Rectificar o que está mal

O impasse na reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC) em Cancun no ano passado pode ser desbloqueado na reunião ministerial da Conferência da ONU sobre Comércio e Desenvolvimento em São Paulo, Brasil.

O secretário-geral da Conferência, Rubens Ricupero, declarou esta semana numa conferência de imprensa que o tema da reunião será “Fomentar a coerência entre estratégias do desenvolvimento nacional e processos económicos globais no sentido de estimular o crescimento económico e desenvolvimento, especialmente dos países em vias de desenvolvimento”.

A última cláusula desta frase é crucialmente importante, numa altura em que os Países Menos Desenvolvidos (PMD) estão fechados fora das oportunidades de comércio livre, com as mãos atadas enquanto vêem os seus recursos saqueados por uma elite corporativa estrangeira e intrusiva, cuja gula cresce diariamente, enquanto os concorrentes supostamente com iguais direitos nos países mais desenvolvidos recebem subsídios e outros benefícios, dando-os uma vantagem competitiva injusta e enquanto tarifas são impostas sobre importações dos PMD, fechando a porta na cara dos países mais pobres que tentam competir – mas nunca como iguais.

Se é isso que a OMC conseguiu até agora, que vergonha. Longe de promover práticas de comércio livre, esta organização mais parece um clube de ricos, direccionado para enriquecer cada vez mais os EUA e a UE, e sabotar qualquer tentativa de fomentar a competitividade da parte de países que estão fora deste eixo.

Como sempre, as instituições que são controladas por Washington dizem uma coisa e praticam outra. A reunião da Conferência em São Paulo será um barómetro útil no sentido de demonstrar se este eixo está disposto a rectificar o que está mal e desequilibrado no sistema de comércio mundial e o que vai fazer para facilitar o acesso dos PMD aos seus mercados.

Fechar a porta e dar aos produtores ricos uma vantagem competitiva desigual não constitui comércio livre e em pé de igualdade, que é a missão da OMC. É exclusivismo, é elitismo, é injusto e Washington e seus lacaios devem ter vergonha na cara por causa de praticarem tais actos de hipocrisia.

Mas também, no mundo de hoje, o quê é que se há-de esperar?

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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