Acadêmicos, pesquisadores, estudantes e apoiadores mobilizam-se em mais de uma centena de campanhas em defesa da educação no Brasil
O termo "obscurantismo" é definido no dicionário Michaelis como "estado do que se encontra na escuridão; estado de completa ignorância; oposição política ou religiosa a todo o progresso intelectual ou material entre as massas".
Em tempos de debate sobre terraplanismo (11 milhões de brasileiros acreditam que a Terra é plana, segundo o Datafolha), não por acaso a palavra "obscurantismo" foi utilizada inúmeras vezes pelos participantes de uma audiência pública realizada na Câmara dos Deputados na última terça-feira 15, Dia do Professor.
Organizada pelo deputado João Carlos Bacelar (Podemos-BA), a comissão geral reuniu professores, reitores e membros de entidades estudantis, acadêmicas e de pesquisa em um debate em defesa das universidades, institutos federais e dos dois maiores órgãos de fomento à pesquisa do Brasil, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
Do evento, participaram representantes das duas maiores campanhas pela educação criadas neste ano na plataforma de abaixo-assinados online Change.org. A maior delas, que reúne 1,6 milhão de pessoas contra o contingenciamento de verbas nas universidades federais, foi lançada pelo professor de filosofia da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Daniel Tourinho Peres. A segunda com mais engajamento foi feita pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e mobiliza 996 mil apoiadores em defesa do CNPq.
No total, somente em 2019, foram abertas 105 petições na plataforma com o tema da educação, reunindo um total de 4,5 milhões de pessoas - mais do que a população do Panamá. A forte mobilização pela causa decorre de um "desmonte" nas políticas públicas educacionais, como definiu o deputado Bacelar.
"Um dos pilares que sustenta a sociedade no Brasil está abalado", disse. "A situação do CNPq, das universidades e da educação básica é dramática, complicada, e eles precisam de mobilização da sociedade para continuarem a existir", completou. Segundo ele, o país está sendo empurrado para o mais profundo obscurantismo.
Professor de filosofia há 25 anos, o autor do abaixo-assinado em defesa das universidades públicas participou do debate e também demonstrou preocupação com os recorrentes ataques ideológicos e políticos que as instituições vêm sofrendo em todo o país.
"Foi a nossa universidade que transformou o Brasil num país moderno. A nossa universidade é filha do liberalismo político. Nela, o que há é pluralidade de ideias, e nessa medida ela não deve conhecer fronteiras partidárias, a fronteira que ela reconhece e que ela firma é contra o fascismo, o obscurantismo e o totalitarismo", desabafou Daniel Tourinho Peres.
Desde o começo do ano, o Ministério da Educação (MEC) teve R$ 6,1 bilhões de seus recursos congelados. No final de setembro, o governo federal descontingenciou R$ 1,99 bilhão desse valor, porém, as universidades federais ainda permanecem com o bloqueio de 15% nas verbas destinadas para despesas básicas, como pagamentos de contas de água e luz.
No caso do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), ao qual está ligado o CNPq, o contingenciamento foi da ordem de R$ 2,13 bilhões, agravando ainda mais o estado do conselho, que, neste ano, enfrenta um déficit de R$ 330 milhões no orçamento.
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https://www.cartacapital.com.br/blogs/change-org/contra-o-obscurantismo-45-milhoes-se-unem-para-salvar-a-educacao/
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