A maioria aceita o processo de dominação concordando com os absurdos. É mais fácil. Não resolve reclamar. Tudo continua igual. Os fortes engolem os fracos. Os sabidos passam para trás os inocentes. Os poderosos tramam o destino dos coitados.
Bush e Blair podem mentir. Lula pode corromper. Kofi Anan pode se omitir. Ninguém reclama. Ninguém se exalta. Ninguém discorda.
A conformação global contagiou o planeta.
Não faz a menor diferença se um por cento dos ricos ganha mais que a metade da população do planeta. Afinal, eles merecem. Venceram os vencidos.
Não faz a menor diferença se a maioria está excluída do mercado de consumo. Afinal, são livres. Bem-aventurados os pobres porque eles entrarão no reino dos céus. Parece que na outra vida os ricos serão pobres. O remédio da esperança futura é bem embalado pela religião.
Não faz a menor diferença esta história do aquecimento global do planeta. A tecnologia e a capacidade criativa dos homens vão encontrar uma solução para os temores apocalípticos.
Não faz a menor diferença se preocupar com a explosão demográfica da população de ratos no planeta, 20, 50 ou 100 vezes superior aos humanos. Os gatos não comem mais ratos. Estão conformados com as rações industrializadas.
Não faz a menor diferença se auto-explodir, martirizando a vida pela liberdade. Os humanos bombas são loucos. Vivem na era da pedra. Os ianques não morrem deste jeito. Recebem muito dinheiro para lutar. Nem sabem por que matam. Quando passam para o outro lado, transformam-se em heróis.
Não faz a menor diferença torturar, judiar, bater covardemente na gentalha indefesa. O mundo não consegue mais reagir. As barbáries são normais. Acontecem todo dia, todo instante, em todo lugar.
O comunismo acabou. Não funcionou. O capitalismo ainda está de pé. Acabou com o mundo. É a salvaguarda dos ricos e poderosos.
O conformismo global sinaliza o poder hipnótico dos donos do mundo ou, como as calmarias, precede uma tempestade.
Os princípios, valores, direitos, compromissos dependem de quem julga. Os juízes norte-americanos não possuem competência em relação aos prisioneiros de Guantânamo, Abu Graib, e tantas prisões secretas localizadas fora do território do Tio Sam. É uma questão processual. O mérito virou banalidade.
Onde está a resistência? Onde se escondem os artistas, escritores, teatrólogos, cineastas, músicos e pensadores?
Desculpem. Recebi a informação que estão de férias. Mais alguma reclamação? Não. Está tudo bem.
Orquiza, José Roberto escritor [email protected]
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