Além das manifestações, com falas de parlamentares, lideranças sindicais, estudantis, comunitárias, da Marcha Mundial de Mulheres e do Movimento dos Trabalhadores Rurais Terra (MST), o ato político teve como ponto alto o encontro com o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT/SP), no Salão Verde. No ato, as lideranças entregaram ao presidente manifesto pelo "Desenvolvimento nacional com soberania e valorização do trabalho".
O manifesto
"Organizar a esperança", esta é a conclusão do manifesto, cujo teor é sintomático e demonstra a expectativa dos movimentos sociais em relação ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. De um lado, a perspectiva da luta política e social para fazer avançar as mudanças pelas quais os movimentos sociais sempre lutaram mais emprego, melhores salários, inclusão social, educação, saúde e qualidade de vida de outro, a esperança de que o governo Lula seja o depositário dessas bandeiras.
"Em contraposição ao ambiente de crise, há uma expectativa de que o governo Lula pode e deve promover substanciais mudanças na orientação econômica e nos rumos políticos da nação no sentido de retomar o desenvolvimento e promover o pleno emprego", aponta o manifesto.
Contra e a favor
Ao receber o manifesto, o presidente da Câmara, que foi precedido em sua fala pelos membros da executiva nacional da CUT, Antônio Carlos Spis e Gilson Reis, que também é da CSC (Corrente Sindical Classita), e o presidente da UNE Gustavo Petta, disse que na Câmara "tem gente que se manifesta a favor e contra a assinatura do acordo; e também em relação à Alca (Área de Livre Comércio das Américas)", lembrou.
Ele disse ainda que "tem mais deputados contra o acordo [com o FMI] que a favor". Entremeado pelo presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, Luiz Eduardo Greenhalgh (SP) e José Pimentel (CE), ambos do PT, João Paulo recebeu o manifesto e afirmou que a Câmara tem feito muitos debates acerca do acordo com o FMI.
O presidente disse que é importante "continuar com a organização" do movimento, mas que "o Poder Executivo é autônomo". Isto é, o "Executivo não depende da opinião do [Poder] Legislativo para assinar acordos internacionais", enfatizou.
A posição das lideranças
O presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes), Gustavo Petta, entidade que faz parte do núcleo da CMS, disse ao Vermelho que o objetivo do ato "é pressionar o governo Lula para não renovar o acordo com o FMI", argumentou, e emendou afirmando que "as altas taxas de juros, a lógica fiscal e monetária do acordo impedem o crescimento do país". Ele destacou também a idéia de sensibilizar o Poder Legislativo, na pessoa do seu presidente, para interceder junto ao presidente Lula para que o governo não assine o acordo que "compromete nossa soberania política e autonomia econômica".
Antonio Carlos Spis, secretário nacional de Comunicação da CUT, disse que a estratégia da CMS é pressionar o governo com propostas políticas e mobilizações de rua de modo a sensibilizar os governantes para a desnecessidade de renovação de acordo com o FMI.
Presente ao ato, o secretário sindical nacional do PCdoB, João Batista Lemos, lembrou que o manifesto ora entregue ao presidente da Câmara foi aprovado por todas as entidades que compõem a Coordenação dos Movimentos Sociais. Ele (o manifesto) "sinaliza para o governo que os movimentos sociais estão atentos para esse acordo do governo brasileiro com o FMI. Se prevalecer um acordo nos moldes do governo anterior será muito ruim para o Brasil, pois ele é lesivo ao país e ao povo brasileiro", destacou.
O presidente da União Brasileira de Estudantes Secundaristas (UBES), Marcelo Brito, conhecido no movimento como "Gavião" também estava no ato. Brito é soteropolitano e carrega este pitoresco apelido porque é um apaixonado torcedor do Corinthians. Ele disse ao Vermelho que neste seu primeiro ato político sob a presidência da entidade tem a convicção e está "provado que não é possível assinar um acordo com o FMI sem comprometer o crescimento da economia brasileira". "Gavião" também chamou a atenção para que o governo Lula altere a agenda econômica a fim de propiciar uma perspectiva de desenvolvimento do país.
As entidades
"O propósito do ato na Câmara não era mobilizar muita gente", disse o secretário de Comunicação da CUT. "Nosso objetivo, neste primeiro momento, é mobilizar as entidades que compõem a Coordenação dos Movimentos Sociais", lembrou Spis.
Estavam presentes no ato, a UBM, UNE, Ubes, CUT, CGT, Conam, CNTI, CNPL, Marcha Mundial de Mulheres, Central de Movimentos Populares e Pastoral Operária. Vários estudantes secundaristas, que fizeram uma performance representando o arrocho para o Brasil com a assinatura de acordo com o FMI, e vários militantes da UJS (União da Juventude Socialista) do Distrito Federal.
Plataforma comum
Durante o mês de agosto de 2003 foram realizados cinco encontros regionais em todo o país para lançar a Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS). Este espaço surgiu para dar resposta à necessidade de unificar as ações dos movimentos sociais no novo cenário político que vive o país após a vitória de Lula.
Definir uma plataforma política comum de propostas e organizar ações conjuntas, com o objetivo de fortalecer o campo das mudanças, do desenvolvimento e da valorização do trabalho. Estas são as premissas do CMS.
Participam da Coordenação diversas entidades do movimento social brasileiro, com destaque para o MST, a CUT, a UNE, a UBES, a Conam e a Pastoral Operária. O documento-base de lançamento da Coordenação foi discutido em encontros que percorreram as cinco regiões do país.
Os encontros também prepararam uma jornada nacional de mobilizações em setembro, em defesa do desenvolvimento, do trabalho e da soberania, cujos eixos são: soberania nacional, desenvolvimento, trabalho, distribuição de renda com inclusão social.
De Brasília,
Marcos Verlaine Diário Vermelho
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