Olhos: acidentes no trabalho batem record

Brasil: No trabalho os acidentes oculares cresceram 51% em dois anos. Nova regra de segurança pode beneficiar micreiros. A falta de proteção predispõe trabalhadores do setor de manutenção a contrair ceratite. Muitos se automedicam com colírio anestésico que pode levar ao transplante de córnea. Síndrome de visão no computador...

Estatísticas da DATAPREV (Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social) demonstram que no Brasil a segurança no trabalho vai mal. Só para se ter uma idéia, de janeiro a agosto deste ano o país já gastou cerca de R$ 132 milhões em benefícios com acidentes laborais. De acordo com o oftalmologista do Instituto Penido Burnier, Leôncio Queiroz Neto, para cada real gasto pela Previdência Social podem ser acrescidos 4 reais de custos não segurados.

No caso de perda da visão ou deficiência visual grave que podem levar à incapacidade permanente, ressalta, este valor é ainda maior. O médico chama a atenção para o fato das lesões nos olhos do último levantamento oficial de 2005 apresentarem um crescimento de 51% em relação a 2003, contra 24,5% dos ferimentos de punho e mão que lideram entre as 492 mil notificações feitas no ano.

O especialista diz que o crescimento dos acidentes oculares acima da média demonstra que muitos trabalhadores não usam óculos de proteção, também conhecidos como EPI (Equipamento de Proteção Individual) ocular. Além dos acidentes notificados, ressalta, a falta de proteção pode causar doenças oculares como ceratite, pterígio, catarata e degeneração macular que muitas vezes não são contabilizadas nas notificações. Este foi o caso do técnico em eletricidade, Osvaldo José dos Santos, que nunca utilizou EPI no trabalho e aos 40 anos ficou completamente cego de um olho por catarata precoce. O técnico conta que as diversas áreas de manutenção das empresas trabalham em um mesmo local.

Nos dias em que os soldadores utilizam muita solda sente os olhos arderem como se tivessem areia. Queiroz Neto explica que se trata da ceratite do soldador uma inflamação da córnea que geralmente só é percebida durante a madrugada. “Muitos profissionais se automedicam com colírio anestésico que pode levar à ulceração corneana, infecções, perda temporária da visão e até ao transplante de córnea Por isso hoje os colírios anestésicos são de tarja preta. O trabalhador não deve se automedicar, nem os ambulatórios das empresas podem usar este colírio”, afirma. É comum, observa, profissionais do setor de eletricidade terem catarata precoce por causa da radiação elétrica e falta de lentes com proteção ultravioleta que é utilizada em todo EPI.

Ele ressalta que os óculos de proteção previnem até 90% dos acidentes de trabalho, mas muitas empresas compram EPI’s inadequados para as funções exercidas o que inviabiliza o uso. A intolerância, observa, também pode estar relacionada à má ventilação do local de trabalho que torna as lentes embaçadas ou à má iluminação que impede o funcionário de enxergar se estiver usando a EPI. Isso significa que a segurança do trabalhador requer supervisão do ambiente de trabalho e treinamento para verificar a adaptação dos funcionários e conscientizar sobre a importância dos equipamentos de segurança.

FALHA NO AJUSTE AUMENTA RISCO

Náusea, dor de cabeça, visão embaralhada ou dupla, irritação, lacrimejamento e dificuldade na avaliação da profundidade são os sintomas decorrentes de EPI com erro na altura, distância pupilar ou grau para funcionários que necessitam de correção visual. Queiroz Neto afirma que estes erros são bastante comuns e aumentam o risco de acidentes.

A incidência de lesões oculares ocupacionais é de 82% para traumas causados pelo alojamento de corpo estranho na superfície dos olhos, 10% para queimaduras químicas e 8% são perfurações do globo. O especialista diz que toda lesão ocular deve ser lavada com água em abundância, com exceção de perfuração em que o olho não deve ser comprimido e exige encaminhamento imediato ao oftalmologista. As lentes de cristal, explica, são as mais indicadas para ambientes empoeirados porque impedem a aderência de partículas na superfície. Já as de policarbonato são as mais resistentes a respingos de solda, enquanto as de resina riscam menos.

SÍNDROME DA VISÂO NO COMPUTADOR DEVE GANHAR MAIS ATENÇÃO

A nova regra de segurança no trabalho estabelecida pelo NTE (Nexo Técnico Epidemiológico) a partir de março deste ano prevê que o perito da Previdência Social deve conceder auxílio por doença ocupacional ou acidente a partir do nexo com a atividade da empresa.

Dois estudos feitos por Queiroz Neto demonstram que o uso do computador por mais de duas horas ininterruptas causa a síndrome da visão no computador também conhecida como CVS em 75% dos usuários com até 40 anos e 90% dos que têm idade superior. Os sintomas são - ardência, visão embaçada, sensação de areia nos olhos e dor de cabeça. Ele explica que é uma doença ocupacional relacionada, principalmente, a fatores ergonômicos – distância da tela, posição em relação aos olhos e iluminação ambiente. Geralmente não provoca afastamento do trabalho e é enquadrada como auxílio comum. A alta incidência em algumas atividades, ressalta, deve melhorar as condições ergonômicas para quem usa intensivamente o computador.

Fonte: Eutrópia Turazzi – LDC Comunicação

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey