Com os bolcheviques na Rússia e os jacobinos em França, as revoluções revelam-se igualmente suicidas

Em 17 de julho a Rússia comemorou o 90o. aniversário do assassínio do último czar russo e de sua família. Três dias antes, em 14 de julho, a França pomposamente comemorou o Dia da Bastilha como início da Revolução Francesa. Quase 150 anos medeiam esses dois eventos, embora eles tenham muito em comum. Os Romanovs surpreendentemente repetiram o destino da dinastia dos Bourbon, enquanto que a Rússia repetiu o destino da Revolução Francesa.

Contemporâneos escreveram que povo e nobres viviam seus respectivos estilos de vida no limiar das revoluções, tanto na Rússia quanto na França. As classes dominantes dos dois países estavam mais preocupadas com as questões de política externa. A França estava apoiando os rebeldes estadunidenses, que desafiavam a Inglaterra, o maior império do mundo daquele tempo. A Rússia continuava suas políticas suicidas de apoiar povos cristãos da Europa Central e dos Bálcãs.

Uma pletora de problemas internos afligia tanto a Rússia quanto a França à época dos levantes revolucionários. Entretanto, os monarcas de Rússia e França - Nicolau II e Luís XVI - nada fizeram para melhorar a situação em seus países, por influência de suas mulheres de cidadania estrangeira (Alexandra da Alemanha na Rússia e Marie Antoinette da Áustria em França). Os russos e os franceses finalmente vieram a odiar suas imperatrizes estrangeiras.

Nem é preciso dizer que a mudança compulsória do poder, seja ela chamada de revolução ou de golpe, não se origina do nada. A Rússia e a França estavam ambas vivendo num tempo que pode ser descrito como o banquete da praga. Nobres de ambos os países viviam no ócio, bebendo champanhe cara e comprando jóias e roupas dispendiosas. Eles pouco se importavam com seu povo, que morria à míngua.

Marie Antoinette, a rainha francesa de origem austríaca, praticamente levou à bancarrota o tesouro francês. Entretanto, seus gastos com cabeleireiros, roupas e jóias empalideciam em comparação com o dinheiro que ela gastava na reconstrução do Castelo Pequeno Trianon. O apelido dela, Madame Déficit, era muito boa referência a seus hábitos de dispêndio.

A diferença entre a Rússia e a França pré-revolucionárias diz respeito à exaustão da Rússia na guerra mundial. A França chegou ao fim da linha depois da interferência nos assuntos das antigas colônias britânicas. Os russos comuns, em sua maioria, não tinham conhecimento do que acontecia nos palácios. Tudo mudou com a chegada de Grigori Rasputin.

É digno de nota que tanto os monarcas russos quanto os franceses preferiam ficar à margem de assuntos de estado de grande importância. Por exemplo, Luís XVI interessava-se pela caça e pela construção de miniaturas de castelos. Nicolau II da Rússia preferia lidar com assuntos de sua família.

O lugar sagrado nunca fica vazio. As imperiosas mulheres dos monarcas da Rússia e de França governavam os países sem o conhecimento de seus maridos. Luís tinha pensamento tardo e frequentemente era incapaz de tomar uma simples decisão. Marie Antoinette sempre vinha em socorro de Luís em tais ocasiões, e Alexandra fazia o mesmo em relação a Nicolau II.

Diz-se que Grigori Rasputin teve casos amorosos com a Imperatriz Alexandra e com as filhas dela. As pessoas se alinhavam com o Sagrado Demônio, como era apelidado Rasputin, devido à influência administrativa dele, e não por causa de sua potência sexual.

Marie Antoinette era conhecida por sua paixão pelos prazeres sexuais, atividades ninformaníacas e lésbicas, que levou a efeito devido à fraqueza de seu marido. Boatos similares disseminaram-se Rússia a fora durante o último ano do governo dos Romanov.

Também os revolucionários de Rússia e França eram muito parecidos. Tanto os jacobinos na França quanto os bolcheviques na Rússia criaram suas incríveis teorias e se dispuseram a fazer tudo para que elas se concretizassem. O primeiro estágio da revolução russa, que começou em 1905, lembra muito os primeiros eventos da Revolução Francesa. Luíx XVI não pôde resistir ao impudente parlamento: ele achava que seus soldados não atirariam no povo francês. A Quarta Duma da Rússia antes da revolução era a mesma coisa.

O fim também foi semelhante, embora o monarca francês tenha sido levado a julgamento, enquanto que o czar russo foi assassinado sem qualquer investigação. Além disso, os jacobinos revelaram-se mais compassivos do que seus seguidores bolcheviques: não chacinaram as crianças da casa real.

Os revolucionários tornaram tudo muito simples. Eles não precisavam provar o fato de que a França havia ido à falência no governo de Luís XVI, enquanto que a Rússia sofreu imensas perdas durante a guerra russo-japonesa. Os bolcheviques não achavam que era necessário investigar os motivos que levaram ao Domingo Sangrento, o massacre de São Petersburgo, quando até 5.000 pessoas inocentes foram mortas.

Tanto a revolução russa quanto a francesa tiveram belo início. Visavam a libertar as pessoas da tirania, por mor de liberdade e igualdade. A luta finalmente transformou-se no extermínio de todos aqueles que tentaram colocar obstáculos no caminho do novo regime. A disputa a respeito da organização do novo paraíso desdobrou-se na luta implacável pelo poder, quando os revolucionários começaram a exterminar-se mutuamente.

Tanto jacobinos quanto bolcheviques quiseram salvar suas revoluções do legado do antigo mundo e de numerosos inimigos. O líder russo da Grande Revolução de Outubro, Vladimir Lenin, gostava de citar um dos mais eminentes jacobinos, Louis de Saint-Just: "Temos que governar com ferro aqueles que não podem ser governados pela justiça."

Os revolucionários, tanto russos quanto franceses, tentaram substituir o cristianismo por uma nova religião: a religião da mente na França e o comunismo na Rússia. Prisões políticas – A Bastilha em Paris e a Fortaleza de Pedro e Paulo em São Petersburdo – tornaram-se os símbolos das novas eras. Entretanto, Rússia e França provaram que a revolução é rememorativa de Júpiter, que devorava os próprios filhos.

Sergei Balmasov
Pravda.ru

Autor do post : Murilo Otávio Rodrigues Paes Leme
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Author`s name Derio Nunes
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