O sucesso econômico russo: mais do que petróleo

É inegável o êxito econômico russo nos últimos seis anos: o PIB passou de uma queda de 10% anuais a um crescimento de 7%, os salários aumentam aceleradamente, a indústria se recupera, quase toda a dívida externa foi saldada e o país possui hoje a quarta maior reserva internacional.

Na década de 90, a imprensa ocidental publicava cotidianamente notícias sobre a Rússia: a situação do país era desastrosa em quase todos os aspectos, o que gerava bom material para os russófobos de plantão.

Hoje, a grande maioria dos ocidentais ainda ignora as boas notícias sobre a Rússia, e ainda imaginam o país como era há 8 anos: desemprego generalizado, empregados que não recebem seu salários, indústrias que se fecham e magnatas bilionários que enviam todas suas fortunas ao exterior. A situação econômica russa ainda não pode se comparar à dos países mais ricos; porém, está no caminho certo, e em poucos anos a Rússia será a sexta economia do mundo e a segunda da Europa.

Só agora alguns meios começaram a notar a recuperação russa. Porém, atribuem o sucesso a um fator de sorte: a grande valorização do preço do petróleo nos últimos anos. Realmente, para a Rússia (o segundo maior produtor de petróleo do mundo), cada aumento no preço significa um incremento imenso na arrecadação.

E o preço do petróleo em 5 anos saltou de aproximadamente 25 dólares o barril a quase 80. Porém, uma comparação de alguns dados econômicos da Rússia com a Arábia Saudita (o maior exportador de petróleo do mundo e um país que ainda depende quase que exclusivamente deste recurso) mostrará que o crescimento russo se deve a mais fatores além do preço do petróleo. Embora exporte mais petróleo que a Rússia, a economia saudita está longe de ter o mesmo sucesso que a russa.

A economia da Rússia cresceu, em 2004, 7,2%. A Arábia Saudita, 5%, um crescimento considerável, embora menor do que o russo. Porém, a Arábia Saudita tem uma dìvida que chega a 75% do PIB, enquanto a da Rússia é nada mais que 15% (e diminuindo rapidamente).

O PIB russo é o 9º maior do mundo; o saudita, o 31º. A renda per capita da Arábia Saudita é de 12.000 dólares, sendo o maior exportador de petróleo com uma população de apenas 25 milhões; o da Rússia, 11.000 dólares, com uma população de 143 milhões. E as reservas internacionais da Rússia chegaram em junho deste ano a 246 bilhões de dólares, sendo que se estima que ao final do ano será de 280 bilhões.

O que explica essas disparidades? A Arábia Saudita produziu 10,37 milhões de barris de petróleo por dia, em 2004; a Rússia, 9,27 milhões. Se o petróleo é a única causa do sucesso econômico russo, como é possível que a Arábia Saudita não tenha uma situação melhor do que a Rússia, já que exporta mais petróleo? A resposta é simples: o petróleo não é a única causa da notável recuperação russa.

Embora a Arábia Saudita tenha se esforçado muito por diversificar sua economia, 75% do orçamento nacional ainda vem do petróleo. Na Rússia, a economia está bem diversificada: o país tem indústrias navais, aeroespaciais, bélicas, nucleares, eletrônicas, farmacêuticas e de bens de consumo.

E o principal motor do crescimento econômico russo é a demanda interna, que tem aumentado 12% ao ano, mais até do que o PIB. Isso significa que os russos estão com um poder aquisitivo fortalecido, e por isso consomem mais; e o maior consumo, por sua vez, ativa a indústria e o comércio, além de melhorar o nível de vida da população. E confiam que a economia seguirá neste bom caminho, pois senão economizariam seus excedentes, em vez de gastá-los.

É uma fórmula que o Brasil deveria aprender com a Rússia e a Argentina: ambos países passaram por crises terríveis recentemente, mas estão se recuperando rápido graças ao aumento do poder aquisitivo. Na Argentina, por exemplo, o salário mínimo é de 800 pesos, um pouco menos que 800 reais, sendo o custo de vida mais baixo do que no Brasil. Tanto a Argentina quanto a Rússia têm taxas de inflação maiores do que a do Brasil (aproximadamente 10% anuais, um tanto alta mas perfeitamente sob controle), porém o crescimento econômico, a geração de empregos e o aumento do poder aquisitivo compensam largamente a subida dos preços. O Brasil tem inflação baixa, mas o crédito é caríssimo, o desemprego é grande, os salários são mantidos muito baixos e a economia dificilmente cresce 3% ao ano.

O sucesso russo não se deve apenas ao petróleo, mas também ao crescimento industrial e à melhora do poder aquisitivo da população. A Rússia não quer ser um exportador de matérias-primas por muito tempo, e sua indústria cada vez mais se expande por todo o mundo, principalmente a aeroespacial, a bélica e a energética. Mesmo que o preço do petróleo baixe aos níveis de 2001-2002 (o que dificilmente ocorrerá), isso não afetará muito o crescimento econômico e a recuperação do nível de vida.

Carlo MOIANA

Pravda.ru

Buenos Aires

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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