Iñárritu fala sobre o seu filme "Babel" e cinema mundial

O mexicano Alejandro González Iñárritu foi a grande atração internacional de segunda-feira no Festival do Rio no Brasil, mostrando à noite, numa sessão de gala no Cine Odeon BR, seu novo filme, "Babel", que lhe deu o prêmio de direção em Cannes, em maio.

“Babel” talvez seja o filme que Fernando Meirelles quisesse realizar, desde que anunciou seu projeto de refazer, para o século 21, o clássico "Intolerância", de David W. Griffith, nos primórdios do cinema mudo. Estrelado por Brad Pitt (envelhecido para representar um norte-americano de meia-idade), Cate Blanchett, Gael García Bernal e pela japonesa Kôji Yakusho, o filme percorre uma cadeia de acontecimentos gerada por um inocente tiro de fuzil dado a esmo no deserto do Marrocos, ecoando nos EUA, no México, no Japão e na própria África.

"Babel" discute o mundo globalizado por meio de cenas desenroladas em três continentes - Ásia, África e na fronteira México/EUA. O roteiro arma um mosaico mostrando como um acontecimento aqui tem desdobramentos (e origem) em outras partes do mundo. É impactante a uma primeira visão, mas é o tipo do filme que revela o artifício de sua construção dramática, quanto mais se pensa nele, comunicou estadão.com.br.

Ontem o mexicano famoso declarou que está cansado das ideologias empregadas para justificar "políticas paranóicas e as guerras preventivas". Para Iñarritu, que também dirigiu "Amores Brutos" e "21 Gramas", o cinema é uma forma de apresentar suas críticas. "Foi uma necessidade pessoal de falar de temas que estavam me causando muita dor, que vieram de uma necessidade de expressar o que eu sentia vivendo num país como os Estados Unidos", afirmou o cineasta a jornalistas. Seguindo seus preceitos, anteriormente demonstrados nos dois últimos longa-metragens, “Babel” fecha o que ele vem chamando de trilogia sobre a teoria do caos, segundo G1.com.br.

Segundo Iñarritu, seu filme trata de temas do século 21. "Estou cansado das ideologias e burocracias do mundo atual", afirmou. A idéia do filme surgiu antes mesmo de iniciarem as filmagens de seu trabalho anterior, há cerca de três anos. Em crônicas familiares (todos os personagens trazem de fora do filme conflitos nas relações interpessoais, com filhos e em sociedade), "Babel" fala de arrogância, discriminação, imigração, infância, armas, terrorismo, adolescência e desejos sexuais.

"O filme fala um pouco de política e social, mas com muitos comentários implícitos. Mostra como decisões de origem humana podem ser classificadas como atos de ameaça, o que os Estados Unidos classificam como terrorismo, que justificam as políticas paranóicas e as guerras preventivas", disse."Eu ficaria feliz se o filme abrisse um debate amplo sobre a família e a sociedade de hoje", acrescentou.

Para Iñarritu, o cinema não tem fronteiras, apesar de os líderes mundiais ainda insistirem em suas existências. O que, segundo ele, explica o fato de ser mexicano e assinar um filme de tamanha importância em Hollywood, a exemplo de outros cineastas latino-americanos.

"Ainda existem barreiras, não mais fronteiras. No entanto, as leis do terrorismo estão justificando o racismo e a xenofobia no mundo atual. Intolerância é uma palavra leve para o governo dos Estados Unidos, responsável pelas maiores contradições dos últimos anos."

Mais que responder a perguntas, o filme se propõe a fazer o espectador refletir, garante o cineasta. "A vida não tem final. Eu quero que o público pense e questione a partir do filme", disse ele a jornalistas.

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Author`s name Ekaterina Spitcina
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