De acordo com a Lusa, na quarta-feira, o presidente da Federação Russa, Vladimir Putin, "entregou as chaves" do Kremlin, ao futuro eleito, Dmitri Medvedev. Mas no dia seguinte, está prevista a sua eleição para o cargo de primeiro-ministro na Duma Estatal (parlamento russo), que deverá decorrer sem surpresas.
Tendo em conta esta novidade na vida política russa, os analistas políticos debruçam-se, não só sobre os resultados da política de Putin durante oito anos de presidência, mas também sobre as tarefas que lhe serão colocadas enquanto primeiro-ministro.
Os apoiantes da política de Vladimir Putin atribuem a sua popularidade ao facto de ter conseguido reforçar a soberania da Rússia na política interna e externa, de ter colocado a Rússia entre as sete maiores economias mundiais e de ter adquirido o estatuto de superpotência energética.
As estatísticas oficiais mostram a estabilidade dos parâmetros fundamentais do desenvolvimento económico durante a presidência de Putin: o Produto Interno Bruto cresceu 70 por cento, os rendimentos reais da população mais que duplicaram, o número de pobres diminuiu de 29 por cento da população em 2000 para 16 por cento em 2007, as reservas de ouro da Rússia constituem mais de 500 mil milhões de dólares.
Não se pode medir apenas com números ou rublos o que foi feito na Rússia durante os últimos oito anos. Com que moeda medir o orgulho pelo nosso país? O regresso a posições dominantes no mundo, o renascimento do patriotismo? Conseguimos fazer isso, com os esforços comuns, em poucos anos, considera Serguei Mironov, dirigente do Conselho da Federação (câmara alta) do Parlamento Russo.
Segundo ele, Vladimir Putin soube, durante dois mandatos presidenciais, devolver ao povo a fé nas suas forças, a fé num grande futuro da Rússia. Eu vejo a principal garantia dos nossos futuros êxitos e vitórias precisamente na união da nação em torno de objectivos comuns, sublinha Mironov.
Os opositores de Putin reconhecem os êxitos no campo económico, mas atribuem-nos, em grande parte, aos lucros obtidos com a exportação do petróleo.
Não obstante, fazem um balanço negativo dos dois mandatos presidenciais de Vladimir Putin.
Andrei Ilarionov, antigo conselheiro económico de Putin, acusa o Kremlin de ter destruído os institutos jurídicos e políticos: sistemas eleitorais concorrentes, independência dos media, separação de poderes, liquidação quase total dos direitos políticos e redução radical da liberdade civil.
Segundo ele, Putin criou um Estado hierárquico com novas castas sociais e uma corporação de funcionários dos serviços secretos como a sua casta suprema.
O antigo conselheiro económico do Kremlin acusa também o dirigente russo de ter dessacralizado, desacreditado e degradado a polícia secreta e outras estruturas de segurança.
Além da fuga de capitais e de cérebros, adquiriu dimensões colossais a fuga de institutos, continua Ilarionov, explicando que os homens de negócios russos não podem procurar justiça no país e vêem-se obrigados a recorrer aos tribunais internacionais para defenderem os seus direitos.
Ilarionov defende igualmente que a política do Kremlin aproximou a Rússia da sua desintegração.
Nos oito anos passados, o controlo real do poder central nas repúblicas (da Federação da Rússia), em comparação com os anos 1990, diminuiu consideravelmente. A Tchetchénia tornou-se independente de facto, defende.
No campo internacional, o economista chama a atenção para a integração das elites política e económica da Rússia no mundo actual, ao mesmo tempo que ocorre o isolamento do país no campo da política externa.
O nível de integração da elite económica na elite mundial não tem análogo na história do nosso país... Isso significa que parte da elite mundial do Ocidente se tornou um dos pilares que apoiam o actual regime político da Rússia, em medida muito maior do que a 'Rússia Unida', 'Nossos', 'Jovem Guarda' e outras organizações do género todas juntas, frisa Ilarionov.
Seja qual for a herança herdada por Putin, o futuro primeiro-ministro terá de enfrentar, e já em breve, sérias dificuldades. O Governo não consegue controlar o aumento da inflação e dos preços, o que poderá desencadear, no próximo Outono, fortes manifestações de protesto social.
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