Pílula do dia seguinte coloca a visão em risco

Mais da metade das adolescentes usa a pílula do dia seguinte indiscriminadamente. O hábito pode aumentar o risco de glaucoma e outras doenças oculares graves, alerta especialista.

Garotas brasileiras de 15 a 19 anos não sabem bem como funciona a pílula do dia seguinte, mas 60% já tomaram. A maioria, 60%,  fez uso indiscriminado, tomando junto  com  anticoncepcional mensal.  É o que revela recente pesquisa divulgada pela faculdade de enfermagem da USP. De acordo com  o oftalmologista do Instituto Penido Burnier, Leôncio Queiroz  Neto, a recomendação  da OMS (Organização Mundial da Saúde) é só usar a pílula do dia seguinte em situações de emergência, nunca mais de uma vez por mês e não misturar com outros contraceptivos. "Tomar com outro  anticoncepcional  aumenta muito os níveis de hormônio na corrente sanguínea e provoca graves problemas de saúde que interferem na visão", afirma. Só para se ter uma idéia, a pílula do dia seguinte de dose única tem 1,5 mg de levonorgestrel, um derivado da progesterona que nesta dosagem equivale a metade de uma cartela da pílula mensal.  Nas mulheres, comenta, os hormônios sexuais têm uma relação  direta com o glaucoma. Outras  alterações sistêmicas potencializadas pelo uso indiscriminado da pílula do dia seguinte  que  interferem na saúde ocular são: retenção de água, hipertensão e trombose.

Risco dobrado

 O especialista ressalta que um recente estudo divulgado pela AAO (Academia Americana de Oftalmologia) mostra que o uso de contraceptivos por 3 anos ininterruptos dobra o risco de contrair glaucoma. Ele explica que isso acontece porque o refluxo hormonal pode interferir na drenagem do humor aquoso e aumentar a pressão interna do olho que caracteriza o glaucoma primário de ângulo aberto. Não significa que toda mulher que toma anticoncepcional vai ter glaucoma porque a doença é multifatorial, ressalta. Embora o resultado do estudo não seja conclusivo, a recomendação da AAO é fazer exame oftalmológico  anual a partir dos 40 anos, independente do tipo de anticoncepcional utilizado. Para Queiroz Neto, as garotas que usam indiscriminadamente a pílula do dia seguinte correm maior risco de ter glaucoma por causa da elevada quantidade de hormônio deste anticoncepcional. Ele diz que 80% das pessoas só descobrem a doença quando já tiveram perda importante do campo visual ou visão periférica. Outros fatores que indicam tendência ao glaucoma são:  casos na família, raça negra, alta miopia e obesidade. O tratamento é feito com colírios que baixam a pressão. A falta de adesão ao tratamento faz da doença a maior causa de cegueira irreversível no mundo.

Outras doenças

Queiroz Neto afirma que a retenção de água provoca inchaço generalizado, inclusive nasestruturas oculares. Por isso, embora menos comum, em pessoas que tenham insuficiência renal  pode ocorrer fechamento do ângulo entre a córnea e a íris, causando uma crise de glaucoma primário de ângulo fechado. Trata-se de uma emergência médica que tem como sintomas dor intensa ao redor dos olhos, diminuição acentuada e permanente da visão, náuseas e vômito.

O médico destaca que a hipertensão e trombose muitas vezes desencadeada pelos anticoncepcionais podem causar outras graves doenças oculares. As principais são:

  • Hemorragia vítrea quando os neovasos comprometem o vítreo, substância transparente e gelatinosa que preenche o globo ocular, provocando a obstrução súbita da visão.
  • Descolamento da retina causada pela tração do humor vítreo que separa as camadas da retina levando à visão de flashes de luz e manchas escuras. O tratamento cirúrgico deve ser imediato para evitar a perda da visão
  • Glaucoma neovascular decorrente da formação de neovasos na íris que pode aumenta a pressão intraocular e resultar na perda da visão.

Para proteger a saúde o especialista recomenda só tomar pílula anticoncepcional sob indicação médica e passar por exame oftalmológico em períodos de, no máximo 2 anos.

                           

Eutrópia Turazzi

LDC Comunicação

 

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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