Muitos criticam a instituição do microcrédito, por acreditarem que uma dependência maior passa a ser estabelecida, chegando, de acordo com essa forma de pensar, a tornarem-se os pobres ainda mais pobres.
Por Aurelino Levy Dias de Campos*
Muitos criticam a instituição do microcrédito, por acreditarem que uma dependência maior passa a ser estabelecida, chegando, de acordo com essa forma de pensar, a tornarem-se os pobres ainda mais pobres. Contudo, uma pergunta fica no ar: como viver numa economia de mercado sem ter crédito? O dinheiro numa economia de mercado como todos sabem, tem diversas utilidades. Além de facilitar a troca, serve como reserva de valor, e imprime significado as relações estabelecidas. O sistema monetário mundial tem aperfeiçoado as formas de transações, num espaço cada vez mais virtual.
Com toda modernidade reinante, uma parte do nosso mundo vive numa situação de extrema pobreza, como o caso de Bangladesh, onde a renda per-capita anual encontra-se na faixa de aproximadamente 250 dólares. Pelo visto, um dos países mais pobres do planeta, e que, através dos préstimos de um economista, conseguiu a materialização de um antigo sonho, qual seja, o de criar a possibilidade dos menos favorecidos poderem ser contemplados com créditos que auxiliassem a viabilização e a implementação dos seus projetos. As mulheres sem terras foram as maiores beneficiadas com o microcrédito, trabalhando de forma cooperada, numa sociedade onde o preconceito ainda é muito grande.
Mas, quem foi o mentor dessa realização? - Muhammad Yunus, bengalês, nascido em Chittagong, no ano de 1940. Filho de uma família numerosa, estudou Economia em Nova Délhi e na Universidade Americana de Vanderbilt no Tennessee. Nos Estados Unidos contou com bolsas da Fulbright e Eisenhouer. No ano de 1972, quando voltou dos Estados Unidos, dirigiu o departamento de Economia da Universidade de Chittagong. Como Professor de Economia começou o combate a pobreza devido à situação extrema de miséria que assolava o seu país. Foi no ano de 1976 que surgiu a idéia dele fundar um banco voltado aos mais pobres. Hoje, o Banco Grameen possui mais de seis milhões de clientes em Bangladesh, e exportou para muito mais de 40 países o seu sistema. Em 1998 recebeu pelo trabalho desenvolvido o Prêmio Príncipe de Astúrias da Concórdia, além de outros.
Neste ano de 2006, Muhammad Yunus teve o seu nome escolhido para receber o Prêmio Nobel da Paz, pelo importante trabalho desenvolvido junto aos mais pobres. É significativo salientar que os conhecimentos adquiridos na área da Ciência Econômica foram colocados em prática a favor dos desfavorecidos. Está de parabéns o Comitê que fez a escolha deste novo agraciado com o Prêmio Nobel da Paz. Cabe observar que este prêmio foi criado no ano de 1901, e já homenageou diversas personalidades, dentre as quais a saudosa Madre Teresa de Calcutá. Contudo, por quê um economista no Prêmio Nobel da Paz? A resposta não é tão complexa quanto possa parecer. Quando a economia vai bem, a paz caminha ao lado. Todas as guerras só foram motivadas por interesses econômicos conflitantes. Logo, as guerras são todas econômicas.
Assim, neste dia 15 de outubro, data em que se comemora o Dia do Professor no Brasil, presto uma singela homenagem a todos os mestres, na pessoa do Muhammad Yunus, que com seu exemplo de professor de economia, economista, banqueiro, não teve medo de combater a pobreza em seu país, e incluir as pessoas afastadas de uma vida digna, no conjunto das cidadãs. Que surjam outros banqueiros com esse espírito humanista no mundo, e principalmente no Brasil, porque essa luta não foi em vão. Valeu Muhammad Yunus.
Vice-presidente do COFECON e Professor de Economia
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