Fechado originalmente em 2002, durante o governo FHC e apoio do governo Lula, o acordo envolve US$ 42 bilhões, sendo que aproximadamente US$ 15 bilhões foram negociados no final de 2003. Com a aprovação do acordo que expira em 31 de março de 2005, o Brasil passou a ter direito a uma nova parcela, de US$ 1,4 bilhão.
O diretor-gerente do FMI, Rodrigo Rato, acredita que "a recuperação de bases amplas continua, com o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) excedendo 6% nos últimos quatro trimestres e todos os setores econômicos mantêm a expansão".
O Relatório Direitos Humanos no Brasil 2004, lançado no começo de dezembro, em São Paulo, traz dados e análises resultantes do trabalho de 30 entidades de defesa dos direitos humanos, com um panorama da situação brasileira ao longo dos últimos anos, especialmente 2004. A constatação é de que quase nada melhorou. Os indicadores sociais mostram que a maior parte da população brasileira não sente nem de perto os efeitos dessa "expansão em todos os setores econômicos". Como se as pessoas não fizessem parte da economia.
Mesmo havendo alguns avanços nas políticas propostas pelo governo federal, elas travam porque não há verba suficiente para colocá-las em prática. A principal crítica feita nos artigos do relatório diz respeito à política econômica e à falta de implementação das políticas de garantia dos direitos humanos, avalia Maria Luisa Mendonça, diretora da Rede Social de Justiça e Direitos Humanos.
Mínimo de esforço
Um dos grandes instrumentos de redistribuição de renda, o salário mínimo, é alvo de dicussões em Brasília estes dias. "Sindicalistas e parlamentares, inclusive governistas, queriam R$ 300 já a partir de janeiro, ou R$ 320 em maio. A possibilidade de dois reajustes, um em janeiro e outro em maio, voltou a ser discutida na reunião de ontem do presidente com as centrais sindicais. Mas o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, presente ao encontro, não aceitou a proposta", escreveu o jornal O GLOBO nesta quinta (16/12), sob o sugestivo título de "Saco de bondades: agrados para os trabalhadores".
O ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini, fez uma espécie de ameaça aos movimentos sociais: "Se houver novo aumento, implicará cortar outros tipos de despesa, inclusive em programas sociais". É isso o que O GLOBO chama de "saco de bondades". É como se um possível corte nos programas sociais acabasse tendo como "culpados" os sindicalistas. É por isso que eu digo que acho difícil o leitor usual deste jornal chegar no meio do matéria, porque se chegasse veria as contradições.
Enquanto eu chamo as coisas pelo nome que elas têm e digo que Berzoini "ameaça", O GLOBO sabendo da importância da linguagem na compreensão do conteúdo escreve que o que Berzoini fez foi "desencorajar as negociações", e não ameaçar.
Aos "companheiros", metáforas vazias
Quem manda nesse país? Como é possível enganar tanta gente? De que forma, por fim, é possível se passar por "companheiro", mesmo pertencendo à elite conservadora ou falando por ela? Nunca vi tantas respostas respondidas ao mesmo tempo quanto no elucidativo trecho da "reportagem" do jornal:
"Para mostrar aos companheiros que o governo não poderia atender à reivindicação de aumento do mínimo para R$ 320 e os 17% de correção da tabela do Imposto de Renda, [Lula] fez uso de uma metáfora: quando há reivindicação dos trabalhadores do sindicato, o presidente chama o tesoureiro para saber o que é possível dar e só faz as coisas dentro do orçamento. Ao falar isso, Lula olhou para Palocci, mencionando que ele era o responsável pelo caixa". O GLOBO, 16/12/2004
Os movimentos sociais estão unidos nesta questão apesar do crescente peleguismo e afirmam com muita propriedade que há dinheiro sim, mas que eles estão sendo equivocadamente direcionados, pagando inclusive dívidas que não existem a credores nacionais e internacionais.
Mas como os movimentos sociais não falam por meio de metáforas, provavelmente ninguém acreditará nesses argumentos absolutamente racionais.
Agora, não esqueça, vamos às últimas quatro linhas do texto. Diz que "em seus oito anos de mandato, o ex-presidente Fernando Henrique só conseguiu dar ganho real ao salário de 25%. (...) Nos dois primeiros anos de mandato de Lula o ganho real do mínimo acumulou apenas 3,5%".
Se subir para R$300 em janeiro de 2005, como prometeu o governo, o aumento real do salário mínimo será de 9,78%. Ou seja, menos de 14% até janeiro de 2005. Se quiser fazer pelo menos os "oito anos em quatro" que prometeu esta semana, Lula terá que aumentar, até 2006, perto de 11%. Isso para se igualar a FHC, uma das piores gestões econômicas de toda a História. Porque, para chegar à promessa de R$480, o jeito mesmo é tirar Palocci da Fazenda e Meirelles do Banco Central. O que, sabemos, não vai acontecer.
No começo de dezembro de 2004, Lula e o chefe da Casa Civil, José Dirceu, repetiram que "2005 será o ano do social", de diversas formas e metáforas variadas. No entanto, a meta fiscal que asfixia nosso povo permanece inalterada em 4,25% do PIB no ano de 2005. Uma contradição tão óbvia que até dói.
Gustavo Barreto, http://www.consciencia.net/barreto.html
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