Cuba – uma breve história de um povo de coragem

Cuba – uma breve história de um povo de coragem - I

A secretária de Estado do governo terrorista de George Bush deu uma entrevista à imprensa de seu país fazendo um apelo para que Cuba “se transforme numa democracia e os presos políticos sejam libertados”.Ao que eu saiba os únicos presos políticos na ilha e sem o mínimo respeito aos direitos fundamentais do homem são os que estão na base militar de Guantánamo, território cubano ocupado pelos Estados Unidos.

Laerte Braga

A secretária de Estado do governo terrorista de George Bush deu uma entrevista à imprensa de seu país fazendo um apelo para que Cuba “se transforme numa democracia e os presos políticos sejam libertados”.

Ao que eu saiba os únicos presos políticos na ilha e sem o mínimo respeito aos direitos fundamentais do homem são os que estão na base militar de Guantánamo, território cubano ocupado pelos Estados Unidos.

Cristóvão Colombo desembarcou em Cuba em 28 de outubro de 1492 e acreditou estar chegando a Ásia.

Foi Diogo Velásquez, representante da Coroa da Espanha quem iniciou o processo de conquista da ilha e já ali encontrou o primeiro adversário. O cacique Hatuey. Prisioneiro dos espanhóis (o povo do rei da coroa de lata), fugiu da prisão no Haiti e acabou sendo recapturado e queimado vivo pelos cristãos ocidentais de sua majestade.

Para não afetar os negócios do reino os espanhóis deram início a um processo de colonização submetendo a população indígena ao trabalho escravo. E de uma tal forma e com tal barbárie que no século XVI os índios já não mais existiam em Cuba.

A velha receita das grandes potências foi buscar o negro na África. A monocultura, cana de açúcar e tabaco, foram escolhidos como produtos preferenciais para a exploração e o saque dos colonizadores.

Com a alta do preço do tabaco no início do século XVIII os lucros dos produtores foram de tal ordem que a Espanha, cristã, ocidental e sempre zelosa do bem de todos, decretou em 1716 a Lei do Estanco que proibia os “vegueros” de vender livremente a produção. Começa aí a história da colônia pela independência. Os primeiros movimentos partiram dos produtores de tabaco, a Insurreição dos Vegueros. Os chefes foram vencidos, presos e enforcados em 1723.

Só em 1821, influenciados pela independência da Venezuela e da Colômbia, retomam com força os movimentos de libertação. Nasce a sociedade secreta “Soles y Rayos de Bolívar”. Ramifica-se por toda a ilha. Os seus integrantes pretendiam tornar Cuba independente. São delatados, presos e condenados a prisão e ao exílio.

Estava lançada a semente da luta. Nascem movimentos pró independência dentro de Cuba, no México e nos Estados Unidos, mas todos são reprimidos e algumas lideranças, já permeadas pela idéia colonizadora, imaginam que o melhor para Cuba seria tornar-se um estado dos EUA. O próprio governo norte-americano trabalhava para fomentar essa idéia. Se pretendia tirar Cuba do jugo da Espanha e implantar o jugo dos EUA. Imaginavam que o chicote dos EUA seria mais brando que o chicote dos espanhóis.

Narciso López, um militar venezuelano, oficial do exército espanhol, foi para os EUA e organizou três tentativas de anexar Cuba, todas frustradas. Foi preso e condenado a morte em 1859. Várias das sortidas de López fracassaram por conta dos acordos feitos por baixo dos panos pelos governos norte-americano e espanhol.

Eram movimentos de independência surgidos a partir dos latifundiários cubanos, em função de interesses próprios, razão pela qual desejavam apenas melhorias nas condições para “negócios” e essas eram oferecidas pelos norte-americanos. Peritos no assunto.

Em 1868, o latifundiário Carlos Manuel de Céspedes consegue organizar um movimento revoltoso que se dissemina pela parte oriental da ilha, mas acaba perdendo força um ano depois. Tinha a “simpatia” dos norte-americanos. Uma trégua foi firmada e um partido chamado Autonomista nasceu pretendendo “organizar os negócios” dentro do chamado quadro institucional da monarquia espanhola”.

Assim como o grande empresariado brasileiro. Querem que os interesses do País sejam conduzidos por Washington, preservando sua condição de feitores do povo. A FIESP e seus braços tucanos e DEMocratas são o exemplo claro disso.

Como o processo de autonomia entrou no velho esquema do jogo de empurra, aquelas negociações que nunca terminam, renasceu novamente a idéia de independência e surge José Martí, o grande líder da independência do país. Martí funda o Partido Revolucionário Cubano, em 1891 e em 1895 tem início a revolução. Martí morreu em seguida em luta contra uma unidade militar da Espanha.

