Irã/P5+1: Confronto final em Viena

Será mesmo? Ninguém sabe. Com os ministros de Relações Exteriores reunidos em Viena antes do prazo final de 30 de junho, fonte no governo iraniano diz a Asia Times que é "negócio fechado". Durante dias não houve vazamentos, certamente para impedir que linhas-duras de ambos os lados - do lado do Irã e especialmente do lado dos EUA - arruínem tudo cinco segundos antes da meia-noite.

Em termos realistas, nem todos os miríades de componentes complexos estão reunidos para acordo conclusivo entre Irã e o P5+1. Ainda não estão. O vice-negociador-chefe do Irã Seyed Abbas Araqchi disse no início da semana passada que "não se espera qualquer progresso." Os dois presidentes, Obama e Rouhani, querem muito o acordo, mas lobbies linha duríssima - em Washington e Teerã - só pensam em fazer descarrilhar qualquer acordo.

Prova disso é uma carta aberta, assinada pelos suspeitos de sempre, alguns dos quais ex-conselheiros de Obama, na qual se lê que "o acordo não impedirá o Irã de ter capacidade para armas nucleares" - o que é descarada mentira; e onde se prevê que "o acordo não alcançará nem o próprio padrão do governo de um 'bom acordo' tipo padrão" - o que implicaria que todos esses lobbyistas conheceriam perfeitamente todas as nuances das negociações, e eles não conhecem coisa alguma.

Como se podia prever, a carta aberta foi publicada pelo think-tank WINEP, de neoconservadores obcecadamente anti-Irã; entre os signatários aparece até o nome do fracassado esquematizador do surge  no Afeganistão e Iraque e depois caído em desgraça general David Petraeus; além de Dennis Ross - que jamais "negociou" coisa alguma em que ele não pusesse os interesses de Israel acima dos interesses dos EUA.

Pode-se apostar que o prazo de 30 de junho será ultrapassado; a coisa pode prosseguir, no mínimo, até o fim da próxima semana. Como suspense tipo fim-que-não-é-fim, para fazer o público comer as unhas, nada há que supere a atual situação. Especialmente para o grande business global - e não só para a indústria do petróleo - que se vai preparando para mudança geopolítica tectônica: o Irã finalmente "reabilitado" no ocidente (sim, porque no oriente a coisa nunca deixou de ser business-e-só-business como sempre).

É gás, gás, gás e só gás 

Não surpreende que o Supremo Líder Aiatolá Khamenei tenha tido de expor todas as linhas vermelhas do Irã antes de 30 de junho. Afinal de contas, o 'pacote' de 2 de abril, de Lausanne, que á a base para as atuais negociações que podem levar a um possível acordo final em Viena é deliberadamente vago - e sujeito a interpretações conflitantes, especialmente no que tenha a ver com o prazo para que as sanções sejam totalmente extintas.

Khamenei insiste que as sanções impostas pela ONU e pelos EUA seja levantadas no instante em que o acordo seja firmado; Washington jamais concordará, e o Departamento de Estado insiste que se trata, principalmente de haver a "verificação" pela Agência Internacional de Energia Atômica, e só depois as sanções serão aliviadas.

O mesmo se aplica a Teerã não acertar ser impedido por dez anos, de fazer qualquer pesquisa e desenvolvimento nucleares. Até Rússia e China concordam que o Irã deve aceitar a tal "verificação" - sempre, é claro, de seu programa nuclear para finalidades civis.

O ponto não é o Supremo Líder dobrar-se a um acordo natimorto. O ponto é que Khamenei, para complexos objetivos internos, tem de conservar ao lado dele também os potencialmente perigosos ultraconservadores e linhas-duras em geral. E, por causa da retórica deliberadamente cordata do pacote de Lausanne, ele pode jogar com as linhas vermelhas - sempre enfatizando os "heroicos" ou "bravos e fiéis" negociadores liderados pelo ministro de Relações Exteriores Mohammad Javad Zarif.

Permanece também o fato de que ninguém sabe qual será a linguagem no acordo final - até que um detalhado acordo escrito seja aprovado pelo Parlamento do Irã e pelo Congresso dos EUA. Até o momento estamos em território de Nietzsche: não há fatos, só interpretações.

