uma "libertação".

O presidente da região autônoma do Tibete, Padma Choling, se mostrou contra as propostas de mudança na figura do Dalai Lama, assegurando que "devem ser respeitadas as instituições históricas e os rituais religiosos do budismo tibetano".

A morte do Dalai Lama no futuro pode desencadear mais tensões entre o regime comunista chinês e o Governo tibetano no exílio. O presidente da Assembléia Popular do Tibete, Qiangba Puncog, assinalou durante esta semana que a futura morte do Nobel da Paz "poderá ter pequenas repercussões devido a fatores religiosos" e levantou a possibilidade de haver "incidentes" na região

O Dalai Lama disse que vai propor uma emenda constitucional que lhe permita renunciar às suas funções durante a próxima sessão do Parlamento tibetano neste mês.

"Desde a década de 1960, manifestei que os tibetanos necessitam de um líder livremente eleito pelo povo tibetano, a quem eu possa delegar o poder. Agora, claramente chegou o momento de pôr isto em prática", disse o Dalai Lama.

ANTONIO CARLOS LACERDA é Correspondente Internacional do PRAVDA.RU. E-mail:- [email protected]

 

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey