UE - IRÃO: ATÉ QUE PONTO SÃO SÉRIOS OS ÚLTIMATOS MÚTUOS?

A "troika" europeia - França, Alemanha e Grã-Bretanha - advertiu de facto sob forma de ultimato o Irão que caso este país reinicie o seu programa de enriquecimento do urânio eles suspenderão as conversações e levantarão a questão do programa nuclear iraniano no Conselho de Segurança da ONU. O Irão não se ficou a dever declarando em resposta que as ameaças deste tipo não contribuirão para a solução do problema e que não há nada que deva ferir os seus direitos legítimos ao desenvolvimento do seu próprio ciclo de combustível nuclear (CCN). A decisão de reiniciar as investigações no domínio do enriquecimento do urânio é irreversível - declarou Teerão num tom categórico.

Esta é a essência do duelo verbal que se agravou visivelmente no início de Agosto entre as duas partes a propósito do destino do "dossier nuclear" iraniano, mas desta vez a situação afigura-se mais do que insolúvel. Levará ela realmente à entrega do famigerado "dossier nuclear" ao exame do Conselho de Segurança da ONU o que inevitavelmente irá resultar em sanções e isolamento do Irão?

Na última ronda das conversações em Londres as partes parece ter chegado, ao compromisso almejado. A "troika" europeia tinha prometido apresentar no fim de Julho ou início de Agosto à parte iraniana um pacote de propostas de carácter económico, político e tecnológico.

A julgar pelas informações divulgadas na imprensa, estas propostas contêm um mínimo de exigências à parte iraniana e múltiplas vantagens indubitáveis, inclusive a construção de uma central nuclear com a participação de firmas ocidentais, o abastecimento ininterrupto de combustível nuclear a longo prazo, as garantias da segurança nacional e internacional, o melhoramento da cooperação económica e comercial com o Ocidente, inclusive a possibilidade de o Irão atingir a posição de principal fornecedor de petróleo e gás à Europa. Todas estas preferências são oferecidas ao Irão só em troca da manutenção da sua moratória para o programa de enriquecimento do urânio.

Teerão, apesar de ter qualificado este pacote de propostas da "troika" europeia como "plenamente aceitável e positivo", mudou de uma maneira brusca e inesperada o seu tom declarando que os países europeus marcaram a data da apresentação das propostas (6 de Agosto) para "protelar deliberadamente a solução da questão" e que nestas condições o Irão não pode fazer nada além de reiniciar a realização do programa de enriquecimento do urânio para "equilibrar" a situação. Esta declaração de Teerão levou a "troika" europeia e Javier Solana, alto comissário para a Segurança e Política Externa da UE, a advertir o Irão que a União Europeia tenciona conseguir a convocação de uma sessão especial do Conselho de Directores da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) para resolver a questão dos programas nucleares iranianos.

No entanto, o mais provável é que a questão da convocação da sessão especial do Conselho de Directores da AIEA não seja resolvida antes de Setembro. Até à sua solução, na opinião de peritos, deve definir-se a orientação do novo governo do Irão chefiado pelo novo Presidente Mahmoud Ahmadinejad na área de relações internacionais, inclusive na questão do programa nuclear iraniano que Ahmadinejad qualificou entre as prioritárias. Por enquanto, Ahmadinejad pronuncia-se categoricamente em defesa do direito do Irão de desenvolver o seu CCN sacrificando todas as propostas por parte da União Europeia quaisquer que sejam as sanções impostas ao Irão.

Ao que tudo indica, esta posição do novo Presidente, exposta por ele no decurso da campanha eleitoral, foi a principal causa da substancial correcção da atitude de Teerão no diálogo com a UE. A julgar por tudo, a delegação do Irão às conversações com a UE espera conhecer a posição a ser assumida sobre esta questão pela administração de Ahmadinejad depois da tomada de posse. Além disso, não se sabe se o Irão voltará ou não aos acordos obtidos anteriormente com a "troika" europeia e quão dura será a posição que os EUA, principais opositores do Irão, assumirão em relação a este país.

É significativo que a posição de Washington, que provocou o problema do "dossier nuclear iraniano" e se aproveitava imutavelmente de qualquer pretexto para entregar imediatamente o "dossier" ao CS da ONU, se tenha aliviado visivelmente. Tom Kasey, representante do Departamento de Estado dos EUA, declarou em resposta à ultima demarche de Teerão que o Irão não tinha violado o acordo com a UE anunciando o reinício dos trabalhos de enriquecimento do urânio.

O que está por trás disso? É possível que as metamorfoses da posição de Washington em relação ao Irão se devam também ao desejo da Casa Branca de dar a possibilidade à nova administração iraniana de mostrar qual será a sua actividade e para isso é necessário, naturalmente, algum tempo. Mas isso não significa ou, antes, não significa de modo algum que a Casa Branca altere a sua posição em relação ao Irão.

O mais provável é que também Teerão não renuncie à actual possibilidade de aproveitar o "time out" para ponderar mais uma vez todos os prós e contras no que concerne ao destino do seu "dossier atómico". A julgar por tudo, o apelo feito pela "troika" europeia ao Irão para que não reinicie a sua actividade no domínio dos programas nucleares e não empreenda passos unilaterais encontrará uma compreensão positiva por parte de Teerão.

Piotr Gontcharov observador político RIA "Novosti"

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