Como os resultados das forças rebeldes estivessem sendo positivos, a Espanha adotou políticas duras de repressão. Foram como sempre são colonizadores, desumanos, cruéis e criaram a “reconcentración”, ou seja, campos de concentração nas cidades e povoados, internando ali milhares de camponeses e suas famílias suspeitos de colaboração com os rebeldes.

Assim como os EUA fazem hoje no Iraque, em Guantánamo e no Afeganistão. As más condições sanitárias e a falta de alimentos causaram a morte de 50 mil camponeses.

Essas medidas enfraqueceram os rebeldes e mesmo em luta, em novembro de 1987, a Espanha concedeu a autonomia a Cuba, com vigência a partir de 1898, mas com regras que preservava seu poder e a exploração da economia.

Entra aí o “gigante do norte”.

A autonomia de Cuba causava grandes prejuízos aos interesses dos Estados Unidos que controlavam a indústria açucareira e o comércio exterior de Cuba. Em 1896 o presidente William McKinley decide pela intervenção na ilha.

A despeito das tentativas diplomáticas dos espanhóis os norte-americanos ocuparam a ilha e transformaram-na em colônia dos interesses dos EUA. Um tratado assinado em Paris, em dezembro de 1898, os espanhóis cederam Cuba aos Estados Unidos.

E em 1901 o governo norte-americano permitiu que uma Assembléia Constituinte montada segundo os seus interesses, promulgasse a “independência” da ilha, incorporando ao documento a chamada “Emenda Platt”, que concedia aos EUA o direito de intervir para “a preservação da independência cubana e a manutenção de um governo adequado à proteção da vida, propriedade e liberdade individual”.

Cuba vira protetorado norte-americano e os presidentes são meros governadores dos interesses do latifúndio e das grandes companhias dos EUA. Em três ocasiões na vigência da tal “Emenda Platt”, Cuba foi invadida e ocupada para garantir a tal liberdade.

Com a queda do ditador Gerardo Machado, que contrariava interesses dos EUA ao tentar eternizar-se no poder, surge Fulgêncio Batista, militar e fiel aos norte-americanos, sobretudo a Máfia e que em 1959 seria derrubado por uma revolução popular comandada por Fidel Castro.

CUBA – UMA BREVE HISTÓRIA DE UM POVO DE CORAGEM - II

Laerte Braga

Fulgêncio Batista era um sargento estenógrafo quando encabeçou um golpe militar contra o presidente Gerardo Machado, em 1933. Era mulato e assim o primeiro descendente afro a chegar ao poder. Num primeiro momento isso lhe valeu as simpatias populares que ampliou com medidas contrárias aos norte-americanos.

Passada a lua de mel e percebidos os verdadeiros propósitos de Batista, o general, se auto promovera, foi deposto e retorna eleito em 1940. Promulgou uma constituição de cunho liberal, foi novamente deposto e em 1952 dá novo golpe de estado com apoio de forças populares no pressuposto que o general retomaria as primeiras linhas de seu primeiro governo.

Cuba transforma-se numa sucursal das grandes companhias dos EUA. No campo o controle dos “negócios” do açúcar e do tabaco. Na cidade dos cassinos e bordéis. A "indústria” da prostituição passa a ser a mais rentável da ilha.

O governo de Batista suprime liberdades individuais, associa-se às máfias norte-americanas, aos grandes empresários do Norte e não demora a surgir a reação popular ao regime de terror e barbárie do general Fulgêncio Batista.

A própria classe média começa a abandonar Batista. A violência e corrupção do regime eram às claras. As prisões estavam lotadas dos adversários de Batista e por um breve período, dentre eles, o advogado Fidel Castro, nascido em família de alta classe média.

A área urbana possuía forte infra-estrutura e o capital proveniente do submundo ítalo-americano (dos Estados Unidos) financiava grande parte da economia.

Batista era senhor de um grande bordel. Registre-se que àquela época o BBB ainda não havia aparecido, tudo era ao vivo em Havana e nem Boninho havia nascido. Só os predecessores.

Em março de 1953 um grupo de estudante liderados por José Antonio Etcheverria criam um Diretório Revolucionário e um grupo armado tenta invadir o palácio presidencial. Etcheverria foi assassinado e o grupo se dispersou.

Um outro grupo de estudantes iniciou novo movimento. Eram liderados pelo estudante de direito FIDEL ALEJANDRO CASTRO RUZ. A primeira ação do grupo foi uma tentativa de tomada do quartel de La Moncada. Muitos foram mortos, Fidel preso e condenado a 15 anos de prisão. Solto por interferência de alguns religiosos fugiu para o México e lá conhece Ernesto Guevara, o Chê. Começam a formar um movimento que chamam de Movimento 26 de Julho e iniciam a luta contra Batista. Foram 25 meses de guerrilha.

