Tensões na Europa Oriental: bola na quadra da OTAN

Mais uma vez, a Rússia demonstrou uma abordagem equilibrada e madura para a gestão de crises, tentando difundir os potenciais pontos de inflamação antes que eles ocorram. E a OTAN?

O presidente russo, Vladimir Putin, destacou esta semana que qualquer movimento russo (dentro do território russo) é uma reação às ações da OTAN e, ao mesmo tempo, sugeriu maneiras pelas quais podemos apagar um potencial ponto de inflamação antes que algo aconteça.

Isso não é apenas verdade, é uma abordagem equilibrada e madura para a gestão de crises, apresentando uma situação ganhar-ganhar para todas as partes envolvidas, garantindo simultaneamente a paz e um equilíbrio geopolítico quando o mundo precisa de se unir e se concentrar em questões não relacionadas com a colocação de sistemas de armas ofensivas em fronteiras alheias.

Propostas simples da Rússia

Começando com as propostas de Vladimir Putin, elas são de longo prazo, apresentam uma plataforma legalmente vinculativa e são simples: a OTAN promete não se expandir mais para o leste e promete não implantar sistemas de armas ofensivas nas fronteiras da Rússia.

A OTAN é confiável?

Dois pontos aqui. Em primeiro lugar, pode-se confiar que a OTAN não se expandirá? Afinal, eles prometeram não se expandir para o leste em 1991, vinte anos atrás, quando o Pacto de Varsóvia foi voluntariamente dissolvido e o que aconteceu?

Em 12 de março de 1999, a Hungria aderiu, a República Tcheca aderiu, a Polônia aderiu; em 29 de março de 2004, a Bulgária aderiu, a Estônia aderiu, a Lituânia aderiu, a Letônia aderiu, a Eslovênia aderiu, a Eslováquia aderiu, a Romênia aderiu; em 1 de abril de 2009, a Albânia aderiu, a Croácia aderiu; em 5 de junho de 2017, Montenegro aderiu; em 27 de março de 2020, a Macedônia do Norte aderiu.

Olhe para o mapa e vemos um punho de aço cerrado na garganta da Rússia. Acrescente aqui o vetor da Geórgia (onde há uma história de provocação da OTAN) e da Ucrânia, onde um golpe fascista derrubou o presidente eleito democraticamente em meio a gritos de "Morte a russos e judeus" nas ruas de Kiev, tiros disparados de sexto andar do Hotel Ucrânia na Praça Maidan no meio da multidão para estimular a histeria e fomentar a revolta e em meio a massacres fascistas de ucranianos russófonos (a OTAN gosta de falar sobre democracia, mas tem problemas em praticá-la; na verdade, é uma organização antidemocrática que, totalmente não eleita, dita a política externa de seus estados membros - quão democrático ou constitucional é isso?). E lembremos que na Crimeia, após a destituição do presidente por bandidos fascistas, a entidade legal no poder era a Assembleia Nacional, que organizou uma eleição livre e justa para determinar se o povo queria viver dentro de um inferno anti-russo ou então voltar para a Rússia. Eles votaram, democraticamente, para retornar... por mais de 95%.

O segundo ponto é: podemos confiar nos documentos que a OTAN assina, tendo em conta a história passada dos seus Estados-membros celebrando acordos e depois renegando-os? Na verdade, podemos dizer que um documento juridicamente vinculativo que a OTAN assina vale o mesmo que uma pilha de papel deitada no chão ao lado de uma sanita numa latrina pública. E igualmente impróprio para ser usado.

O cenário mais amplo

E agora vamos olhar o quadro mais amplo

Pessoal e equipamento militar russo são implantados dentro das fronteiras da Federação Russa. Eles não estão no Iraque, nem estão na Líbia. Eles não assassinaram oficiais de manutenção da paz em um ataque bárbaro como aconteceu na Geórgia em 2008, não interferiram agressivamente nos Bálcãs, não se aliaram aos terroristas.

Reitero: O que a Rússia está propondo é uma diminuição das tensões, pedindo à OTAN que não avance mais para o leste e pedindo à OTAN que não coloque armas ofensivas nas fronteiras da Rússia. Razoável? Para a maioria das pessoas, quase todos, sim. Mas espere e veja a reação da OTAN.

A resposta da OTAN e o futuro

Se a OTAN levar a sério o que prega, ela concordará em não expandir mais em torno das fronteiras da Rússia e não colocará armamento agressivo em países que compartilham uma fronteira com a Rússia. Se a NATO não é sério e se o seu jogo final é a invasão da Rússia, militarmente ou através de uma revolução colorida, a divisão da Rússia, o roubo dos vastos recursos da Rússia, o estabelecimento de bases da OTAN na Ucrânia, na Geórgia, na Ásia Central e entretanto na Bielo-Rússia, então fechará os olhos à oferta da Rússia hoje.

Então saberemos qual é realmente o objetivo da OTAN e o que sempre foi. Enquanto isso, os estados membros da OTAN gastam um vírgula dois trilhões de dólares a cada ano (1,200,000,000,000 USD) em sistemas de armas para assassinar pessoas enquanto não há vagas escolares ou leitos hospitalares suficientes para seus cidadãos. Hoje eles já estão tentando desestabilizar os países da Ásia Central, balançando dólares diante de seus olhos, prometendo a Lua, prometendo os aneis de Saturno e manipulando um revisionismo em sua perspectiva histórica.

Senhoras e senhores, a Sibéria é a estação final ao longo da linha e aqueles que controlam a OTAN e os lobbies que ela representa (Bancos, Armas, Energia, Finanças e Recursos Alimentares) não podem permitir a uma nação soberana se sente sobre enormes recursos minerais que poderiam tornar o saqueador rico, mas rico além dos seus sonhos.

Hoje a bola está do lado da OTAN. É obvio qual será a sua reação à proposta russa (e eu adoraria ser provado errado). Amanhã, a Rússia terá de se lembrar que depois da Esperança, a Dignidade é a última coisa a morrer. Perguntem ao Napoleão. E Hitler. 

Timothy Bancroft-Hinchey 

Diretor e Chefe de Redação

Versão portuguesa da Pravda.Ru

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