Lugar marcado na Academia Feminina de Letras para as Poetas da Paz

Clevane Pessoa e Cecília Meireles, essas duas poetisas brasileiras, poetas como a própria Cecília declarou ou Poietisas, nome que Clevane deu àquelas que têm uma trajetória de vida traçada pela poesia, comungam não só a preocupação em nomear as poetisas/poetas/poietisas, mas de escrever versos humanistas.

CLEVANE PESSOA passou a ocupar a cadeira 05 – CECÍLIA MEIRELES na AFEMIL – ACADEMIA FEMININA MINEIRA DE LETRAS no dia 05 de novembro. Ela comentou por telefone emocionada que se sente honrada em representar Cecília. Há quatro anos Clevane também foi convidadada pela AFEMIL, mas não pôde assumir por questões pessoais.

Um das características marcantes de Clevane é a solidariedade. E é por esta razão que também temos a honra de tê-la como vice-presidente do Instituto Imersão Latina (IMEL). Em viagem a Camburiú nesta semana, ela começou a articular a participação do IMEL em alguns eventos por esta nossa América.

"Clevane escreve desde os 9 anos em prosa e verso, é psicóloga, artista plástica – ilustradora, palestrante, divulgadora cultural, revisora e uma série de outros comprometimentos ligados à arte em geral, incluindo oficinas literárias e também de psicologia. Além de ser uma pessoa generosa, amiga, com quem se pode contar nas horas alegres, tristes e nas mais inusitadas."

Assim a também escritora ANGELA TOGEIRO, que representa ANITA GARIBALDI da AFEMIL apresentou a amiga no discurso de posse.

Abaixo reproduzo o poema Guerra de Cecília Meireles e em seguida Miligramas de Clevane Pessoa, embaixadora da paz. Os versos abaixo mostram que o repúdio à violência é uma temática das duas escritoras.

GUERRA
(Cecília Meireles)


Poema originalmente publicado em 1945


Tanto é o sangue que os rios desistem de seu ritmo, e o oceano delirae rejeita as espumas vermelhas.
Tanto é o sangue que até a lua se levanta horrível, e erra nos lugares serenos, sonâmbula de auréolas rubras, com o fogo do inferno em suas madeixas.
Tanta é a morte que nem os rostos se conhecem, lado a lado, e os pedaços de corpo estão por ali como tábuas sem uso.
Oh, os dedos com alianças perdidos na lama... Os olhos que já não pestanejam com a poeira... As bocas de recados perdidos... O coração dado aos vermes, dentro dos densos uniformes...


Tanta é a morte que só as almas formariam colunas, as almas desprendidas... - e alcançariam as estrelas.
E as máquinas de entranhas abertas, e os cadáveres ainda armados, e a terra com suas flores ardendo, e os rios espavoridos como tigres, com suas máculas, e este mar desvairado de incêndios e náufragos, e a lua alucinada de seu testemunho, e nós e vós, imunes, chorando, apenas, sobre fotografias,
- tudo é um natural armar e desarmar de andaimes entre tempos vagarosos, sonhando arquiteturas.

Foto pequena


Milagrama

(Clevane Pessoa de Araújo Lopes)

publicado em www.clevanepessoa.net

Um cogumelo de fumaça imensurável
resulta da bomba
insulta a pomba da Paz,
que enegrecidas penas,
revoa a fremir de dor,
gorgulhante...
e as penas se desprendem.
Quais as peles das pessoas.
Os olhos se enevoam,
mil tipos de cãncer
desorganizam as células
ou as célula,desorganizadas
provocam mil tipos de Câncer?
Fogo na garganta,voz trancada,
vozes em sussurros,
vozes aos gritos...


E o Cosmos, perplexo,
porque o resto da humanidade perplexa
vira o rosto,
não faz o gesto,
a sentir-se impotente...
Mas o povo japonês se refaz de si,se reconstrói
e "da solidão de Hiroshima",
que tanto impactuou o jornalista atento,
o trovador solidário e observador,brotaram as flores do potencial humano,
testadas à exaustão.
E nasceram novas Horoshimas e Nagasakis,
mesmo que os criminosos
que pensam serem donos do Poder
(NÃO o são,"Não o são")
continuem impunes,
o que importa,nesses sessenta anos,
é que as duas Phoenix se ergueram das próprias cinzas!

Foto grande

Fonte: Imersaolatina

Fonte: Meireles, C. 1993. Poesia completa: volume único. RJ, Nova Aguilar.

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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