A Rússia cancelou a dívida de US $ 20 bilhões para vários países africanos, comunicou o Chefe do Departamento de Organizações Internacionais do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Vladimir Sergeyev. O tal comportamento parece estranho e inadequado nas condições da crise econômica. Mas as autoridades russas pensam estrategicamente. Porque é que a Rússia fe-lo ? Por que a Rússia precisa da África?
Esta anulação não é a primeira. Em 2008, Moscou cancelou cerca de $ 16 bilhões de dívida dos países africanos. E não se limitou a esses atos. Tem transferido US $ 50 milhões para a Fundação do Banco Mundial para os países pobres, disse o diplomata na Assembléia Geral da ONU. Os fundos dela estão enviados para o desenvolvimento do continente africano a sul do Saara. Além disso, a Rússia nos últimos 4 anos tem destinado US $ 43 milhões a programa do Banco Mundial para melhorar a educação nos países em desenvolvimento — especialmente em países africanos. Mais de 8.000 estudantes da África estão estudando nas instituições de ensino superior da Rússia, e mais da metade deles fazem-no gratuitamente.
Rússia assinou acordos com a Tanzânia e Zâmbia no âmbito do programa "a troca de dívida", ou seja, em troca de serem aliviados da obrigação de restituir uma parte da dívida internacional, os países se comprometem a retirada dos fundos para promover seu desenvolvimento. O governo russo pretende assinar acordos semelhantes com Moçambique, Benin e Etiópia.
Rússia regularmente cancela as dívidas de seus devedores em todo o mundo. Foram formados durante o período soviético quando esses países estavam comprando as armas da União Soviética. Em setembro deste ano, a Federação Russa "perdoou" a dívida de US $ 11 bilhões para a Coréia do Norte. No verão de 2010, a Rússia cancelou 12 bilhões de dólares para o Afeganistão, e no inverno de 2008- cerca de 8 bilhões de dólares para o Iraque. Ao longo dos últimos 11 anos, a Rússia tem cancelado dívidas externas no valor total de US $ 80 bilhões e pagou 124 bilhões de dólares aos seus credores. Aqui está a lista dos maiores dívidas que foram anulados pela Rússia:
Afeganistão — US $ 12 bilhões, Iraque — $ 11,9 bilhões, Mongólia — $ 11 bilhões, a Coréia do Norte — $ 11 bilhões, Síria — $ 9,8 bilhões, Etiópia — $ 4,8 bilhões, Líbia — $ 4,5 bilhões, Argélia — $ 4,3 bilhões, Nicarágua — $ 4,3 bilhões, Angola — 3,5 bilhões de dólares .
O dinheiro é significativo, mas esta generosidade esconde pragmatismo equilibrado e prudente.
Hoje, as grandes potências estão lutando pelo continente africano desempenhando um papel cada vez mais importante nas políticas deles. Os Estados Unidos, China, Inglaterra, França e Índia têm aumentado sua influência política e econômica na África. A Rússia não quer ser uma exceção. O interesse na África está baseado, antes de tudo, nas suas matérias-primas. Além disso, a África é um enorme mercado.
O continente Africano é abundante em recursos. Ocupa o primeiro lugar no mundo em termos de reservas de cromo, minério de manganês, ouro, platina, diamantes, vanádio, e fosfato. África é a segunda em reservas de minérios de urânio e cobre, e ocupa o terceiro lugar do mundo em reservas de minério de ferro, gás e petróleo. Que país não queria uma fatia desse bolo?
Negócio russo também tem seus interesses na África. A petrolífera Lukoil, a empresa de alumínio Rusal, a Gazprom, Norilsk Nickel, química Renova, de diamantes Alrosa, de armas Rosoboronexport, Rosatom, empresas financeiras e de telecomunicações, esta não é a lista completa de empresas atualmente atuando na África. Hoje em dia, a gama de cooperação econômica tem se expandido. No entanto, a África representa apenas 1,5 por cento de todos os investimentos da Rússia em países estrangeiros. Esta é a razão que faz a Rússia amortizar as dívidas dos países africanos.
Alguns especialistas acreditam que a Rússia nas suas relações com a África procura retornar para o tipo de cooperação que tinha a União Soviética. Mas não é verdade de fato. Moscou entende que os modelos anteriores de cooperação não fazem sentido no momento presente. A África representa um real interesse econômico para a Federação Russa que inclui:
De fato, ao contrário dos EUA, China e Índia, a Rússia não está muito interessada na importação de recursos minerais crudos da África. A indústria russa tem uma falta de certos minerais (manganês, cromo, bauxita) que possam ser importados da África, no entanto, a economia russa não depende de modo extremo destes recursos africanos.
A cooperação no domínio de processamento, produção e comercialização das matérias-primas é muito mais interessante, porque a Rússia visa a virar um líder mundial econômico. Além do gás, os metais de platina e diamantes tem interesse em urânio e petróleo. A Rússia também está interessada no desenvolvimento de tais setores da economia africana como de energia, metais e petroquímicos. Exporta tradicionalmente armas e equipamentos bélicos e de destino civil. Assim, o potencial de exportação da indústria russa depende diretamente do apoio dos programas governamentais para modernizar os objetos construídos no continente durante os tempos soviéticos.
A Rússia pretende restaurar a sua antiga influência na África e ganhar novas áreas de investimento do capital. Em setembro de 2006, Putin visitou a África do Sul e Marrocos. Em junho de 2009, Medvedev visitou quatro países africanos — Egipto, Nigéria, Namíbia e Angola. As visitas revelam o interesse da Rússia na retomada das relações econômicas e políticas com os países africanos.
Bancos russos também mostram seu interesse no setor financeiro da África. VTB Bank (Banco Econômico do Exterior da Rússia) abriu filiais na Namíbia e em Angola. As empresas de telecomunicações evidenciam interesse também. Tais empresas como AFK Sistema, Altimo, MegaFon, SITRONICS consideram o continente africano um mercado promissor para a sua expansão.
Para aumentar a sua influência no continente a Rússia tem de fazer certas concessões. Cancelando bilhões de dólares de dívida é uma opção, levando em consideração poucas chances de ter essas dívidas de volta. A Rússia procura melhores maneiras de usa-las em troca de certos privilégios.
O ex-ministro da Economia, Andrei Nechayev disse que um credor recorre a uma anulação de dívida, em primeiro, quando é quase impossível ter a dívida paga de volta. Em segundo lugar, é a influência política, e finalmente — a imagem financeira do país, ou seja, no caso da Rússia, demonstra a estável situação financeira dela com objetivo de conquistar os mercados de capitais internacionais no futuro próximo. Portanto, a Rússia age estrategicamente correto.
Serguei Vasilenkov
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