Utopia III

Dário Moreira de Castro Alves (*)

Completa-se o quadro de três grandes pensadores, escritores e filósofos humanistas, da época renascentista, com a inclusão do nome de Pico della Mirandola (1463-1494), mais moço que os dois mais conhecidos – Thomas More (1478-1535) e Erasmo de Roterdão (1467-1536). É o mais jovem dos pensadores referidos. Pico della Mirandola faleceu aos 29 anos de idade, em Florença, numa localidade perto de Ferrara, na Emilia Romagna, antes da publicação das obras dos grandes mestres, isto é, antes de Elogio da Loucura, de Erasmo, em 1511, e de Utopia, de Thomas Morus, em 1516.

Seu pai, Giovanni Francesco Pico, príncipe do pequeno território de Mirandola, dotou o filho de assinalada educação clássica, com ilustres preceptores. Estudou, assim, as disciplinas clássicas em casa, depois leis canônicas em Bolonha, com notáveis mestres, e filosofia aristotélica em Pádua. Estudou grego, hebraico, árabe e aramaico, esta última a língua em que falou Cristo. Foi o primeiro mestre cristão a usar a cabala hebraica em apoio à teologia cristã.

Uma comissão papalina denunciou como heréticas treze das teses que Pico apresentou e a assembléia foi proibida pelo Papa Inocêncio VIII. Pico achou mais prudente fugir para a França, o que ele fez, mas lá foi preso. Seus estudos o associavam à Academia platônica, sob a proteção do príncipe florentino Lorenzo di Medici, e a curtas viagens a Ferrara. Pico ficou o resto da vida em Florença. Foi marcado com a pecha de herético pelo Papa Alexandre VI, um Borja. Beirando o fim do período de sua curta vida, caiu sob a influência do estritamente ortodoxo, Girolamo Savonarola, inimigo de Lorenzo di Medici.

Thomas Morus, seu nome latinizado, homem político, pensador, administrador de Henrique VIII, famoso este por seus vários casamentos e pela proclamação de heresia que levou ao cisma da Inglaterra diante da Santa Sé. Thomas Morus foi quem concebeu o nome e a teoria de Utopia, que significa “para nenhum lugar”. A Utopia, que chamemos de primeira foi, segundo escreveu o professor e filósofo português José Vitorino de Pina Martins, humanista clássico de nossos dias, que detém verdadeiramente toda a ciência do humanismo renascentista, e em 1998, com seu nome pessoal próprio, mas relatado pelo pseudônimo de Rafael Hytlodeu, ou Utopia III, com nomes e títulos pseudônimos.

Nomes dos lugares, cidades e Universidades são cifrados através do uso de pseudônimos. O próprio autor de Utopia III deu-se a si próprio o pseudônimo de Miguel Hytlodeu, descendente de Rafael, um lísico (lisboeta), que transmitiu a Thomas Morus noticias sobre a existência da Utopia, assim como suas instituições, usos e costumes. O autor da obra Utopia III escreveu-a em nome de Gerúsia de Amauroto, no final do segundo milênio depois do nascimento de Cristo.

O escritor que é José Vitorino de Pina Martins, professor jubilado da Universidade de Lisboa, que me dá a honra de sua amizade, já então era e continua a ser Presidente da Academia das Ciências de Lisboa e membro de várias Academias portuguesas e européias, de Roma, Londres, Madri, Salzburgo, Moscou. É Doutor Honoris Causa por Londres, Madri, Salzburgo.

A Utopia II, volumoso tomo de 500 páginas, foi escrita por Theodoros Deodato, humanista utopiano, mas o texto concluído e impresso por uma tipografia de Amauroto (Lisboa), quando o terremoto do século XVIII reduziu a escombros a cidade. Salvou-se da obra de Miguel Hytlodeu apenas uma última folha do último caderno, que continha nove linhas na página 333, fragmento pertencente à Biblioteca Délfica de Cimélios, na capital da Utopia nova.

O humanista, pensador e estadista Thomas Morus, levado ao patíbulo em 1535, foi decapitado por recusar-se a aceitar as núpcias do Rei Henrique VIII, como Chefe da Igreja da Inglaterra, e assistir à coroação de Ana Bolena e assim prestar-lhe fidelidade e a seus descendentes. Foi condenado à prisão perpétua, na Torre de Londres, ao confisco de todos os seus bens e, depois, à morte, por crime de alta traição, e decapitado em Londres, em 1535. É santo do calendário do Vaticano, mártir, São Tomás Morus, 22 de junho.

A Utopia III está inserida na lista de grandes obras do Professor José Vitorino de Pina Martins, mestre e dono de uma bagagem literária e cientifica de porte extraordinário. A primeira critica fundamentada do regime burguês encerra uma análise profunda das particularidades inerentes ao feudalismo em decadência. A forma foi de uma conversação íntima durante a qual Thomas Morus abordava ex-abrupto as questões mais novas e mais difíceis.

Sua palavra, às vezes satírica e jovial, outras, de uma sensibilidade comovedora, é sempre cheia de força. A primeira parte é o espelho fiel das injustiças e misérias da sociedade feudal; é, em particular, o martirológio do povo inglês sob o reinado de Henrique VIII. Entretanto, o povo inglês não era vítima unicamente da avareza do rei; outras causas de opressão e sofrimento o atormentavam.

A nobreza e o clero possuíam a maior parte do solo e das riquezas públicas; estes bens permaneciam estéreis para a grande massa de trabalhadores. Além disso, nessa época, os grandes senhores mantinham uma multidão de vassalos, seja por amor ao fausto, seja para assegurar a impunidade de seus crimes, ou ainda para Utopia.

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(*) Membro da Academia das Ciências de Lisboa, ex-embaixador do Brasil em Portugal e autor de Era Lisboa e Chovia, Era Tormes e Amanhecia e Era Porto e Entardecia, sobre a obra de Eça de Queirós, todos publicados em Portugal e no Brasil

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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