Em novembro de 1958, ERNESTO GUEVARA LINCHI DE LA SERNA inicia sua marcha para Havana e no dia 1º de janeiro de 1959 Batista e seu governo fogem do país.

O curioso é que os comunistas tradicionais apoiavam Batista e viam Fidel com desconfiança. Foi assim anos mais tarde na Bolívia, onde fracassaram e não cumpriram os acordos feitos com a guerrilha de Guevara naquele país.

Fidel mobiliza a juventude, elimina o analfabetismo (40% da população) em um ano valendo-se de 100 mil jovens, faz a reforma agrária, desapropria propriedade de norte-americanos, indenizados pelos valores que declaravam ao imposto de renda cubano, cria atritos, por isso, com os Estados Unidos que, já no primeiro momento da revolução treinam militares de Batista para tentar derrubá-lo.

Fidel, que até então não era comunista aproxima da União Soviética e em dois anos declara marxista o governo de Cuba.

Em abril de 1961 cerca de mil e quinhentos exilados cubanos recrutados e patrocinados pela CIA (AGÊNCIA CENTRAL DE INTELIGÊNCIA), tentam uma invasão na Baía dos Porcos. Foram derrotados, 300 deles morrem e um mil e duzentos são feitos prisioneiros. Fidel leva-os a julgamento num estádio e a multidão de cubanos exigia que fossem fuzilados aos gritos de “paredón”. Castro, no entanto, troca-os por tratores e 50 milhões de dólares em alimentos e medicamentos.

A nova crise com os EUA surge quando os soviéticos implementam um conjunto de bases em Cuba, com mísseis nucleares e Kennedy, presidente dos EUA, bloqueia o país, impedindo os cargueiros da URSS de ali chegarem.

Um acordo põe fim à crise. A União Soviética desiste das bases e os norte-americanos aceitam respeitar a soberania da ilha.

A totalidade dos investidores dos EUA em Cuba, quando do regime Batista, declarava seus bens ao imposto de renda em valores irreais, abaixo, muito abaixo do que de fato possuíam. Castro quando desapropriou as terras e empresas dos EUA valeu-se desses dados e isso provocou revolta entre os latifundiários e empresários, levando os Estados Unidos a decretar um bloqueio econômico, a forçar países latino-americanos a aceitarem a expulsão de Cuba da OEA (Organização dos Estados Americanos).

Esse tipo de reação de organizações terroristas como a Casa Branca persiste até hoje. É parte intrínseca do capitalismo. A sonegação, a exploração do homem pelo homem não é privilégio da FIESP (Federação das Indústrias de São Paulo) e nem da DASLU. Vem de longe, aqui é um dos braços das máfias centrais.

A “Emenda Platt”, que no início do século passado, tornou Cuba um protetorado dos EUA, assegurando o direito de explorar a ilha, deixou ressentimentos e o anti-americanismo dos cubanos ganhou força com as posições dos sucessivos governos daquele país contra Fidel.

Cuba possui um serviço de saúde universal, a rigor não tem desemprego, educação de boa qualidade a todos os cubanos (não existe analfabetismo) e com a ascensão de governos de esquerda (Chávez, Lula, Morales) em países da América do Sul, o retorno dos sandinistas ao poder na Nicarágua (Daniel Ortega), começa a romper o bloqueio norte-americano.

Um detalha importante. EUA e Espanha são aliados hoje em ações contra Cuba e o governo socialista.

Os níveis de crescimento de Cuba na atualidade são altos e as perspectivas de melhoria na economia são reais, o que mantém preservadas as bases do socialismo lançadas e consolidadas por Fidel.

O prestígio do líder cubano foi fator de preservação do movimento revolucionário.

A era RAUL CASTRO que se inicia a rigor hoje, como disse o próprio presidente, mantém intactos os ideais revolucionários.

Cuba foi decisiva na consolidação da independência da Angola, ameaçada pelos portugueses e norte-americanos e o fascínio da revolução, na década de 60 do século passado, levou os Estados Unidos a patrocinarem e a fomentar golpes militares de extrema-direita na América Latina.

Ditaduras cruéis a sanguinárias instalaram-se em países como o Brasil, o Chile, a Argentina, outras foram mantidas como no Paraguai, na Bolívia e na América Central, enquanto a “democracia” mexicana era administrada por Washington, até a conquista definitiva da colônia com o NAFTA (tratado de livre comércio entre México, Canadá e EUA).

Fernando Moraes no seu livro “A Ilha”, best-seller até hoje, amigo pessoal de Fidel, narra um fato interessante.

Nos primeiros momentos da revolução o governo importou um touro reprodutor do Canadá para criar um rebanho em Cuba. O touro não funcionou e custaram a perceber que o dito cujo viera de um país frio para um país onde o calor é permanente. Um curral com ar condicionado e a temperatura do Canadá permitiu que o rebanho cubano fosse criado.

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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