Num debate realizado no passado dia 25 de Janeiro, sobre o relatório que propõe criminalizar naquela assembleia a ideologia comunista, confundido-a com as violações dos direitos humanos cometidas, em nome do comunismo, na União Soviética e regimes semelhantes. Mas que violaram completamente os ideais comunistas e não raro vitimaram tantos comunistas... Normalmente, eu começaria por cumprimentar o meu amigo e colega no parlamento sueco, Göran Lindblad, por ter elaborado um excelente relatório. Infelizmente, não posso fazer isso. Em vez disso, tenho que pedir a esta Assembleia, em nome de um grupo político unânime, para rejeitar este relatório. Antes de continuar, devo tornar perfeitamente clara uma coisa. Houve violações de direitos humanos massivas em estados governados por partidos e regimes que clamavam ser comunistas. Devem ser condenadas, tal como o devem ser as violações dos direitos humanos massivas cometidas em nome da democracia, da liberdade, do cristianismo ou da civilização. O problema com este relatório, que o torna inaceitável, é que usa as atrocidades do passado como instrumento para atacar, marginalizar e até abrir caminho para a criminalização de uma ideologia e corrente política, cujos ideais estão nos antípodas desses crimes. O relatório não faz a necessária distinção entre violações dos direitos humanos cometidas por regimes rotulados como comunismo e o comunismo enquanto movimento político, que tem como objectivo uma sociedade "em que a liberdade cada um seja a pré-condição para a liberdade de todos", para citar o Manifesto do Partido Comunista de 1848. Ao ler-se o relatório é visível que a confusão é intencional. O comunismo pode significar muitas coisas, algumas contraditórias. No entanto, o anti-comunismo também um estranho animal. Clama ser defensor da liberdade e da democracia., mas a História dá uma imagem bastante diferente. Sob a bandeira do anti-comunismo homens e mulheres que lutavam pela democracia foram privados dos seus direitos democráticos. Sob a bandeira do anti-comunismo, milhões de homens e mulheres que sonhavam e lutavam pela liberdade foram presos, torturados e mortos. A verdade é que o alvo do anti-comunismo nunca foram as ditaduras ou violações dos direitos humanos. O alvo do anti-comunismo foi sempre e continua a ser a esquerda, os trabalhadores e quem quer que seja que questione o capitalismo e o imperialismo. Os anti-comunistas do século XX opuseram-se à chamada "ditadura do proletariado" na União Soviética, não porque fosse uma ditadura mas porque era do proletariado. Nisso, anti-comunistas e comunistas estavam errados - não era nada do proletariado. No entanto, durante décadas a União Soviética pareceu materializar o eterno pesadelo das classes dominantes - o receio de que os trabalhadores pudessem conquistar o poder. O relatório reconhece que "alguns partidos comunistas contribuíram para conquistar a democracia". Que generosidade! Quem morreu em Espanha, defendendo a república democrática nos anos 1930? quem organizou a resistência à ocupação nazi? Quem lutou contra o fascismos pós-guerra em Espanha, Portugal, Grécia, Rodésia e África do Sul, regimes que os Estados Unidos apoiavam em nome do anti-comunismo? Hoje em dia, na "guerra contra o terrorismo", quem defende os princípios democráticos quando são atacados por democratas? Goran Lindblad sabe a resposta. Represento o Grupo da Esquerda Unificada Europeia. Na maior parte das vezes, "unificada" não quer dizer "unânime". Temos diferentes tradições políticas e usamos diferentes rótulos políticos - esquerda, socialistas, socialistas de esquerda, verdes, comunistas. Temos opiniões diferentes sobre muitos assuntos, inclusive sobre a história europeia do século XX. No entanto, todos os 36 membros, sem excepção, comunistas e não-comunistas, defendemos os valores do Conselho Europeu. Colegas, não vos proponho que defendam o comunismo, mas que defendam os valores desta assembleia. Traduzido por Luís Carvalho PRAVDA.Ru
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