O relançamento, em cópia restaurada, do documentário "Linha de Montagem", de Renato Tapajós, representa uma façanha. Por muito pouco, o filme realizado entre 1979 e 1981 e lançado em 1982 não foi apreendido pela polícia e depois destruído pelo bolor.
O filme retrata o surgimento das maciças greves dos metalúrgicos no ABC paulista
O tema do filme, que entrou em cartaz nesta sexta (19) em São Paulo, Campinas e Brasília, é o surgimento das maciças greves dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo, em São Paulo, no final dos anos 70, de onde surgiria um novo líder, Luiz Inácio da Silva, ainda sem ter incorporado ao próprio nome o "Lula", que era o seu apelido na fábrica e no sindicato de São Bernardo, que ele presidiu.
Por esse motivo, o documentário que chega às telas é uma rara oportunidade de analisar o surgimento de um movimento social, que contribuiu para o fim da ditadura e deu origem a um novo partido, o dos Trabalhadores.
Imagens das assembléias do estádio de Vila Euclides, em São Bernardo do Campo, às vezes lotadas com cerca de 100.000 operários, são uma prova da força das manifestações. Isso num momento em que ainda estava em vigor a ditadura militar, que usava contra os líderes grevistas instrumentos como a Lei de Segurança Nacional, que levou o próprio Lula à prisão.
A cópia que deu origem às que chegam às telas, restaurada por uma verba de 860 mil reais da Petrobras, aliás, quase se perdeu. Ficou por quase 20 anos, a partir de 1984, depositada na Cinemateca Brasileira. Sem condições ideais de conservação, quase foi consumida pelo bolor. A restauração exigiu que fossem tratados um a um cerca de 98.000 quadros, além de um trabalho de transferência para película.
Lançado pela primeira vez em 1982, época em que ainda havia censura prévia, o documentário foi exibido publicamente pela primeira vez na sede do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, onde cabiam cerca de 2.000 pessoas. No meio da sessão, chegaram agentes da Polícia Federal, com ordens de apreender o filme -- que não tinha certificado de censura.
Depois de uma negociação entre os policiais, Lula, Chico Buarque de Hollanda (autor da trilha do filme) e o então prefeito de São Bernardo, Tito Costa, decidiu-se que o filme seria entregue, rolo a rolo, às autoridades. Ao invés disso, saiu pela janela diretamente para a sacola de uma faxineira, Maria Elicélia Feitosa da Silva, a Zelinha, que o encaminhou para outras mãos.
Esta história, porém, não está em "Linha de Montagem" e sim em outro documentário, "Peões", de Eduardo Coutinho. O filme de Coutinho, aliás, complementa este trabalho, por abordar igualmente o universo operário.
Fonte: www.vermelho.org.br
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