O jornal Público é um jornal impresso, de referência, em Portugal, uma publicação respeitada e de grande qualidade. Tem um problema, porém: uma analista internacional chamada Teresa de Sousa, que guarda ao que parece um ódio contra a Rússia que é tão forte como a sua aparente ignorância com respeito aos factos.
É tão previsível que já nem surpreende. Cada vez que acontece algo em relação com a Rússia, o jornal Público traz de rodas essa senhora, Teresa de Sousa que vai a seguir fazer referências à falta de democracia na Rússia, da repressão das ONGs, do uso excessivo de força contra a Geórgia, do roubo de gás ucraniano, blá, blá, blá.
Diria que a totalidade dos russos que residem em Portugal e que lêem este jornal acham risonha, absurda e lúdicra a postura de Teresa de Sousa, apresentando-se como analista num jornal de prestígio e escrevendo o que escreve acerca da Rússia e dos russos.
Desta vez, na edição de segunda-feira dia 6 de Julho, na sua peça De Praga a Moscovo, passando pelo Cairo, temos em destaque a visita de Presidente Obama a Moscovo. Para começar, a autora refere ao Barack Obama numerosas vezes com uma desprezível servilidade, chamando-o O Presidente. Qual? Rússia tem Presidente também.
A seguir, outra vez a referência absolutamente injusta, insolente e ridícula: O Presidente chega a um país que passou os últimos 10 anos a remoer o orgulho ferido pela derrota na Guerra Fria.
Já vi coisas mais sérias escritas com excremento nas paredes de casas de banho públicas. E até mais interessantes. Não havendo guerra, ninguém ganhou ou perdeu a Guerra Fria, ambos os lados ganharam porque não houve Guerra de Facto. O que aconteceu foi que a URSS, de acordo com as previsões existentes na sua Constituição, resolveu seguir um processo de dissolução. Nem entrou em colapso, nem sequer foi derrotado. Desapareceu, voluntariamente, num novo contexto político, económico e social. Sem rancores, sem problemas. Novas alianças foram formadas, entre as quais a CEI. E depois? Quem foi então derrotado?
E se tivesse havido uma Guerra de Facto convencional, a União Soviética teria ganho, todos sabiam. Kruschov até disse aos americanos, se quiserem guerra, sem problemas! A questão foi que a URSS tinha sempre uma posição defensiva e nunca agressiva. Não foi a União Soviética que lançou o terrorismo internacional no Afeganistão, foi a União Soviética que ajudou lá um governo socialmente progressista e que foi destituído pelos Mujaheddin, que mutaram nos Taliban de hoje. Os direitos das mulheres nunca estiveram tão bem protegidas, as taxas de educação chegaram a níveis recordes. E agora?
Não foi a União Soviética que fez centenas de tentativas de assassinar Fidel Castro e não foi a União Soviética atrás da Operação Condor na América Latina, que apoiou regimes repressivas e fascistas e assassinou milhares de pessoas inocentes.
Não foi a União Soviética que lançou regimes fascistas e opressivas no continente africano, foi sim a URSS que auxiliou, desenvolveu, educou e libertou o povo africano do jugo de centenas de anos de colonialismo, imperialismo e maus-tratos, até massacres, por países ocidentais.
O terceiro ponto nesta página de propaganda russofóbica é a afirmação que o regime na Rússia não permitiria manifestações nas ruas. Será que a autora acredita que as fadas vivem no fundo do quintal? Como em qualquer outro país, incluindo o regime em Portugal, para haver uma manifestação tem de haver um processo de autorização pela Câmara Municipal e dada esta autorização pela Municipalidade, a manifestação procede normalmente como acontece milhares de vezes em centenas de cidades na Federação Russa todos os anos.
Depois temos uma citação do NY Times acerca do comportamento antidemocrático na Rússia e as ameaças aos vizinhos, em especial a Geórgia. Anti-democrático, como? Presidente Putin foi democraticamente eleito por uma vasta maioria da população por duas vezes, como foi o Presidente Medvedev depois dele. E quanto à Geórgia, vê-se logo que a Teresa de Sousa nunca entendeu nem uma infinitéssima parte deste conflito como se vê em referências suas amiúde desde então no mesmo jornal.
Foi o aliado dos EUA e OTAN, Geórgia, que atacou de forma vil, covarde e atroz a Ossétia do Sul, massacrando quase dois mil civis russos numa orgia de terror, e que planeou a mesma atrocidade na Abkházia, juntamente com seus conselheiros militares dos Estados Unidos da América. Maravilhosos estes, hein? Mas que belo trabalho que fizeram. Até ajudarem os georgianos a fugir com os rabos entre as pernas e ficarem bem caladinhos lá em Tblisi enquanto as forças russas fizeram uma campanha limitada para restabelecer a ordem.
E mais, será que a Teresa de Sousa alguma vez só informou seus leitores que a Geórgia, de acordo com a Constituição Soviética que assinou, tinha a obrigação no acto de sair da União realizar referendos nos territórios de Ossétia Sul e Abkhazia?
Teresa de Sousa faz referência ao alargamento da OTAN como se fosse um processo natural e nada diz, como seria de esperar, sobre as promessas que foram entregues à Rússia na altura da dissolução do Pacto de Varsóvia, várias vezes, que a OTAN não expandiria a leste. Mentiram entre os dentes.
Mas para que sejam informados a Teresa de Sousa e todos os russofóbicos que ganham a vida escrevendo disparates e formando muito mal a opinião pública contra a Rússia, as forças militares da Federação Russa têm um número suficiente de mísseis para liquidar totalmente e exterminar qualquer concentração de tropas nas suas fronteiras, suficientes para deixar uma cratera de cem kilómetros a volta de tal concentração. Em qualquer parte do planeta e em qualquer altura, dia ou noite.
Finalmente, uma referência a restrições contra ONGs na Rússia. O que houve foi uma revisão da legislação para definir o que é uma ONG, de forma a evitar que ONGs financiem e fomentem movimentos terroristas e separatistas nas regiões. Nunca houve uma definição tão clara do que é, de facto, uma Organização Não Governamental na Rússia e nunca estas estiveram tão bem protegidas.
Por isso não entendo a posição do Público manter a coluna de Teresa de Sousa, num jornal com tantos bons jornalistas, peritos tão bem informados, políticos como Rui Tavares que escrevem algo que se lê .em fim... Umas escritas destas, histéricas ultrajes e insultos contra Rússia e os russos, relegam qualquer jornal ao estatuto de um farrapo que nem pertence ao lado do meu retrete no chão da casa de banho.
Moscovo, 06 de Julho de 2009
Timothy BANCROFT-HINCHEY
PRAVDA.Ru
Director e Chefe de Redacção
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