EUA em estreita aliança com Ucrânia, não Rússia, viola há décadas o fundamental Tratado de Minsk pela paz. Entre diversas agressões nada abordadas por meios internacionais, que apenas invertem papéis
Muitas vezes, apenas invertendo cenários o ser humano desenvolve alguma capacidade de abrir mão do auto-engano, "enxergando-se no espelho", e "enxergando no espelho" a realidade do mundo ao seu redor. Até que o indivíduo perceba que o cenário invertido adapta-se a ele mesmo. Tal afirmação trata-se de conceito abordado por amplos setores da psicologia.
Este recurso faz-se urgentemente providencial diante da atual operação militar russa na vizinha Ucrânia, e a resposta de grande parte do mundo a ela - especialmente o Ocidente pateticamente "liderado" (= dominado) pelo nada humanitário regime de Washington, e a mídia que sempre atuou de joelhos ao Império americano, mais cruel que a história tem conhecimento.
No que diz respeito a mentiras, a mídia ocidental possui rara habilidade de embaralhar o entendimento coletivo, impondo em seu imaginário um mundo completamente invertido.
Os grandes meios de comunicação (e muitos "alternativos", apenas o outro lado da moeda tendenciosa) tem sido particularmente eficientes na imbecilização em massa. Gritante exemplo: os mesmos milhões de seres ("bem informados" pelos mestres em desinformar) que raivosamente acusam (injustamente) o presidente Nicolás Maduro (e seu antecessor, Hugo Chávez) de ditador, acabam mudando completamente, cinicamente de posição de um segundo ao outro, reivindicando com o mesmo tom raivoso e sem nenhum constrangimento (sem sequer se aperceber de tamanha estupidez), ditadura para o Brasil. Se confrontados através da ideia de democracia para seu país, a mesma que exigem para os vizinhos, a agressividade já é triste e amplamente conhecida de todos nós em território tupiniquim.
Isto nada mais é que resultado de um dos inúmeros, ímpares desserviços midiáticos na produção de auto-engano, que reina nas sociedades mundo afora. Fato evidenciado na patética (para dizer o mínimo) realidade global.
Invertendo Papéis: O Mundo que o Estado Permanente Internacional Quer. Como Seria?
Revistamo-nos por algum momento do espírito de Walt Disney (dote que sobra aos grandes meios de comunicação), e imaginemos qual seria a posição mundial hoje, unânime pró-Estados Unidos certamente (e com toda a justiça), se,
1. A Rússia, violando um Tratado Internacional visando paz global denominado Minsk, ratificado pelo mesmo Kremlin nos primeiros anos pós-Guerra Fria comprometendo-se a não avançar sequer um centímetro as tropas internacionais lideradas por si, estivesse ano a ano fazendo o contrário do firmado pela América Latina e do Norte, através de México e Canadá, espalhando inclusive bases militares até as proximidades das fronteiras dos Estados Unidos;
2. Especialmente em Porto Rico estivesse florescendo, com apoio direto do Kremlin neste contexto potencialmente belicista, ideias e práticas acentuada e reconhecidamente nazistas que incluíssem massacre de cidadãos americanos em território porto-riquenho, por parte do governo local. Sempre ameaçando as fronteiras dos Estados Unidos com poderio bélico.
Considerando, neste cenário sombrio em potencial III Guerra Mundial, uma Rússia com passado e presente extremamente violentos e de inúmeras violações às leis internacionais que incluíssem lançamentos (únicos na história da humanidade) de bombas atômicas, crimes de guerra e invasões unilaterais nos quatro cantos do planeta, incluindo diversos ataques militares e torturas contra civis além de promoção aberta de sangrentos golpes militares em todas as partes.
Em meio a este cenário, teriam surgido um jornalista australiano através de seu WikiLeaks e um ex-agente de inteligência russo, Edward Snowden, ambos liberando os mais diversos documentos comprovando toda sorte de conspiração russa mundo afora. Invadindo países soberanos, derrubando governos, detruindo e pilhando completamente nações incluindo centenas de milhares de assassinato de civis, entre os quais crianças, mulheres e idosos.
Diante desta sucessão de eventos que fosse além das próprias ameaças mas configurassem claras, diretas e seguidas ameaças à segurança nacional de uma nação específica agora (a americana), e à propria paz internacional por parte de outra com forte carater imperialista e conspirador, estariam tremulando bandeiras dos Estados Unidos com direito a desfiles forâneo-patrióticos em solidariedade aos americanos por todo o mundo nestes dias, diante de uma hipotética operação militar em legítima defesa.
Estaria, por outro lado e outrossim com total razão, sobrando indignação aos "inumanos russos", em um cenário assim.
"Somos todos americanos", seria o lema global hoje.
Substitua, nos parágrafos acima, "Rússia" por "Estados Unidos", "América Latina e do Norte" por "Europa", "Porto Rico" por "Ucrânia", e "cidadãos americanos" por "cidadãos russos". Deparar-se-á, assim, com a nua e crua realidade do que ocorre entre Kremlin e Kiev hoje, completamente invertida pela mídia predominante.
Para nem se aprofundar em questões como as únicas bombas atômicas lançadas na história da humanidade - dos EUA sobre o Japão -, os horrendos crimes de guerra do regime de Washington no Vietnã, Iraque, Afeganistão, os inúmeros boicotes a democracias latino-americanas ao longo do século XX que incluíram invasões e assassinatos: para ficar "apenas" com a total violação do Tratado de Minsk e suas trágicas consequências, qual sua posição, leitor, diante da troca de nomes acima que retrata a realidade russo-ucraniana ignorada cinicamente pelos grandes meios de comunicação?
Enquanto Washington viola leis internacionais, pilha nações e leva o imperialismo as últimas consequências ameaçando a própria segurança da Rússia, a Federação Russa tem sido marcada, especialmente o governo de Vladimir Putin pela cooperação internacional rumo a um mundo multipolar, em contraposição à hegemonia americana e aos privilégios dos magnatas ocidentais, e seus lacaios ao redor do globo.
Славься, страна! Мы гордимся тобой! ("Glória ao País! Nosso Orgulho!", Hino Russo)
A Rússia é a única nação que tem contrabalanceado o poderio americano. É a única nação que, assim como derrotou os nazistas na Segunda Guerra Mundial e anteriormente aos bonapartistas, ambos em pleno território russo, e posteriormente derrotou os terroristas na Síria ao mesmo tempo impedindo iminente invasão americana àquele país árabe (com vistas a interesses econômicos e geoestratégicos), pode fazer frente e mesmo derrotar militarmente o império estadunidense, indiscutivelmente mais terrorista que a história tem conhecimento. E Washington sabe bem disso.
Outra grande evidência de que nada disso envolve luta por direitos humanos contra tirania, entre Estados Unidos e Rússia respectivamente conforme coloreado pelos grandes meios internacionais, é que Washington apoia nestes mesmos tempos os regimes mais violadores de direitos fundamentais em todo o mundo, tais como sauditas e sionistas, entre outros.
Tudo tem sido completamente invertido, sem o menor sentido se minimamente analisado livre de ideias pré-concebidas.
Quanto ao presidente Putin, se tem errado tem sido justamente em ter sido bastante paciente ao longo de todos estes anos, chegando aos limites do pacifismo em relação aos abusos e crimes dos Estados Unidos.
Edu Montesanti
Journalist, Author, Teacher, Translator
edumontesanti.skyrock.com
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