Mas o universo do business está salivando é por fatos. Toda e qualquer empresa de energia do planeta está com olhos postos em Teerã, discutindo negócios a sério para depois das sanções. A ENI italiana está conversando. A Shell, também e também a British Petroleum (embora nenhuma dessas reconheça coisa alguma). No caso da Shell há a questão dos $2 bilhões que a empresa deve à National Iranian Oil Company (NIOC) - jamais pagos por causa das sanções.

O Irã tem em estoque no mínimo 30 milhões de barris de petróleo. Haverá nas próximas semanas uma inundação de petróleo (com os chineses comprando tudo)? Depende de que sanções serão imediatamente levantadas. O que significa preços em queda - coisa em que Rússia e Arábia Saudita, considerado o recente encontro em S.Petersburgo entre Putin e a Casa de Saud, não estão exatamente muito interessadas no momento.

Será processo lento. Segundo o ministro do Petróleo Iraniano Bijan Zanganeh, o Irã está pronto para aumentar a produção em cerca de 1 milhão de barris/dia, depois que as sanções forem levantadas. Atualmente, o Irã produz cerca de 2,7 milhões de barris/dia e exporta 1 milhão. Realisticamente, o Irã pode acrescentar 600 mil barris/dia até o final de 2017. Para mais do que isso, precisa de muito investimento em infraestrutura.

O mesmo, para a indústria do gás. Na Conferência Mundial do Gás, no início desse mês em Paris, Azizollah Ramezani da NIOC disse que o Irã aumentará a produção, de 800 milhões para 1, 2 bilhões de metros cúbicos/dia, até 2020. Mas que, para que isso aconteça, precisa de pelo menos $100 bilhões em investimentos das grandes europeias de energia. Está bem ali, tentador, no horizonte, um negócio estilo "ganha-ganha" à moda chinesa para os dois lados, Irã e Europa. Mas, antes, tem de haver o confronto final em Viena. *****

 

http://atimes.com/2015/06/iran-nuclear-deadline-showdown-in-vienna/


Será mesmo? Ninguém sabe. Com os ministros de Relações Exteriores reunidos em Viena antes do prazo final de 30 de junho, fonte no governo iraniano diz a Asia Times que é "negócio fechado". Durante dias não houve vazamentos, certamente para impedir que linhas-duras de ambos os lados - do lado do Irã e especialmente do lado dos EUA - arruínem tudo cinco segundos antes da meia-noite.

Em termos realistas, nem todos os miríades de componentes complexos estão reunidos para acordo conclusivo entre Irã e o P5+1. Ainda não estão. O vice-negociador-chefe do Irã Seyed Abbas Araqchi disse no início da semana passada que "não se espera qualquer progresso." Os dois presidentes, Obama e Rouhani, querem muito o acordo, mas lobbies linha duríssima - em Washington e Teerã - só pensam em fazer descarrilhar qualquer acordo.

Prova disso é uma carta aberta, assinada pelos suspeitos de sempre, alguns dos quais ex-conselheiros de Obama, na qual se lê que "o acordo não impedirá o Irã de ter capacidade para armas nucleares" - o que é descarada mentira; e onde se prevê que "o acordo não alcançará nem o próprio padrão do governo de um 'bom acordo' tipo padrão" - o que implicaria que todos esses lobbyistas conheceriam perfeitamente todas as nuances das negociações, e eles não conhecem coisa alguma.

Como se podia prever, a carta aberta foi publicada pelo think-tank WINEP, de neoconservadores obcecadamente anti-Irã; entre os signatários aparece até o nome do fracassado esquematizador do surge  no Afeganistão e Iraque e depois caído em desgraça general David Petraeus; além de Dennis Ross - que jamais "negociou" coisa alguma em que ele não pusesse os interesses de Israel acima dos interesses dos EUA.

Pode-se apostar que o prazo de 30 de junho será ultrapassado; a coisa pode prosseguir, no mínimo, até o fim da próxima semana. Como suspense tipo fim-que-não-é-fim, para fazer o público comer as unhas, nada há que supere a atual situação. Especialmente para o grande business global - e não só para a indústria do petróleo - que se vai preparando para mudança geopolítica tectônica: o Irã finalmente "reabilitado" no ocidente (sim, porque no oriente a coisa nunca deixou de ser business-e-só-business como sempre).

É gás, gás, gás e só gás 

Não surpreende que o Supremo Líder Aiatolá Khamenei tenha tido de expor todas as linhas vermelhas do Irã antes de 30 de junho. Afinal de contas, o 'pacote' de 2 de abril, de Lausanne, que á a base para as atuais negociações que podem levar a um possível acordo final em Viena é deliberadamente vago - e sujeito a interpretações conflitantes, especialmente no que tenha a ver com o prazo para que as sanções sejam totalmente extintas.

Khamenei insiste que as sanções impostas pela ONU e pelos EUA seja levantadas no instante em que o acordo seja firmado; Washington jamais concordará, e o Departamento de Estado insiste que se trata, principalmente de haver a "verificação" pela Agência Internacional de Energia Atômica, e só depois as sanções serão aliviadas.

O mesmo se aplica a Teerã não acertar ser impedido por dez anos, de fazer qualquer pesquisa e desenvolvimento nucleares. Até Rússia e China concordam que o Irã deve aceitar a tal "verificação" - sempre, é claro, de seu programa nuclear para finalidades civis.

O ponto não é o Supremo Líder dobrar-se a um acordo natimorto. O ponto é que Khamenei, para complexos objetivos internos, tem de conservar ao lado dele também os potencialmente perigosos ultraconservadores e linhas-duras em geral. E, por causa da retórica deliberadamente cordata do pacote de Lausanne, ele pode jogar com as linhas vermelhas - sempre enfatizando os "heroicos" ou "bravos e fiéis" negociadores liderados pelo ministro de Relações Exteriores Mohammad Javad Zarif.

Permanece também o fato de que ninguém sabe qual será a linguagem no acordo final - até que um detalhado acordo escrito seja aprovado pelo Parlamento do Irã e pelo Congresso dos EUA. Até o momento estamos em território de Nietzsche: não há fatos, só interpretações.

Mas o universo do business está salivando é por fatos. Toda e qualquer empresa de energia do planeta está com olhos postos em Teerã, discutindo negócios a sério para depois das sanções. A ENI italiana está conversando. A Shell, também e também a British Petroleum (embora nenhuma dessas reconheça coisa alguma). No caso da Shell há a questão dos $2 bilhões que a empresa deve à National Iranian Oil Company (NIOC) - jamais pagos por causa das sanções.

O Irã tem em estoque no mínimo 30 milhões de barris de petróleo. Haverá nas próximas semanas uma inundação de petróleo (com os chineses comprando tudo)? Depende de que sanções serão imediatamente levantadas. O que significa preços em queda - coisa em que Rússia e Arábia Saudita, considerado o recente encontro em S.Petersburgo entre Putin e a Casa de Saud, não estão exatamente muito interessadas no momento.

Será processo lento. Segundo o ministro do Petróleo Iraniano Bijan Zanganeh, o Irã está pronto para aumentar a produção em cerca de 1 milhão de barris/dia, depois que as sanções forem levantadas. Atualmente, o Irã produz cerca de 2,7 milhões de barris/dia e exporta 1 milhão. Realisticamente, o Irã pode acrescentar 600 mil barris/dia até o final de 2017. Para mais do que isso, precisa de muito investimento em infraestrutura.

O mesmo, para a indústria do gás. Na Conferência Mundial do Gás, no início desse mês em Paris, Azizollah Ramezani da NIOC disse que o Irã aumentará a produção, de 800 milhões para 1, 2 bilhões de metros cúbicos/dia, até 2020. Mas que, para que isso aconteça, precisa de pelo menos $100 bilhões em investimentos das grandes europeias de energia. Está bem ali, tentador, no horizonte, um negócio estilo "ganha-ganha" à moda chinesa para os dois lados, Irã e Europa. Mas, antes, tem de haver o confronto final em Viena. *****

 26/6/2015, Pepe Escobar, Asia Times Onlinehttp://atimes.com/2015/06/iran-nuclear-deadline-showdown-in-vienna/

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey